São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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Madoff é preso e poderá pegar 150 anos

Responsável por uma das maiores fraudes financeiras da história confessa crimes a tribunal; promotoria rechaça acordo

Réu confesso sai algemado de corte; entre suas quase 5.000 vítimas vítimas, estão estrelas de Hollywood como o cineasta Steven Spielberg

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Nos capítulos finais de um dos maiores escândalos financeiros da história, o americano Bernard Madoff, 70, foi levado para a cadeia em Nova York após se declarar culpado em 11 acusações de fraude, lavagem de dinheiro, roubo e falso testemunho. Abatido, ele confirmou ter elaborado um esquema de pirâmide, hoje estimado em até US$ 65 bilhões, que causou perdas a mais de 4.800 clientes.
"Não posso expressar adequadamente o quanto sinto por ter cometido esses crimes", disse ao tribunal. "Estou envergonhado (...) e agradecido por poder falar sobre o que ocorreu."
Não houve acordo com a promotoria em troca da confissão. Especula-se que a complacência de Madoff com a Justiça busque poupar familiares de acusações de cumplicidade, além de salvaguardar setores de seus negócios que ele afirma não estarem envolvidos na fraude. A investigação, porém, continua em curso.
Madoff deve passar o resto da vida preso: a punição máxima para cada um dos crimes admitidos soma 150 anos.
Algemado, ele deixou o tribunal ontem por uma passagem subterrânea e recebeu ordem de permanecer no Centro de Correções de Manhattan até que sua pena seja estabelecida, em audiência em 16 de junho.
O financista esteve em prisão domiciliar em sua cobertura em um bairro nobre da ilha desde 11 de dezembro.
Em um esquema de pirâmide (ou "Ponzi"), o dinheiro de novos investidores é usado para pagar aos investidores mais antigos. Madoff relatou ao tribunal ontem que não investiu o dinheiro que recebia de seus clientes. Simplesmente depositava os fundos em uma conta no banco Chase em Manhattan e fazia retiradas da mesma conta para pagar supostos lucros.
Segundo suas declarações, desde os anos 1990, ele se esforçou para que o fundo proporcionasse retornos acima da média do mercado aos clientes -eram prometidos lucros de até 46% ao ano. Quando a crise estourou, o surto súbito de retiradas fez o esquema ruir.
Promotores rejeitaram algumas das afirmações. Eles dizem que as fraudes começaram nos anos 1980 ou mesmo antes e estão em busca de até US$ 170 bilhões em bens e dinheiro de Madoff que poderiam ter relação com o esquema.
"Eu acreditava que [a fraude] terminaria rapidamente e que eu conseguiria desembaraçar a mim e a meus clientes do esquema. Isso se provou difícil e eventualmente impossível. Com o passar dos anos, percebi que este dia, e minha prisão, inevitavelmente chegariam", disse o financista.
O esquema era global e envolveu fundes de hedge, grupos sem fins lucrativos e celebridades como o entrevistador da CNN Larry King e o diretor Steven Spielberg. As economias da vida de milhares de pessoas foram devastadas -algumas das quais tiveram de voltar a trabalhar aos 90 anos.
Para essas pessoas, a prisão de Madoff não é suficiente. "Não há nenhuma possibilidade de ele ter gerenciado esse esquema sozinho. Quero ver seus cúmplices pagaram pelo que fizeram", disse Richard Friedman, que afirma ter perdido US$ 3 milhões com o esquema.
"Culpo a SEC [agência reguladora dos mercados] por não ter descoberto a fraude", disse outra vítima, Judith Baker.
Continua incerto o destino dos bilhões perdidos dos clientes e se eles verão alguma parte de volta no futuro. Uma comissão apontada pela Justiça para liquidar negócios e bens de Madoff até agora só conseguiu identificar US$ 1 bilhão.

Brasil
No Brasil, advogados dizem que investidores perderam dezenas de milhões de dólares com aplicações. Os investimentos, aparentemente, não foram feitos diretamente com Madoff, mas por meio de bancos como Safra, Santander e UBS e do fundo americano Fairfield Greenwich. Santander e Safra ofereceram ressarcir parte das perdas dos clientes.


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