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BB e CEF reservam mais R$ 2,3 bi para calote
Sob pressão do governo para emprestarem mais a juros menores, bancos aumentam provisão contra inadimplência
Planalto quer que bancos públicos puxem redução de juros e expansão do crédito, travado nos bancos privados após intensificação da crise
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O medo do crescimento do
calote em 2009 por causa da retração econômica fez com que
os dois principais bancos públicos comerciais, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, elevassem em R$ 2,335 bilhões a reserva adicional para
cobrir eventuais perdas com
inadimplência no final do ano
passado. Esse montante equivale a todo o gasto do governo
com compra de merenda escolar e livros didáticos em 2008.
A decisão de separar uma
quantia de recursos além do
normal para se proteger de
uma eventual onda de calotes
reduz o lucro dos bancos e tem
se mostrado uma tendência no
sistema financeiro no último
trimestre de 2008, período de
agravamento da crise financeira global, com sérias repercussões no crédito doméstico.
No caso específico dos bancos públicos, essa reserva extra
é feita num momento em que
as instituições são usadas pelo
governo como instrumento para tentar minimizar a crise de
crédito no Brasil e evitar uma
desaceleração mais forte.
Desde o final de setembro,
pressionadas pelo governo,
Caixa Econômica e BB têm
atuado fortemente na compra
de carteiras de bancos em dificuldade de caixa e elevado a
concessão de crédito. A ideia do
governo era suprir a restrição
imposta pelos bancos privados,
que colocaram o pé no freio nos
financiamentos e se mostraram mais conservadores diante
da turbulência.
Neste início de ano, o governo tem pressionado ainda mais
os bancos oficiais para liderarem uma redução dos juros, o
que também poderá afetar seu
desempenho neste ano.
Dados referentes ao mercado
de crédito do Banco Central
mostram que as instituições
privadas reduziram a liberação
de crédito e aumentaram as
provisões num ritmo maior entre outubro e dezembro. Já os
públicos elevaram as concessões e as provisões.
Mesmo emprestando menos,
Bradesco e Santander, que já
divulgaram seus balanços referentes ao período, também
anunciaram aumento dessas
reservas, chamadas de provisões adicionais, no jargão econômico, porque excedem as
exigências feitas normalmente
pelo BC. No Bradesco o montante foi de R$ 597 milhões; no
Santander, de R$ 170 milhões.
Na Caixa, o provisionamento
extra por conta do medo da crise foi de R$ 635 milhões no final de 2008. Isso fez com que o
total de provisões da instituição no último trimestre do ano
alcançasse R$ 1,261 bilhão.
Essa quantia é expressiva e
inclui também as reservas exigidas pelo BC a partir da avaliação do risco de cada cliente. O
valor total é mais de duas vezes
superior aos R$ 413,6 milhões
registrados no mesmo período
de 2007 e equivale a quase 80%
do lucro repassado ao Tesouro,
controlador da instituição, no
ano passado (R$ 1,6 bilhão).
Para ter uma ideia, se a Caixa
não realizasse essa despesa de
R$ 635 milhões para se prevenir de calotes neste ano, o lucro
no final do ano passado -que
chegou a R$ 619 milhões- poderia quase dobrar. Ao longo de
todo ano passado, o total de
provisões da Caixa foi de R$ 7
bilhões, R$ 1,8 bilhão a mais do
que em 2007.
Mesmo assim, os executivos
da Caixa preferem afirmar que
a crise internacional não afetou
o banco. "Para a Caixa, não teve
crise", diz o vice-presidente de
Controle da estatal, Marcos
Vasconcelos. "Fizemos uma
provisão adicional por conta de
uma mudança no cenário."
No caso do BB, ainda não é
possível fazer essa relação porque a instituição só divulgará o
resultado referente a 2008, na
semana que vem. No entanto,
como tem ações negociadas na
Bolsa de Valores, o banco já divulgou, no começo deste ano,
um comunicado ao mercado
anunciando provisão extra de
R$ 1,7 bilhão.
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