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Taxas altas mostram desconfiança
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
Há duas leituras sobre por que as
taxas de juros são tão altas.
Em comum, ambas levam à conclusão de que há uma desconfiança
generalizada em relação à política
econômica. As divergências estão
na forma de combater o problema.
Pelo primeiro diagnóstico, os juros são altos porque há déficit público. Para gastar mais do que arrecada, o governo toma dinheiro emprestado. Isso aumenta a procura
por moeda, fazendo seu preço subir. O preço do dinheiro é o juro.
Quem empresta (bancos) desconfia da capacidade do devedor
(governo) de honrar suas dívidas.
Quanto maior a desconfiança,
mais juros cobra nos empréstimos.
Essa é a visão predominante na
equipe econômica do governo.
Na outra explicação, os juros são
altos porque há déficit externo. O
Brasil gasta mais do que recebe nas
suas transações com o exterior.
Isso acontece porque, para controlar a inflação, o Plano Real sobrevalorizou a moeda nacional em
relação ao dólar, tornando as importações mais baratas.
Com maior poder aquisitivo em
dólar, brasileiros passaram a comprar mais produtos estrangeiros e
a gastar mais em viagens.
Para não perder suas reservas em
dólar, o país é obrigado a pagar juros altos aos investidores estrangeiros e a tomar dinheiro emprestado. Quanto maior o déficit externo, mais juros precisam ser pagos.
Os que partilham dessa tese defendem medidas como restrição às
importações e às viagens internacionais, controle de remessas ao
exterior e desvalorização do real.
Para os defensores do primeiro
diagnóstico, o déficit externo é
uma decorrência do déficit público. Por esse raciocínio, o governo,
ao tomar dinheiro que deveria estar financiando investimentos privados, obriga a economia do país a
buscar dinheiro no exterior.
Para a outra corrente, é o déficit
externo que causa o déficit público. Mantendo juros altos para
atrair investidores, o governo é
obrigado a gastar excessivamente
com os encargos de sua dívida.
Quem defende a ênfase no combate ao desequilíbrio das contas do
governo argumenta que desvalorizar o real traria de volta a inflação,
elevando a desconfiança e provocando mais fuga de capitais.
Quem defende a ênfase no déficit
externo responde que cortar gastos e aumentar impostos sem solucionar a causa dos juros altos vai
provocar apenas recessão.
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