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LUÍS NASSIF
O terceiro ataque apache
Quando o déficit comercial
ampliou, disseram que bastaria
dois anos para que o aumento
de produtividade permitisse o
crescimento das exportações.
Quando as exportações não
cresceram, disseram que bastaria a recuperação dos preços internacionais para os superávits
voltarem. Quando os asiáticos
desvalorizaram suas moedas,
disseram que levaria muitos
anos até que sua economia se
reorganizasse e lhes devolvessem o ímpeto exportador.
Quando o Brasil quebrou externamente, disseram que bastaria um plano fiscal para reequilibrar as contas externas.
Quando a comunidade financeira internacional dizia que a
política cambial não deveria ser
alterada, disseram que não poderiam tomar uma atitude que
fosse contra as expectativas do
mercado. Quando as expectativas do mercado apontavam que
a combinação de câmbio apreciado e taxas de juros elevadas
era um beco sem saída, e passou-se a recomendar mudança
cambial, disseram que não se
curvariam às pressões dos especuladores internacionais.
De desculpa em desculpa, chegou-se ao desfecho da última
etapa da crise cambial -que
tem início com a ida ao FMI
(Fundo Monetário Internacional). Ontem começou oficialmente o terceiro ataque apache.
Só que, agora, com reservas em
queda livre e taxas de juros que
esfrangalham a economia e
produzem apenas pânico entre
os investidores.
Desde a crise da Ásia se sabia
que o país andava no fio da navalha das expectativas dos
agentes internacionais. Desde o
acerto com o FMI se sabia que o
primeiro trimestre seria extraordinariamente complexo,
especialmente na relação entre
governo federal e governadores,
devido à queda da receita, com
a política monetária adotada.
Desde dezembro se sabia que o
acordo com o FMI fora insuficiente para administrar as expectativas do mercado. Desde o
segundo turno das eleições se
sabia que haveria Itamar. E
desde sempre se sabe que não
há nada mais previsível que a
imprevisibilidade desse totem
da política pátria.
Portanto Itamar merece toda
a condenação possível por seu
ato oportunista, mas ele apenas
precipitou uma crise previsível.
Já se tinha um plano inconsistente do ponto de vista macroeconômico -pois buscava ajuste fiscal com recessão. Sabia-se
que não haveria como produzir
nenhum fato econômico relevante neste início de ano. E que
o período seria marcado por
pressões políticas de toda ordem, decorrentes do aumento
do desemprego, da quebradeira
e da crise dos Estados e municípios. Mas não se cuidou sequer
de produzir fatos políticos que
ajudassem a administrar as expectativas.
Ontem o mercado se perguntava que fato novo poderia inverter as expectativas em relação à política econômica. E ninguém sabia a resposta.
"Currency board"
A idéia de se implantar um
"currency board" no país, sem
uma desvalorização prévia do
real, seria a perpetuação do
quadro atual de recessão e crise
fiscal. Quem propõe isso não
tem a menor idéia do quadro de
carências nacional, da estrutura federativa nacional. São as
mesmas pessoas que ajudaram
a dar sustentação, por quatro
anos, a uma política cambial
claramente inconsistente e que
consideram que o mundo é uma
mesa de câmbio cercada por
países de todos os lados.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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