São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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Credor quer desapropriar fábrica

ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO

As 11 cooperativas produtoras de leite do Estado do Rio querem que o governo federal desaproprie a fábrica da Parmalat em Itaperuna (a 356 km do Rio), caso a empresa não pague até a próxima sexta-feira R$ 6,6 milhões que deve pelo fornecimento já realizado.
Na quinta-feira passada, o presidente da subsidiária brasileira da Parmalat, Ricardo Gonçalves, prometeu ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, quitar a dívida na próxima sexta-feira.
A crise da Parmalat na Itália, após a descoberta de uma fraude contábil, acabou recaindo sobre os pequenos produtores da região de Itaperuna, cuja renda depende unicamente da empresa.
Dados da Faerj (Federação de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro) mostram que 80% dos produtores das 11 cooperativas são de pequeno porte e recebem menos de dois salários mínimos ao mês.
Embora participem com cerca de 25% da produção comprada pela fábrica da Parmalat de Itaperuna, os pequenos produtores correspondem a 12 mil do total de 14 mil ligados às cooperativas.
A atividade envolve, além do produtor cooperativado, dois ou três membros da família. Segundo a Faerj, a produção de leite emprega, direta ou indiretamente, cerca de 42 mil pessoas na região, sendo que mais de 70% são donos das propriedades rurais em que vivem e não têm outra opção de trabalho.
"A situação é mais desastrosa porque a produção é exclusiva para a Parmalat. No momento, não há ninguém que possa comprar os 350 mil litros diários", disse Rodolfo Tavares, presidente da Faerj, acrescentando que, mesmo sem receber, os produtores continuam a fornecer leite à Parmalat.
Tavares diz que o governo pode intervir e desapropriar a fábrica de Itaperuna com base numa legislação que protege os créditos dos produtores rurais, o decreto-lei 167, de 14 de fevereiro de 1967. "O próprio governo italiano não teve dúvida em intervir na empresa", disse.
"No momento em que a Parmalat ficar inadimplente e ficar estabelecido um quadro de caos social, só caberá ao Estado desapropriar", disse. Sua intenção é a de que, após a desapropriação, os pequenos produtores possam adquirir a fábrica, pagando ao governo com a produção de leite.
A Parmalat deve às cooperativas fluminenses R$ 1,6 milhão referente ao fornecimento de leite realizado na segunda quinzena de novembro e R$ 2,5 milhões que deveriam ter sido pagos na segunda-feira passada. Outros R$ 2,5 milhões vencem na próxima quinta-feira.
Do total de 1,2 bilhão de litros comprados pela multinacional no Brasil em 2003- o correspondente a 5% do mercado- apenas 96 milhões de litros vieram da fábrica de Itaperuna.


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