São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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LAVOURA DOENTE

Clima mais ameno favoreceu o desenvolvimento do fungo causador da doença, que já atinge oito Estados

Ferrugem da soja vem mais cedo e preocupa

FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO

Responsável por perdas de mais de US$ 1 bilhão nas últimas duas safras de soja, a ferrugem asiática apareceu mais cedo na safra 2003/2004, levando a Embrapa-Soja (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a lançar alerta para que os produtores fiquem atentos ao surgimento dos sinais da doença. A soja foi o principal produto exportado pelo Brasil em 2003. Os climas mais amenos do final do ano passado e do início deste ano favoreceram o desenvolvimento do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem, informa o fitopatologista Ademir Henning, pesquisador da Embrapa-Soja.
Já há relato de aparecimento da doença em oito Estados nesta safra (veja quadro). "O agricultor deve ficar alerta, fazer um monitoramento constante em sua lavoura e conversar com os vizinhos, para saber se a doença já está em sua região", disse Henning.
Isso porque o fungo se propaga pelo vento e, se ele já apareceu na região, é muito fácil ele ser transmitido a lavouras próximas.
A ocorrência de muitas chuvas ou mesmo o orvalho aliado a temperaturas mais baixas -entre 17C e 23C- são os principais fatores que favorecem o desenvolvimento do fungo.
Já em novembro do ano passado houve os primeiros registros de lavouras contaminadas, em Goiás e Mato Grosso. Na safra 2002/2003, os primeiros casos foram notificados em janeiro.
Esse aparecimento mais cedo acabou pegando as plantas ainda no estado vegetativo, cerca de 25 dias após a germinação, informa a Embrapa-Soja. E, quanto mais cedo aparece, mais danos a doença causa à planta.
Normalmente, a ferrugem, ao prejudicar a folha da soja, afeta a fotossíntese da planta, faz as folhas caírem e os grãos perderem peso. Na safra passada, o foco mais importante foi encontrado na Bahia, onde houve quebra de 25% da safra, com redução de 510 mil toneladas em relação ao que teria sido colhido sem o ataque do fungo. Isso levou até um pesquisador norte-americano ao Estado, causando suspeita de espionagem (leia texto nesta página).
Segundo o pesquisador José Tadashi Yorinori, da Embrapa-Soja, a variável transgênica que está sendo plantada neste ano no país, com autorização do governo, não é imune à contaminação pelo fungo da ferrugem. "Em tese, nenhuma variável plantada hoje no país é resistente ao fungo."

Estados
Em Goiás, onde há a maior incidência de ferrugem registrada até o momento, a Secretaria da Agricultura local organizou na sexta-feira um seminário técnico sobre a doença e prepara uma campanha de alerta sobre o problema nos principais municípios produtores do Estado.
Em São Paulo, a Secretaria da Agricultura informa que serão coletadas amostras de soja na região de Cândido Mota para serem analisadas em laboratório oficial e confirmar a contaminação ou não. Já em Mato Grosso, a secretaria informa que, como a soja é plantada no Estado em sua maioria por grandes produtores e o governo estadual foca sua estratégia de assistência técnica nos pequenos agricultores, ainda não há previsão de nenhum programa especial de prevenção, mas essa orientação pode ser mudada conforme a gravidade do problema.


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