São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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Taxas altas mostram desconfiança

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

Há duas leituras sobre por que as taxas de juros são tão altas.
Em comum, ambas levam à conclusão de que há uma desconfiança generalizada em relação à política econômica. As divergências estão na forma de combater o problema.
Pelo primeiro diagnóstico, os juros são altos porque há déficit público. Para gastar mais do que arrecada, o governo toma dinheiro emprestado. Isso aumenta a procura por moeda, fazendo seu preço subir. O preço do dinheiro é o juro.
Quem empresta (bancos) desconfia da capacidade do devedor (governo) de honrar suas dívidas. Quanto maior a desconfiança, mais juros cobra nos empréstimos.
Essa é a visão predominante na equipe econômica do governo.
Na outra explicação, os juros são altos porque há déficit externo. O Brasil gasta mais do que recebe nas suas transações com o exterior.
Isso acontece porque, para controlar a inflação, o Plano Real sobrevalorizou a moeda nacional em relação ao dólar, tornando as importações mais baratas.
Com maior poder aquisitivo em dólar, brasileiros passaram a comprar mais produtos estrangeiros e a gastar mais em viagens.
Para não perder suas reservas em dólar, o país é obrigado a pagar juros altos aos investidores estrangeiros e a tomar dinheiro emprestado. Quanto maior o déficit externo, mais juros precisam ser pagos.
Os que partilham dessa tese defendem medidas como restrição às importações e às viagens internacionais, controle de remessas ao exterior e desvalorização do real.
Para os defensores do primeiro diagnóstico, o déficit externo é uma decorrência do déficit público. Por esse raciocínio, o governo, ao tomar dinheiro que deveria estar financiando investimentos privados, obriga a economia do país a buscar dinheiro no exterior.
Para a outra corrente, é o déficit externo que causa o déficit público. Mantendo juros altos para atrair investidores, o governo é obrigado a gastar excessivamente com os encargos de sua dívida.
Quem defende a ênfase no combate ao desequilíbrio das contas do governo argumenta que desvalorizar o real traria de volta a inflação, elevando a desconfiança e provocando mais fuga de capitais.
Quem defende a ênfase no déficit externo responde que cortar gastos e aumentar impostos sem solucionar a causa dos juros altos vai provocar apenas recessão.



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