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MERCADO TENSO
Resultados de janeiro ficam abaixo dos esperados pelo governo; ajuste fiscal atrasa e saída de dólares cresce
Acordo com o FMI terá de rever metas
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília
O cenário econômico nos dez
primeiros dias de janeiro foi pior
do que o esperado pelo governo. O
quadro atual deve levar a equipe
econômica a rever algumas das
metas do acordo assinado com o
FMI (Fundo Monetário Internacional) e que permitiu ao país obter US$ 41,5 bilhões em recursos
estrangeiros.
Dois fatores contribuíram para a
deterioração do atual cenário:
atraso na aprovação do programa
de ajuste fiscal e fuga de recursos
estrangeiros do país.
A Folha apurou que a área econômica esperava mais rapidez na
aprovação do programa de ajuste
fiscal proposto até o ano 2001. O
ajuste é considerado fundamental
para reverter as expectativas negativas em relação ao Brasil e, dessa
maneira, atrair recursos externos.
O FMI, por meio de um porta-voz, disse que não fará comentários sobre a situação interna brasileira. O Fundo reafirmou sua confiança na capacidade do governo
de cumprir os acordos.
A revisão das metas com o FMI
só deverá ser feita depois que o
ajuste fiscal estiver aprovado pelo
Congresso Nacional. Duas das medidas mais importantes -cobrança de contribuição dos servidores
aposentados e prorrogação da
CPMF, o imposto dos cheques-
não devem ser aprovadas antes de
março.
Com o programa fiscal aprovado, o governo brasileiro terá mais
condições de rediscutir as metas.
A grande dúvida do mercado é se
há tempo para aguardar a aprovação dessas medidas no Congresso.
A manutenção da fuga de dólares, aliada à redução do ingresso de
recursos externos, expôs novamente os problemas do país na
área externa. Além disso, a moratória de 90 dias decretada pelo governador de Minas Gerais, Itamar
Franco (PMDB), gerou dúvidas sobre a capacidade de o país ajustar
suas contas.
As dificuldades na área fiscal e a
fuga de dólares também contribuíram para diminuir o espaço para a
redução das taxas de juros básicos
da economia. Isto é, os juros não
deverão cair na velocidade prevista. Hoje em aproximadamente
29% ao ano, eles deverão continuar caindo gradualmente.
Os juros elevados, por sua vez,
aumentam o custo da dívida pública e geram atritos com empresários e políticos que querem medidas para incentivar o setor produtivo -o que implica reduzir as taxas de juros, medida que pode aumentar a saída de recursos estrangeiros do país devido à perda de
rendimentos nas aplicações.
Nesse cenário, as dificuldades
dos governos estaduais para pagarem suas dívidas com a União aumentam as incertezas sobre o
cumprimento da parte do ajuste
fiscal que cabe aos governadores.
No acordo com o FMI está previsto que Estados e municípios deverão ter, neste ano, um superávit
primário de 0,4% do PIB (Produto
Interno Bruto, que mede a soma
das riquezas produzidas no país).
Superávit primário é quanto o
governo (federal, estadual ou municipal) economiza de sua receita
para pagar sua dívida.
Colaborou
Marcelo Diego, de Nova York
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