São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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Setor privado prevê calote recorde

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor privado provisionou (classificou como perda) um montante recorde de recursos em 2002. Ao agir dessa forma, as empresas deixam claro certa desconfiança para 2003. Isso porque as companhias só provisionam recursos que acreditam que não vão receber -seja do Fisco, em disputas judiciais, ou de seus devedores- nos meses seguintes.
Em setembro de 2002, as companhias abertas (com ação em Bolsa) tinham provisionado R$ 1,7 bilhão, informa levantamento da Economática feito a pedido da Folha. Em dezembro, esse volume pode chegar a R$ 3,7 bilhões, caso a evolução das perdas siga a expansão dos anos anteriores.
Em dezembro de 1999, 2000 e 2001, o volume provisionado das empresas sofreu um aumento de 220% sobre o verificado até setembro. Isso ocorre porque, nos últimos meses do ano, as companhias fecham o balanço anual e "jogam" no balancete vários papagaios que não haviam sido contabilizados até então.
Com isso, se atingir os R$ 3,7 bilhões, o volume será superior ao de dezembro de 2001 (R$ 3 bilhões), o de 2000 (R$ 2,5 bilhões) e o de 1999 (R$ 2,4 bilhões).
Se compararmos os números já consolidados pelas empresas (até setembro) o recorde já foi batido em 2002. A provisão de R$ 1,7 bilhão é maior do que a verificada nos mesmos meses dos anos anteriores, até 1999.
Os dados computados antes de 1999 não são confiáveis. Isso porque a base de empresas analisadas é diferente. Foi a partir de 1999 que as companhias de telefonia entraram na lista de empresas com ações em Bolsa, e como elas têm provisionado grandes volumes, torna-se ideal utilizar os números após esse ano.

Lucro comprometido
A provisão sobe se a empresa percebe que pode tomar calote. Isso porque toda vez que uma companhia não está certa da entrada de recursos -provenientes de uma operação de venda de produtos, por exemplo- ela precisa computar esse volume no balanço como "provisão para devedores duvidosos".
Quanto maior a provisão, menor o lucro das empresas. A equação é direta. Se tivessem recebido os R$ 1,7 bilhão declarados como perda em setembro de 2002, o lucro das companhias inflaria em R$ 1,7 bilhão. Nesse levantamento é levado em conta o resultado das mesmas 54 companhias que apresentaram os números em todos os anos analisados pela pesquisa (de 1999 a 2002). Os bancos não fazem parte do trabalho.
Entre as empresas com maiores provisões estão Eletropaulo, Cerj, Brasil Telecom e Petrobras.
Companhias com política conservadora "jogam" como provisão qualquer valor que acham que não vão receber. Mas nem todas agem assim. Como é a própria companhia que define o valor provisionado, ela pode classificar como perda um volume discreto, ainda que saiba que a possibilidade de ver a cor do dinheiro seja pequena.



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