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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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Número 2 do banco quer Mercosul forte

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O pensamento do segundo homem forte na hierarquia do BNDES, Darc Antônio da Luz Costa, 54, deixa claro que as teorias liberais estão dando lugar no banco a teses nacionalistas a respeito do desenvolvimento do país.
Seu perfil é visto, de forma preocupante, como ultranacionalista pela ala mais liberal do banco e de forma entusiasmada pelo setor mais afinado com a nova diretoria. Ele esteve cedido à ESG (Escola Superior de Guerra) e escreveu vários textos que revelam sua preocupação com a soberania nacional e com um projeto de desenvolvimento menos dependente.
Em uma entrevista em dezembro de 2000, Costa mostrou-se crítico do projeto de integração comercial da Alca (Área de Livre Comércio das Américas): "O que há é um discurso de uma nova colonização por meio da globalização e da proposta da Alca. Querem tirar do povo sua soberania para instalar uma nova era colonial. (...) Neste projeto [que aceita a Alca", o Brasil se insere como parte de um projeto maior cujo centro da decisão encontra-se em Washington. É uma nova colonização que acaba com a soberania e com a independência do país."
Em mais de um texto, ele defende o fortalecimento da integração entre os países da América do Sul. "A cooperação sul-americana é o caminho para a inserção internacional do Brasil", afirma.
Para o vice do BNDES, a estratégia de desenvolvimento nacional e de integração econômica de cunho liberal está transformando o país em "uma periferia da América anglo-saxã".

Política econômica
"Em termos de política econômica, há, antes de tudo, uma constatação: a visão liberal sempre nos colocou vulneráveis. O Brasil e todos os retardatários perdem muito ao abraçar o discurso da completa abertura ao sistema internacional devido às relações assimétricas de poder que essa visão maximiza com o centro e com sua maior expressão: a América de origem inglesa."
Costa também demonstra em seus textos uma preocupação -muito comum em meios militares- com o interesse estrangeiro na região amazônica.
"As pressões internacionais [sobre a região amazônica" no momento são limitadas, mas podem crescer em quantidade e intensidade até se tornarem uma ameaça de ocupação territorial (...)."
Para evitar que isso ocorra, ele defende o desenvolvimento da região: "Temos de cobrir a Amazônia de civilização e isso corresponde a cobri-la de energia. No início do século 20, o petróleo era o recurso mais importante, e suas maiores jazidas estavam depositadas no Oriente Médio. O ciclo do petróleo está chegando ao fim e inicia-se o da biodiversidade."
O vice-presidente do BNDES é engenheiro formado pela PUC do Rio. Funcionário do banco, onde já ocupou o cargo de chefe da consultoria técnica e de superintendente, estava cedido à ESG até ser chamado por Carlos Lessa, presidente, para compor a nova diretoria.


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