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Setor privado prevê calote recorde
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor privado provisionou
(classificou como perda) um
montante recorde de recursos em
2002. Ao agir dessa forma, as empresas deixam claro certa desconfiança para 2003. Isso porque as
companhias só provisionam recursos que acreditam que não vão
receber -seja do Fisco, em disputas judiciais, ou de seus devedores- nos meses seguintes.
Em setembro de 2002, as companhias abertas (com ação em
Bolsa) tinham provisionado R$
1,7 bilhão, informa levantamento
da Economática feito a pedido da
Folha. Em dezembro, esse volume pode chegar a R$ 3,7 bilhões,
caso a evolução das perdas siga a
expansão dos anos anteriores.
Em dezembro de 1999, 2000 e
2001, o volume provisionado das
empresas sofreu um aumento de
220% sobre o verificado até setembro. Isso ocorre porque, nos
últimos meses do ano, as companhias fecham o balanço anual e
"jogam" no balancete vários papagaios que não haviam sido contabilizados até então.
Com isso, se atingir os R$ 3,7 bilhões, o volume será superior ao
de dezembro de 2001 (R$ 3 bilhões), o de 2000 (R$ 2,5 bilhões) e
o de 1999 (R$ 2,4 bilhões).
Se compararmos os números já
consolidados pelas empresas (até
setembro) o recorde já foi batido
em 2002. A provisão de R$ 1,7 bilhão é maior do que a verificada
nos mesmos meses dos anos anteriores, até 1999.
Os dados computados antes de
1999 não são confiáveis. Isso porque a base de empresas analisadas
é diferente. Foi a partir de 1999
que as companhias de telefonia
entraram na lista de empresas
com ações em Bolsa, e como elas
têm provisionado grandes volumes, torna-se ideal utilizar os números após esse ano.
Lucro comprometido
A provisão sobe se a empresa
percebe que pode tomar calote.
Isso porque toda vez que uma
companhia não está certa da entrada de recursos -provenientes
de uma operação de venda de
produtos, por exemplo- ela precisa computar esse volume no balanço como "provisão para devedores duvidosos".
Quanto maior a provisão, menor o lucro das empresas. A equação é direta. Se tivessem recebido
os R$ 1,7 bilhão declarados como
perda em setembro de 2002, o lucro das companhias inflaria em
R$ 1,7 bilhão. Nesse levantamento
é levado em conta o resultado das
mesmas 54 companhias que apresentaram os números em todos os
anos analisados pela pesquisa (de
1999 a 2002). Os bancos não fazem parte do trabalho.
Entre as empresas com maiores
provisões estão Eletropaulo, Cerj,
Brasil Telecom e Petrobras.
Companhias com política conservadora "jogam" como provisão qualquer valor que acham que
não vão receber. Mas nem todas
agem assim. Como é a própria
companhia que define o valor
provisionado, ela pode classificar
como perda um volume discreto,
ainda que saiba que a possibilidade de ver a cor do dinheiro seja
pequena.
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