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VAREJO
Para analistas, empresário não deixará de "dar ordens" no Pão de Açúcar
Nova gestão pede Abilio "controlado"
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não acredito em companhias
familiares, com tios, sobrinhos,
primos zanzando pelos corredores. Por isso deixo a presidência. E
não vou mais dar ordens." A frase, dita ontem por Abilio dos Santos Diniz, que em março de 2003
abandona a presidência do grupo
Pão de Açúcar, após nove anos,
reflete o atual momento da empresa. A rede de varejo inicia agora uma profunda reestruturação
administrativa.
Analistas, porém, não acreditam que Abilio deixará de "dar ordens". Nos bastidores, comenta-se que as mudanças foram alvo de
divergências. "O maior desafio
desse novo modelo de gestão,
com Abilio fora da direção, é ele
se controlar", diz Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Consultoria. "Ele tem voz, opinião. Então,
de um dia para outro, ele deixa de
decidir certos assuntos?", diz.
"Vai ser difícil ele se afastar assim", diz Antonio Ascar, da Ascar
& Associados. "Continuarei indo
trabalhar todos os dias, mas sem a
função anterior. Afinal, sem modéstia, sou a pessoa que mais entende de varejo no mundo", afirmou ontem o executivo.
Conforme a Folha antecipou, a
rede anunciou ontem uma das
mais amplas reestruturações administrativas de sua história. A
partir de março, o executivo de 65
anos será o presidente do conselho de administração do grupo e
presidente de um comitê executivo, que deve aprovar investimentos e o orçamento. Augusto Marques da Cruz, vice-presidente financeiro, será o presidente do
grupo Pão de Açúcar.
Ana Maria Diniz, a filha de Abílio, pedirá demissão da empresa e
abandonará o cargo de vice-presidente de operações. Deixa de cuidar da área de relações públicas e,
numa mudança drástica, passa a
ser a presidente do comitê de finanças, também ligado ao conselho de administração. Não ocupará mais a mesa que tinha ao lado
do pai, no escritório da loja.
Diz que "foi uma das mais afetadas" com as medidas, que está
"muito triste" e, após 12 anos na
rede, irá fazer parte de um novo
projeto em uma companhia americana. Meses atrás, rumores
apontavam divergências internas
no grupo, como consequência da
reestruturação.
Teria sido oferecido a Ana Maria a chance de ocupar a vaga de
presidente. Mas ela não aceitou,
segundo a Folha apurou.
Na avaliação dela, a possibilidade de permanecer na empresa impediria que a cadeia fosse administrada só por profissionais. Ontem, ela disse que, "na família, somos muito espaçosos, e eles [os
executivos" precisam de espaço
para trabalhar". Com a entrada de
Augusto Marques na presidência
da rede, serão contratados dois
profissionais para ocupar a sua
vaga na vice-presidência.
A rede ainda criou, ao lado do
comitê de finanças e do comitê
executivo, um comitê de auditoria -para reavaliar os relatórios
de auditoria em seus balanços.
João Paulo, filho de Abilio, ficará
no comitê de marketing "que deve preservar o DNA da família Diniz no grupo", diz Abílio.
Tudo feito com uma meta: deixar o grupo mais transparente,
aos olhos do mercado, para atrair
investidores.
Esse modelo de vários conselhos dentro do conselho de administração -que atuará de forma
mais ativa- faz parte do conceito
de "governança corporativa". Algo adotado no exterior e bem visto no mercado. Isso porque o presidente do conselho (que apóia ou
não as medidas da direção) deixa
de ser o presidente da empresa.
Não há choques entre as funções.
Casino fora da jogada
Com a mudança, a empresa fica
afinada para dar um próximo
passo. Em agosto, o Casino -rede francesa dona de 25,5% do Pão
de Açúcar- tem o direito, previsto em contrato, de comprar mais
8% das ações da empresa. E, em
agosto de 2004, mais 8%. Com isso, mais dinheiro será injetado na
companhia. Essa opção só será
executada se o Casino se interessar pelo negócio. Com a empresa
administrada de forma ajustada,
isso pode acontecer.
Não existe a possibilidade de o
Casino vender os 25% de participação pra outras redes, como era
especulado. Está definido, em
contrato, que a cadeia francesa está impedida de vender sua parte, e
isso por tempo indeterminado.
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