São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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análise

Ação pode ajudar mais na política do que na economia

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tudo somado e arredondado para cima, o impacto do pacote de alívio tributário equivale a 0,8% da carga nacional de impostos e a 0,5% do consumo das famílias -na hipótese pouco provável de o dinheiro ser integralmente direcionado à compra de bens e serviços.
O mesmo governo já havia acenado com medidas mais ousadas neste mesmo ano. A redução da contribuição previdenciária patronal, incluída na proposta de reforma tributária, significaria uma renúncia fiscal de R$ 24 bilhões anuais. Prometida desde o primeiro ano do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a desoneração da folha de salários pode ser feita por uma simples medida provisória.
A cada iniciativa semanal com objetivo declarado de estimular a economia, fica mais aparente uma espécie de esquizofrenia da agenda de reação à crise internacional: as grandes variáveis capazes de influenciar decisivamente a atividade econômica, os juros e as metas de aperto fiscal, permanecem inalteradas -apenas pararam de subir.
Na parte dos manuais de economia que mais agrada aos críticos da teoria convencional, uma recessão deve ser evitada ou combatida por meio da queda dos juros e do aumento do déficit do governo, com redução dos impostos e aumento dos gastos. Como mostrou o economista britânico John Maynard Keynes em plena depressão da década de 1930, dessa forma se reativam o consumo e os investimentos.
Os herdeiros do pensamento keynesiano instalados na equipe econômica demonstram conhecer na prática os limites do que anunciam como "política anticíclica", ou seja, de sentido contrário à tendência de desaceleração da economia.
Mesmo com previsões cada vez mais pessimistas para 2009, a margem para o corte dos juros segue estreita. A disparada do dólar inspira cuidados com a inflação, a eterna preocupação dos ortodoxos, e um eventual aquecimento do consumo pode elevar ainda mais o déficit nas transações com o exterior, temor recorrente dos heterodoxos.
Tampouco há cenário encorajador para menos impostos. A arrecadação sofrerá os efeitos da inevitável desaceleração, e os gastos adicionais com o novo salário mínimo e os reajustes concedidos ao funcionalismo já estão contratados. A promessa de preservar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) pouco significa, porque ele mal consegue gastar metade de seu orçamento.
Resta ao governo transmitir otimismo, mostrar iniciativa, produzir expectativas mais favoráveis, não ser acusado de omissão.
Há resultados a colher, senão na economia presente, na política futura.


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