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Credor quer desapropriar fábrica
ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO
As 11 cooperativas produtoras
de leite do Estado do Rio querem
que o governo federal desaproprie a fábrica da Parmalat em Itaperuna (a 356 km do Rio), caso a
empresa não pague até a próxima
sexta-feira R$ 6,6 milhões que deve pelo fornecimento já realizado.
Na quinta-feira passada, o presidente da subsidiária brasileira
da Parmalat, Ricardo Gonçalves,
prometeu ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, quitar a
dívida na próxima sexta-feira.
A crise da Parmalat na Itália,
após a descoberta de uma fraude
contábil, acabou recaindo sobre
os pequenos produtores da região
de Itaperuna, cuja renda depende
unicamente da empresa.
Dados da Faerj (Federação de
Agricultura do Estado do Rio de
Janeiro) mostram que 80% dos
produtores das 11 cooperativas
são de pequeno porte e recebem
menos de dois salários mínimos
ao mês.
Embora participem com cerca
de 25% da produção comprada
pela fábrica da Parmalat de Itaperuna, os pequenos produtores
correspondem a 12 mil do total de
14 mil ligados às cooperativas.
A atividade envolve, além do
produtor cooperativado, dois ou
três membros da família. Segundo a Faerj, a produção de leite emprega, direta ou indiretamente,
cerca de 42 mil pessoas na região,
sendo que mais de 70% são donos
das propriedades rurais em que
vivem e não têm outra opção de
trabalho.
"A situação é mais desastrosa
porque a produção é exclusiva para a Parmalat. No momento, não
há ninguém que possa comprar
os 350 mil litros diários", disse
Rodolfo Tavares, presidente da
Faerj, acrescentando que, mesmo
sem receber, os produtores continuam a fornecer leite à Parmalat.
Tavares diz que o governo pode
intervir e desapropriar a fábrica
de Itaperuna com base numa legislação que protege os créditos
dos produtores rurais, o decreto-lei 167, de 14 de fevereiro de 1967.
"O próprio governo italiano não
teve dúvida em intervir na empresa", disse.
"No momento em que a Parmalat ficar inadimplente e ficar estabelecido um quadro de caos social, só caberá ao Estado desapropriar", disse. Sua intenção é a de
que, após a desapropriação, os pequenos produtores possam adquirir a fábrica, pagando ao governo com a produção de leite.
A Parmalat deve às cooperativas
fluminenses R$ 1,6 milhão referente ao fornecimento de leite
realizado na segunda quinzena de
novembro e R$ 2,5 milhões que
deveriam ter sido pagos na segunda-feira passada. Outros R$ 2,5
milhões vencem na próxima
quinta-feira.
Do total de 1,2 bilhão de litros
comprados pela multinacional no
Brasil em 2003- o correspondente a 5% do mercado- apenas
96 milhões de litros vieram da fábrica de Itaperuna.
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