|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RAIO-X FINANCEIRO
De 99 a 2001, a poupança dos bancos cresceu 202% e a das famílias caiu 28,5%, segundo as Contas Nacionais
Famílias devem, bancos ganham, diz IBGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Os bancos e instituições financeiras aumentaram seus ganhos e
seu peso no PIB (Produto Interno
Bruto) em 2001, enquanto as famílias ficaram mais endividadas e
com uma poupança menor. É o
que mostra a pesquisa de Contas
Nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
no período de 1999 a 2001.
Segundo o IBGE divulgou ontem, a poupança das famílias caiu
de R$ 79,26 bilhões em 1999 para
R$ 56,66 bilhões em 2001 -retração de 28,5%. Já a dos bancos
cresceu de R$ 6,78 bilhões para R$
20,49 bilhões -alta de 202%.
Para Eduardo Nunes, gerente
do Departamento de Contas Nacionais do IBGE, aumento de juros, de spreads bancários (diferença entre a quanto captam e a
quanto emprestam), a valorização do câmbio e a menor oferta de
financiamentos explicam o fato
de os bancos terem aumentado a
poupança.
"Só o setor financeiro, em 2001,
teve capacidade de se financiar e
sua taxa de poupança subiu. Se alguém ganha, outros têm de perder", disse.
Em 2001, o nível de endividamento das famílias (medido pela
necessidade de financiamento)
cresceu, atingindo R$ 15,88 bilhões. Trata-se de uma inversão
em relação a 1999, quando as famílias tinham uma capacidade de
financiamento (sobra de recursos) de R$ 20,9 bilhões.
Em 2001, só as empresas financeiras (bancos, seguradoras e fundos de pensão) tiveram capacidade de financiar, com R$ 26,1 bilhões disponíveis. Em 1999, eram
R$ 4,86 bilhões.
Os bancos também lucraram
em 2001 com a alta do dólar: aumentaram o percentual de seus títulos atrelados à moeda -que subiu quase 30% naquele ano- de
22,3% em dezembro de 2000 para
28,6% em dezembro de 2001.
"Em 2001, a renda caiu, o emprego se manteve estável, as despesas com consumo e investimentos cresceram [sob impacto
do dólar e dos juros". Com isso tudo, o nível de endividamento
cresceu e a poupança das famílias
caiu", disse Nunes.
O consumo familiar teve uma
pequena expansão em 2001: 0,7%
ante 2000. Os motivos, segundo o
IBGE, mais uma vez são juros altos e renda em queda.
No conceito de famílias do IBGE, estão agrupadas não só as
consumidoras como as produtoras também. Com isso, estão incluídas a maior parte do setor
agropecuário e microempresas.
Com uma poupança maior, o
peso relativo das empresas financeiras no PIB subiu: era de 5,99%
em 1999, caiu para 5,18% em 2000
e voltou a crescer para 6,23% em
2001. Já a participação das famílias recuou de 34,36% em 1999 para 31,71% em 2001. Em 2000, fora
32,15%.
Não só as famílias perderam em
2001. Os juros elevados e o câmbio alto prejudicaram também as
empresas do setor produtivo. Porém a sua participação no PIB subiu de 48,27% em 99 para 50,93%.
O endividamento das empresas
não-financeiras também aumentou: ficou em R$ 20,47 bilhões,
contra R$ 8,68 bilhões em 2000.
Em 2001, o PIB cresceu 1,42%,
chegando a um valor total de R$
1,2 trilhão. Em 2001, o Brasil remeteu R$ 46,69 bilhões para o exterior sob forma, principalmente,
de pagamento de juros e dividendos. O dinheiro na maioria das
vezes é enviado por multinacionais para suas sedes, segundo o
IBGE. Do resto do mundo, o Brasil recebeu R$ 219 milhões em dividendos.
Texto Anterior: Painel S/A Próximo Texto: Frase Índice
|