São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Brasil ganha 60 mil novos milionários

Total de brasileiros com mais de US$ 1 milhão aplicado cresce 46% e chega a 190 mil em 2007; fortuna atrai bancos de investimento

Recorde da Bolsa, abertura de capital, aquisições, investimentos estrangeiros diretos e valorização do real explicam crescimento

JULIO WIZIACK
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com R$ 20 mil, os irmãos Fábio, 31, e Fernando Cunha, 35, montaram, há quatro anos, a Clube de Estilo, uma empresa que aproxima estilistas de lojistas. Toda vez que um negócio é fechado entre eles, os irmãos ganham um percentual.
Em 2007, a dupla movimentou R$ 4 milhões e, se quisesse vender a empresa, com sede no bairro dos Jardins, área nobre de São Paulo, não embolsaria menos de R$ 2 milhões.
Os irmãos Cunha são um exemplo de brasileiros que viram o patrimônio ultrapassar rapidamente a casa dos seis dígitos nos últimos anos devido a uma combinação de fatores: faro para os negócios, bom desempenho da economia brasileira e alta rentabilidade oferecida pelo mercado financeiro.
Em um ano, o Brasil elevou o número de milionários em 60 mil, segundo levantamento do BCG (The Boston Consulting Group). No ano passado, havia 190 mil milionários no país. Em 2006, eles eram 130 mil -expansão de 46,1%.
A fortuna desses milionários está estimada em aproximadamente US$ 675 bilhões, o que equivale a praticamente metade do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Para o BCG, milionários são aqueles que têm mais de US$ 1 milhão aplicado no mercado financeiro.
André Xavier, sócio-diretor do BCG no Brasil, diz que, para identificá-los, os especialistas entrevistaram gestores de fortunas de 111 instituições financeiras em 60 países. Foi a primeira vez que uma equipe veio pessoalmente ao Brasil para fazer o levantamento.
"A concentração de riqueza no país é um fenômeno que está chamando a atenção dos bancos e dos gestores do mundo", diz Xavier, que monitora o comportamento dos endinheirados há cerca de sete anos.

Economia em alta
Vários fatores explicam a explosão do grupo dos milionários no Brasil. Apenas em 2007, 64 empresas abriram o capital na Bovespa, que bateu o recorde de R$ 4,9 bilhões negociados diariamente. "O Ibovespa foi o índice que, no mundo, mais rentabilidade ofereceu aos investidores", afirma Xavier.
De acordo com Eduardo Oliveira, diretor do departamento de gestão de fortunas do UBS Pactual, a abertura de capital tem um efeito multiplicador que pesa bastante na geração de riqueza dos empresários. "É como vender um apartamento adquirido por R$ 100 mil cujo valor de mercado é o dobro."
Outros motivo para o crescimento do total de milionários no Brasil são a valorização do real e os investimentos estrangeiros diretos, que, segundo Lywall Salles, diretor-executivo do "private" do Itaú, chegaram a US$ 87 bilhões em 2007.
O bom momento da construção civil, o fortalecimento do agronegócio no Centro-Oeste e os negócios relacionados à produção de álcool, na região Sudeste, também fizeram novos milionários, segundo os bancos de investimentos consultados.
Além disso, cresceu o time de executivos brasileiros em companhias estrangeiras recebendo parte dos salários em ações da empresa. "Por si só, o rendimento desses papéis já virou um patrimônio considerável", afirma Alexandre Xandó, sócio da Verax Serviços Financeiros, que administra fortunas que somam R$ 330 milhões.
"Em geral, esses executivos têm um perfil mais agressivo, aplicam em ações e conseguem multiplicar seus recursos rapidamente", afirma.
Nos últimos anos, Xandó diz ter aumentado a quantidade de jovens e de mulheres que delegam a administração de suas fortunas a gestores independentes ou ligados a bancos.
"Vemos ainda mais famílias planejando a divisão de seu patrimônio entre os herdeiros." A presença desses milionários acirra as disputas dos bancos por esses clientes e faz aumentar as vendas de marcas de luxo. Resultado: uma nova onda de grifes se anuncia e as que já operam no país estão mudando seu modelo de negócio, cada vez mais lucrativo.


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