São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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Inflação afeta negociações e reduz ganho real em acordos salariais de 2008

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os trabalhadores conseguiram aumento real em 77,6% dos acordos salariais realizados no ano passado, segundo levantamento do Dieese a partir de 706 negociações feitas no país.
Apesar de o resultado ser considerado positivo, esse percentual é menor do que o obtido em 2007, quando 87,7% dos acordos analisados tiveram reajustes superiores à inflação medida pelo INPC do IBGE -o indicador mais usado nas negociações salariais.
A aceleração da inflação no ano passado, especialmente a partir do segundo trimestre, é a principal explicação para a diminuição no percentual de acordos com ganhos reais.
"A crise financeira internacional não teve influência nos resultados do ano passado. O que explica a queda nos acordos com ganhos reais é o avanço da inflação. Mas vale ressaltar que esse é o terceiro melhor resultado das negociações salariais desde o início da série histórica, em 1996", diz José Silvestre de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Os aumentos reais concedidos no ano passado se concentraram, em sua maior parte, no intervalo até 1% acima da inflação medida pelo INPC. Em 2007, houve mais acordos com ganhos reais no intervalo entre 1,01% e 2% acima da inflação. "A inflação média [acumulada nos 12 meses anteriores às datas-bases das categorias] foi de 3,89% em 2007 e, no ano passado, chegou a 6,46%. Quanto maior a inflação, menor tende a ser o ganho real", diz Oliveira.
Na indústria, setor que concentra metade das 706 negociações estudadas pelo Dieese, 87% dos acordos tiveram reajustes acima da inflação, 6,6% foram equivalentes ao INPC e 6,4% ficaram abaixo do indicador. Em 2007, 94% dos acordos foram acima da inflação.
No comércio, ganhos reais foram conquistados em 85% dos acordos -mesmo percentual das negociações em 2007. No setor de serviços, os resultados foram mais desfavoráveis: 61% dos acordos ficaram acima do INPC em 2008, enquanto em 2007 foram 81%.
Fábio Romão, economista da LCA, acredita que o setor industrial não deve repetir em 2009 o mesmo desempenho visto nas negociações salariais do ano passado. "A tendência é que, com os efeitos da crise, cresça o número de acordos com reajustes que vão zerar a inflação ou permanecer em patamares inferiores", afirma.
Além de cortar vagas, a indústria vem contratando menos. Como nesse setor são pagos os melhores salários, a tendência é de queda no número de acordos com ganhos reais.
Para 2009, trabalhadores, empresários e analistas esperam negociações mais difíceis. "O cenário para este ano é mais adverso. Se por um lado a inflação dá uma trégua e se encontra em patamares menores, do outro há uma forte retração da economia", diz Oliveira.
As centrais sindicais acreditam que, em 2009, dois temas devem disputar espaço com a conquista de reajustes melhores: a manutenção do emprego e a luta para impedir a retirada de direitos. "O desafio é conseguir aumentos reais que acompanhem o crescimento do PIB [5,1% em 2008]", diz Nivaldo Santana, dirigente da CTB.
Para Noboru Takarabe, assessor da Fecomercio SP, as empresas terão mais cautela em dar aumentos. "Elas vão evitar aumentar custos fixos. É melhor do que desempregar."


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