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AGENDA POSITIVA
Mecanismo anticíclico em estudo para o superávit primário seria usado no último ano do mandato de Lula
Aperto fiscal menor pode ficar para 2006
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O superávit primário (receitas
menos despesas, exceto pagamento de juros) poderá ser reduzido somente em 2006, último
ano do mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que poderá ser candidato à reeleição. É o
que possibilitará o mecanismo
anticíclico em estudo no Ministério do Planejamento.
O mecanismo, que será incluído
na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para o próximo ano,
levará em conta o PIB (Produto
Interno Bruto) potencial da economia. Ou seja, a produção total
que a economia brasileira geraria,
utilizando toda a sua capacidade
instalada.
Pelo mecanismo, caso o PIB real
de 2005 fique abaixo do potencial,
em 2006 o superávit primário de
4,25% do PIB poderia ser reduzido para gerar mais crescimento.
Caso contrário, seria constituída uma reserva com o superávit
"em excesso" para ser usada em
anos de "vacas magras", como explica o chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda.
Segundo ele, o PIB potencial
não é necessariamente maior que
o utilizado para calcular receitas e
despesas nas leis orçamentárias,
mas, no caso brasileiro, há grandes chances de que isso aconteça.
O economista disse que o governo vai calcular como sempre as
receitas e despesas para 2005 a
partir de parâmetros escolhidos
de taxa de juros e câmbio, entre
outros. Mas também fará estimativas para a receita e a despesa relacionadas ao PIB potencial.
Dessa forma, será possível comparar o superávit primário orçamentário com o calculado para o
PIB potencial. "Se a economia
crescer "x" abaixo do potencial, será abatido "y" na meta fiscal do ano
seguinte", disse Miranda.
Nas duas hipóteses possíveis
-aumentar gastos ou elevar o superávit-, uma eventual mudança na meta ficaria para 2006. Segundo Miranda, a meta de 4,25%,
portanto, será mantida na LDO
de 2005.
PIB potencial
O economista da consultoria
Tendências Edward Amadeo afirmou que o PIB potencial tem que
ser calculado para um prazo longo, em torno de quatro ou cinco
anos. "Caso contrário, o governo
terá um enorme incentivo para
superestimar o PIB", comentou.
Segundo ele, o PIB potencial da
economia está em torno de 3%
hoje.
Para Amadeo, o governo precisa primeiro mostrar uma redução
da relação entre a dívida pública e
o PIB para depois pensar em mexer na meta fiscal de 4,25%.
O superávit tem justamente a
função de reduzir o peso da dívida
nas contas públicas e é formado
pela economia de receitas do governo federal, Estados, municípios e empresas estatais.
Miranda disse que o governo está estudando três modelos econométricos para o calculo do PIB
potencial, mas ainda não se decidiu por nenhum.
Segundo ele, ainda que as mudanças em estudo pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) sobre o aumento dos investimentos
em infra-estrutura sejam aprovadas em 2004, não devem afetar as
contas deste ano.
Regras do FMI
O ex-diretor-gerente do Fundo
Horst Köhler disse que está em
estudo uma solução que permita
investimentos rentáveis em infra-estrutura sem afetar as metas fiscais. Hoje, esses investimentos
são contrários ao superávit porque são considerados gastos comuns.
No Ministério da Fazenda, é esperada alguma definição sobre o
assunto já na próxima reunião
anual do Fundo, que acontecerá
em abril. O presidente Lula enviou carta aos principais líderes
do G8 (clube dos países mais ricos
do mundo mais a Rússia) e a alguns dirigentes europeus para detalhar a proposta. As mudanças
beneficiariam também a Argentina e outros países emergentes.
Mas integrantes do governo anterior afirmam que as mudanças
prometidas pelo FMI podem demorar e ser menos atraentes do
que o esperado.
Em 2002, o governo brasileiro
negociou com o Fundo regras
mais flexíveis para os investimentos da Petrobras. Mas isso só poderia ser usado em circunstâncias
específicas que nunca aconteceram.
A Folha apurou que, nessa negociação, os técnicos do Fundo
foram muito resistentes e propuseram até que fossem retiradas todas as empresas estatais do cálculo final. Isso seria pior para o governo porque, além das despesas,
seriam retiradas também as receitas. Para este ano, as empresas estatais devem contribuir com um
superávit de R$ 12 bilhões.
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