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Madoff é preso e poderá pegar 150 anos
Responsável por uma das maiores fraudes financeiras da história confessa crimes a tribunal; promotoria rechaça acordo
Réu confesso sai algemado de corte; entre suas quase 5.000 vítimas vítimas, estão estrelas de Hollywood como o cineasta Steven Spielberg
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Nos capítulos finais de um
dos maiores escândalos financeiros da história, o americano
Bernard Madoff, 70, foi levado
para a cadeia em Nova York
após se declarar culpado em 11
acusações de fraude, lavagem
de dinheiro, roubo e falso testemunho. Abatido, ele confirmou
ter elaborado um esquema de
pirâmide, hoje estimado em até
US$ 65 bilhões, que causou
perdas a mais de 4.800 clientes.
"Não posso expressar adequadamente o quanto sinto por
ter cometido esses crimes", disse ao tribunal. "Estou envergonhado (...) e agradecido por poder falar sobre o que ocorreu."
Não houve acordo com a promotoria em troca da confissão.
Especula-se que a complacência de Madoff com a Justiça
busque poupar familiares de
acusações de cumplicidade,
além de salvaguardar setores
de seus negócios que ele afirma
não estarem envolvidos na
fraude. A investigação, porém,
continua em curso.
Madoff deve passar o resto da
vida preso: a punição máxima
para cada um dos crimes admitidos soma 150 anos.
Algemado, ele deixou o tribunal ontem por uma passagem
subterrânea e recebeu ordem
de permanecer no Centro de
Correções de Manhattan até
que sua pena seja estabelecida,
em audiência em 16 de junho.
O financista esteve em prisão
domiciliar em sua cobertura
em um bairro nobre da ilha
desde 11 de dezembro.
Em um esquema de pirâmide
(ou "Ponzi"), o dinheiro de novos investidores é usado para
pagar aos investidores mais antigos. Madoff relatou ao tribunal ontem que não investiu o
dinheiro que recebia de seus
clientes. Simplesmente depositava os fundos em uma conta
no banco Chase em Manhattan
e fazia retiradas da mesma conta para pagar supostos lucros.
Segundo suas declarações,
desde os anos 1990, ele se esforçou para que o fundo proporcionasse retornos acima da média do mercado aos clientes
-eram prometidos lucros de
até 46% ao ano. Quando a crise
estourou, o surto súbito de retiradas fez o esquema ruir.
Promotores rejeitaram algumas das afirmações. Eles dizem
que as fraudes começaram nos
anos 1980 ou mesmo antes e estão em busca de até US$ 170 bilhões em bens e dinheiro de
Madoff que poderiam ter relação com o esquema.
"Eu acreditava que [a fraude]
terminaria rapidamente e que
eu conseguiria desembaraçar a
mim e a meus clientes do esquema. Isso se provou difícil e
eventualmente impossível.
Com o passar dos anos, percebi
que este dia, e minha prisão,
inevitavelmente chegariam",
disse o financista.
O esquema era global e envolveu fundes de hedge, grupos
sem fins lucrativos e celebridades como o entrevistador da
CNN Larry King e o diretor
Steven Spielberg. As economias da vida de milhares de
pessoas foram devastadas -algumas das quais tiveram de
voltar a trabalhar aos 90 anos.
Para essas pessoas, a prisão
de Madoff não é suficiente.
"Não há nenhuma possibilidade de ele ter gerenciado esse esquema sozinho. Quero ver seus
cúmplices pagaram pelo que fizeram", disse Richard Friedman, que afirma ter perdido
US$ 3 milhões com o esquema.
"Culpo a SEC [agência reguladora dos mercados] por não
ter descoberto a fraude", disse
outra vítima, Judith Baker.
Continua incerto o destino
dos bilhões perdidos dos clientes e se eles verão alguma parte
de volta no futuro. Uma comissão apontada pela Justiça para
liquidar negócios e bens de Madoff até agora só conseguiu
identificar US$ 1 bilhão.
Brasil
No Brasil, advogados dizem
que investidores perderam dezenas de milhões de dólares
com aplicações. Os investimentos, aparentemente, não foram
feitos diretamente com Madoff, mas por meio de bancos
como Safra, Santander e UBS e
do fundo americano Fairfield
Greenwich. Santander e Safra
ofereceram ressarcir parte das
perdas dos clientes.
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