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Brasil já culpa Obama por atraso em Doha
Democratas pediram a Bush que não retome a Rodada; Amorim critica "exigências excessivas" dos EUA
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O Brasil jogou no governo
eleito dos Estados Unidos a responsabilidade pelo iminente
fracasso de mais uma tentativa
de concluir a Rodada Doha de
abertura comercial. Para o
chanceler brasileiro, Celso
Amorim, o que falta para viabilizar uma negociação final nos
próximos dias é um sinal positivo de Barack Obama.
A barganha em torno de um
acordo global de comércio ganhou novo impulso na cúpula
do G20, no mês passado, quando os líderes pediram um esforço urgente para chegar a um
entendimento sobre os principais temas até o fim do ano.
Mas o que deveria ser o primeiro passo no combate à crise
financeira está derrapando na
intransigência americana, disse Amorim, que se reuniu ontem com o diretor-geral da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), Pascal Lamy.
"Isso provavelmente não
ocorrerá, a não ser que tenhamos um sinal da próxima administração (americana)", disse
Amorim. Para ele, a transição
presidencial nos EUA não deveria bloquear as negociações.
"Neste momento, os líderes
precisam mostrar que são líderes. Não podem se esconder por
trás de formalidades", disse
Amorim, referindo-se ao argumento de Obama de que há um
presidente de cada vez.
O Brasil e outros países em
desenvolvimento têm atribuído às "demandas excessivas"
feitas pelos EUA a impossibilidade de retomar a negociação
em nível ministerial. Entre
elas, a que mais incomoda o Itamaraty é que Brasil, Índia e
China se comprometam em zerar ou reduzir drasticamente as
tarifas de setores-chave da indústria, como o automotivo, o
eletrônico e o químico.
Os chamados "acordos setoriais" já haviam sido aceitos na
fracassada reunião ministerial
de julho, mas em caráter voluntário. Agora, pressionada pela
recessão e buscando oferecer
mais benefícios à indústria
americana, a Casa Branca exige
que pelo menos alguns desses
acordos seja obrigatório.
Há poucos dias, lideranças do
partido de Obama nas duas casas do Congresso americano
mandaram um carta ao presidente Bush desaconselhando a
retomada da negociação.
"É irônico que algumas das
exigências excessivas partam
precisamente do lugar onde a
crise teve origem", criticou
Amorim.
Inicialmente, o plano da
OMC era convocar a reunião
entre os principais atores do
comércio mundial para amanhã. Diante do impasse, Lamy
adiou a intenção para o dia 17.
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