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GANHOS EXUBERANTES
Para presidente da instituição, que está na Basiléia em encontro do BIS, é Febraban que deve falar
BC não engorda lucro de bancos, diz Meirelles
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL À BASILÉIA
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, afirmou ontem que a instituição não é responsável pelo fato de os bancos
brasileiros terem registrado em
2005 um lucro recorde.
"Acho que compete aos bancos
falar sobre isso, não ao BC, que é
meramente regulador e implementador de política monetária",
disse Meirelles em Basiléia, na
Suíça, onde participa de reunião
do BIS (Banco de Compensações
Internacionais, na sigla em inglês).
Segundo o executivo, a taxa de
juros da economia, determinada
pelo BC e uma das mais altas do
mundo, não "reflete necessariamente" no lucro dos bancos. Instado a explicar sua tese, observou
que "isso aí é questão para a Febraban". Levantamento do próprio BC com 104 instituições bancárias do país mostrou que, em
2005, o setor lucrou R$ 28,3 bilhões, valor 36% maior do que o
registrado em 2004 -que já fora
o pico histórico.
Críticas
A situação ampliou as críticas à
política de juros praticada pelo
BC e fez o secretário-geral da
CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, afirmar que o Brasil
se transformou num "paraíso financeiro" e que o governo dá
mais atenção ao setor bancário do
que à área social.
Questionado sobre como explicaria suas teses a dom Odilo, Meirelles afirmou: "Terei grande satisfação, caso haja interesse dele,
de conversar sobre qualquer assunto, mas não em mandar recado por jornal".
Embora seu presidente não o
diga em público, há, dentro do
BC, a idéia de que os seguidos ganhos dos bancos não dependem
diretamente dos juros determinados pelo órgão, mas muito mais
do "spread" (diferença entre o juro pago para captar os recursos
no mercado e o valor cobrado aos
clientes) e do volume de recursos
movimentados .
Para Meirelles, os bancos lucraram à farta porque o bom momento da economia brasileira
permitiu a evolução de todos os
setores empresariais. "O importante que se enfatize é que os resultados das empresas brasileiras
em geral estão muito bons, são recorde na história, na indústria, no
comércio, em mineração. Isso
mostra a força e o crescimento
sustentado da nossa economia."
Em 2005, o PIB do país cresceu
2,3%, o menor índice entre principais economias emergentes.
Fim da farra
Meirelles reconheceu que há sinais de que a atratividade dos
emergentes para investidores internacionais possa ser reduzida.
O indicativo da queda da liquidez mundial, visível a vários analistas já no relatório trimestral divulgado na semana passada pelo
BIS, tem duas motivações principais: o anúncio do Japão de que
vai começar a apertar a política
monetária, depois de mais de três
anos com taxas de juros reais negativas, e a sinalização do Fed (o
banco central dos EUA) que continuará aumentando os juros.
"Todas as taxas de juros estão
subindo nas principais economias, e é normal que, em função
disso, exista alguma realocação de
portfólios. Faz parte da mudança
de um ambiente extremamente
benigno para um ambiente talvez
de maior normalidade, mas para
o qual o Brasil está muito preparado", disse Meirelles.
"Há indicações de que poderá
ocorrer uma diminuição da liquidez, mas não de que podemos entrar numa era de problemas",
afirmou o presidente do BC.
Meirelles participa hoje de três
reuniões, uma sobre economia
global, uma sobre mercado imobiliário e a última sobre a adaptação das economias dos novos sócios da zona do euro.
Será a primeira vez que o novo
presidente do Fed, Ben Bernanke,
participa de um dos encontros bimensais do BIS.
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