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Inflação afeta negociações e reduz ganho real em acordos salariais de 2008
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os trabalhadores conseguiram aumento real em 77,6%
dos acordos salariais realizados
no ano passado, segundo levantamento do Dieese a partir de
706 negociações feitas no país.
Apesar de o resultado ser
considerado positivo, esse percentual é menor do que o obtido em 2007, quando 87,7% dos
acordos analisados tiveram
reajustes superiores à inflação
medida pelo INPC do IBGE -o
indicador mais usado nas negociações salariais.
A aceleração da inflação no
ano passado, especialmente a
partir do segundo trimestre, é a
principal explicação para a diminuição no percentual de
acordos com ganhos reais.
"A crise financeira internacional não teve influência nos
resultados do ano passado. O
que explica a queda nos acordos com ganhos reais é o avanço da inflação. Mas vale ressaltar que esse é o terceiro melhor
resultado das negociações salariais desde o início da série histórica, em 1996", diz José Silvestre de Oliveira, coordenador
de relações sindicais do Dieese.
Os aumentos reais concedidos no ano passado se concentraram, em sua maior parte, no
intervalo até 1% acima da inflação medida pelo INPC. Em
2007, houve mais acordos com
ganhos reais no intervalo entre
1,01% e 2% acima da inflação.
"A inflação média [acumulada
nos 12 meses anteriores às datas-bases das categorias] foi de
3,89% em 2007 e, no ano passado, chegou a 6,46%. Quanto
maior a inflação, menor tende a
ser o ganho real", diz Oliveira.
Na indústria, setor que concentra metade das 706 negociações estudadas pelo Dieese,
87% dos acordos tiveram reajustes acima da inflação, 6,6%
foram equivalentes ao INPC e
6,4% ficaram abaixo do indicador. Em 2007, 94% dos acordos
foram acima da inflação.
No comércio, ganhos reais
foram conquistados em 85%
dos acordos -mesmo percentual das negociações em 2007.
No setor de serviços, os resultados foram mais desfavoráveis:
61% dos acordos ficaram acima
do INPC em 2008, enquanto
em 2007 foram 81%.
Fábio Romão, economista da
LCA, acredita que o setor industrial não deve repetir em
2009 o mesmo desempenho
visto nas negociações salariais
do ano passado. "A tendência é
que, com os efeitos da crise,
cresça o número de acordos
com reajustes que vão zerar a
inflação ou permanecer em patamares inferiores", afirma.
Além de cortar vagas, a indústria vem contratando menos. Como nesse setor são pagos os melhores salários, a tendência é de queda no número
de acordos com ganhos reais.
Para 2009, trabalhadores,
empresários e analistas esperam negociações mais difíceis.
"O cenário para este ano é mais
adverso. Se por um lado a inflação dá uma trégua e se encontra
em patamares menores, do outro há uma forte retração da
economia", diz Oliveira.
As centrais sindicais acreditam que, em 2009, dois temas
devem disputar espaço com a
conquista de reajustes melhores: a manutenção do emprego
e a luta para impedir a retirada
de direitos. "O desafio é conseguir aumentos reais que acompanhem o crescimento do PIB
[5,1% em 2008]", diz Nivaldo
Santana, dirigente da CTB.
Para Noboru Takarabe, assessor da Fecomercio SP, as
empresas terão mais cautela
em dar aumentos. "Elas vão
evitar aumentar custos fixos. É
melhor do que desempregar."
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