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Passagem comprada no Brasil custa mais, diz Anac
Bilhete internacional adquirido no país pode custar até 66% mais que no exterior
Agência tenta implantar proposta de liberalização gradual das tarifas em voos para o exterior; sindicato das empresas
contesta
JANAINA LAGE
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Um levantamento realizado
pela Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) mostra que a
compra de bilhetes para o exterior pode custar até 66% mais
no Brasil do que se a passagem
fosse comprada no exterior. O
percurso São Paulo-Nova
York-SP pela American Airlines custa US$ 972 no Brasil. Já
o bilhete Nova York-SP-Nova
York sai por US$ 584, de acordo
com a coleta que inclui exemplos também de TAM, Air
France e British Airways.
A pesquisa faz parte dos estudos técnicos elaborados pela
agência sobre liberdade tarifária. Estava previsto para o dia 1º
de janeiro o início de um processo de flexibilização de tarifas que resultaria na liberdade
total de preços a partir de 2010.
O Snea (Sindicato Nacional
das Empresas Aeroviárias)
questionou na Justiça o fato de
a agência não ter realizado uma
audiência pública, e o início das
promoções foi suspenso. Três
empresas aéreas já estavam
com descontos prontos para
serem aplicados no início deste
ano, mas foram forçadas a engavetá-los.
Para Paulo Bittencourt Sampaio, consultor em aviação, as
empresas temem a adoção do
padrão internacional de preços
no país. "Essa diferença de preços é antiga e representa o protecionismo da empresa nacional. Vale mais a pena comprar
lá fora. O brasileiro é um prejudicado na hora de viajar de
avião", afirma.
Atualmente, o preço dos bilhetes vendidos no Brasil respeita um piso definido pela
Anac para cada destino. Um
voo de ida e volta para os EUA,
por exemplo, deve custar no
mínimo US$ 708. O voo SP-Miami-SP custa US$ 1.118 pela
TAM. O percurso Miami-SP-Miami sai por US$ 750 na mesma companhia.
Segundo Marcelo Guaranys,
diretor da Anac, as empresas
brasileiras já têm vantagens na
competição com as estrangeiras. "A medida vai causar uma
choradeira, mas as empresas
têm tratamento diferenciado
no Brasil. Elas ganham pela conectividade. Um passageiro pode vir da Europa para o Brasil e
seguir pela mesma empresa para outros destinos no país. As
estrangeiras precisam fazer
acordos para distribuir os passageiros", afirma.
Liberalização
A agência argumenta ainda
que o mercado doméstico representa a maior parte do faturamento das companhias nacionais. A proporção dos voos
domésticos é de 70% no caso da
TAM e de 90% para a Gol, segundo a agência.
O Brasil já conta com liberdade tarifária em voos para a
América do Sul. Segundo Ronaldo Serôa da Motta, diretor
da Anac, o impacto da liberalização em voos intercontinentais será maior. Além disso, o
cenário de desaceleração da
economia deve contribuir para
levar as tarifas para baixo. "É
natural que, quando acabar a
estação de pico, em particular
num ano em que vai haver redução de demanda, as empresas se tornem mais agressivas",
afirma Motta.
Para o especialista em aviação André Castellini, da consultoria Bain & Company, a medida será boa para o consumidor
no curto prazo, mas ruim no
longo prazo. Segundo ele, a liberação tarifária pode levar ao
sucateamento das empresas
nacionais. "Tenho medo que
aconteça o que ocorreu na Argentina, onde a indústria local
deixou de existir. A Aerolíneas
foi comprada por um grupo espanhol que tinha interesse secundário no mercado e não investiu na companhia."
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