São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FOLHAINVEST

FATOR FAMÍLIA

Especialistas recomendam a investidores compra de ações de companhias voltadas para a demanda interna

Empresas de consumo têm cenário positivo

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a expectativa que o crescimento do PIB neste ano seja puxado pelo consumo das famílias e por investimentos, analistas vêm recomendando ações de empresas mais voltadas para a demanda interna.
A força de setores ligados ao consumo vem da economia doméstica, segundo analistas: o aumento da massa salarial (renda disponível), e a melhor expectativa dos consumidores, com taxas de juros e de desemprego em queda, dão segurança e estimulam os gastos.
Em ano de eleições, que costumam movimentar mais a economia, e de Copa do Mundo, vendas e receitas do setor ainda devem receber um empurrão extra.
"Há anos não víamos um cenário tão favorável para empresas de consumo no país", diz Márcio Kawassaki, da Fator Corretora.
"Estamos recomendando o setor para este ano dada a perspectiva de crescimento da economia", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, da Planner Corretora.
As ações de exportadoras de commodities, os papéis mais atraentes dos últimos anos, perderam parte de sua força, segundo analistas. De um lado, a maior porção do movimento de alta das commodities já teria ocorrido. E de outro lado, a queda do dólar prejudica as exportadoras que negociam em dólar. Elas têm perdido receitas.
O real apreciado, por sua vez, beneficia varejistas que vendem importados, ou produtos que tenham componentes vindos do exterior, lembra Gina Montone, do ABN Amro Real Corretora.
Dentre as ações ligadas ao setor de consumo, os papéis de empresas de varejo são os mais lembrados por analistas de bancos e corretoras.
O tombo de 5,99% do Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo) na semana passada, pode ser uma oportunidade para investir nesse setor num patamar mais baixo de preços.
Mesmo assim, é preciso garimpar bem para encontrar empresas com bom potencial e que ainda não estejam caras.

Risco-país
Com a queda do risco-país que vem ocorrendo, a taxa de desconto usada para calcular os fluxos de caixa futuros das companhias também cai, o que aumenta o valor das empresas e, portanto, seu preço. Sem contar a expressiva alta da Bolsa registrada em janeiro e a expectativa positiva para muitos papéis.
"É preciso ser seletivo no setor de consumo a partir de agora. Muitos papéis subiram bastante", diz Mário Quaresma, superintendente de renda variável da BankBoston Asset Management.
Já em 2005, o PIB foi puxado pelo consumo, segundo o IBGE. O consumo das famílias e o do governo somaram no ano passado 2%. Em 2006, o total deve subir para 6,8%, segundo projeções, sendo 4,5% apenas de consumo das famílias.
"Papéis ligados ao consumo doméstico foram reprecificados nos últimos meses, e já embutem uma expectativa de crescimento para os próximos anos bastante forte, e muito do que é esperado de queda de juros para este ano", acrescenta Quaresma. "As empresas precisam começar a entregar o crescimento esperado para justificar os preços atuais."

Crédito consignado
A desaceleração do crescimento do crédito consignado também pode ser um fator positivo para os varejistas.
"Com o forte crescimento em 2005, o crédito consignado tirou recursos do setor de consumo", diz Daniela Bretthauer, do Santander Banespa.
Ao se endividar, um indivíduo compromete até 30% de sua renda mensal e emprega os recursos para quitar dívidas ou comprar bens duráveis (eletrônicos, linha branca etc.). "Houve queda do consumo de bens não-duráveis, o que refletiu no fraco crescimento do setor de supermercados", diz Bretthauer, que considera valer a pena aplicar em ações ligadas a consumo.
"Investidores já entendem que as ações de companhias como CBD, Americanas e Natura estão menos vinculadas ao cenário global e mais aos seus fundamentos e qualidades operacionais", afirma Bretthauer.


Texto Anterior: Opinião econômica - Luiz Carlos Bresser-Pereira: Giddens, Lula e a ortodoxia convencional
Próximo Texto: Ações: Corretora sugere papéis da Porto Seguro e da siderúrgica Usiminas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.