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COMÉRCIO EXTERIOR
Produto brasileiro é acusado de dumping e de subsídio; sobretaxa vai a 80,47% nos laminados a quente
EUA punem Brasil com taxa sobre aço
SILVANA QUAGLIO
da Reportagem Local
O aço brasileiro é o primeiro produto de exportação do país a sentir
o peso da retaliação norte-americana, depois da desvalorização do
real. Os chamados laminados a
quente, usados principalmente na
fabricação de carros, terão sobretaxa de até 80,47%.
Esse é o caso dos produtos exportados pela Usiminas e pela Cosipa. O Departamento de Comércio dos EUA decidiu, ontem, que o
preço do aço brasileiro foi beneficiado por dois artifícios: dumping
e subsídios.
Ocorre dumping quando um
produto é vendido no exterior a
um preço mais baixo do que aquele praticado no mercado interno
do país exportador. O governo
norte-americano diz que esse é o
caso do aço brasileiro.
Os produtores sustentam que
não há nada disso. "Ficamos de cabelos em pé; nos pegaram de surpresa", disse Marco Polo de Mello
Lopes, diretor-executivo do IBS
(Instituto Brasileiro de Siderurgia). "A acusação de subsídio é ainda mais absurda". O executivo
afirma que o governo norte-americano está julgando o país como se
não tivesse havido privatização.
"Eles ainda mantêm teses do tempo em que a siderurgia era uma atividade estatal no Brasil."
As punições têm de ser aprovadas em outras instâncias do Departamento de Comércio e pela
Comissão de Comércio Internacional dos EUA. Só em junho sairá
uma decisão definitiva, mas as empresas exportadoras devem fazer
provisão para pagar as taxas, caso
sejam confirmadas.
Crise asiática
Os processos contra o Brasil são
bem anteriores à desvalorização
do real. As acusações foram apresentadas por fabricantes norte-americanos em setembro de 98.
Desde então, o Brasil já mobilizou
diplomatas e as empresas mandaram seus executivos aos EUA na
tentativa de neutralizar a tentativa
de punir as exportações.
Na avaliação de Marco Polo, entretanto, a decisão foi política.
"Eles taxaram o aço brasileiro e o
japonês e deixaram o russo para
depois", disse. A Rússia desvalorizou a moeda no ano passado e os
japoneses mandaram para os EUA
o excedente que não conseguiam
mais vender na Ásia, afirmou.
Para Marco Polo, a decisão foi
preventiva.
"Os produtores brasileiros estão
praticando preços competitivos.
"Se deixassem os brasileiros soltos,
agora, sofreriam uma forte concorrência", afirmou.
Os produtores norte-americanos
começaram a pressionar o governo dos EUA, no ano passado, alegando que houve um aumento
substancial de importação de aço
japonês, russo e brasileiro. Eles
afirmam os três países vendiam
4,3% do aço consumido nos EUA
em 95. Em 98, essa participação teria aumentado para 28%.
Mesmo assim, é sintomático que
a decisão da sobretaxa tenha saído
depois de o Brasil deixar o real flutuar em relação ao dólar, o que
provocou, até agora, uma desvalorização de 36% da moeda brasileira. Na prática, a sobretaxa anula o
ganho que o produto brasileiro teria por conta da desvalorização.
Marco Polo afirma que as exportações de aço brasileiro se mantiveram estáveis para os EUA, mas
concorda que japoneses e russos
aumentaram sua participação.
"Com a crise asiática, o mercado
naquela região encolheu mais ou
menos 10%, ou seja, menos 32 milhões de toneladas consumidas
por ano. Os fornecedores tiveram
de buscar novos mercados, e os
EUA foram um grande receptor."
Os produtores brasileiros ainda
não sabem o que vão fazer com relação à acusação de dumping. O
IBS entrará com processo na OMC
(Organização Mundial do Comércio) contra a acusação de subsídio.
Cada caso
A sobretaxa por dumping varia
entre 25,14% e 71,02%. Essa punição foi aplicada a três fabricantes
japoneses e três brasileiros. Já a sobretaxa por subsídio varia entre
6,62% e 9,45% e só foi aplicada para produtores brasileiros.
A situação das empresas brasileiras, segundo Marco Polo, é a seguinte: CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), sobretaxa de
57,28% (50,66% por dumping e
6,62% por subsídios); Usiminas e
Cosipa, 80,47% (71,02% por dumping e 9,45% por subsídios).
As empresas japonesas tiveram
punição mais leve, diz Marco Polo.
A Nippon Steel pagará 25%, a Kawasaki, 68%, e a NKK, 31%.
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