São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA
Depósitos em conta corrente até US$ 160 podem ser retirados; acima disso, só 50%; saldo fica retido por um ano
Equador impõe limite a saque bancário

das agências internacionais

O pacote econômico do Equador, anunciado anteontem pelo presidente Jamil Mahuad, foi rejeitado por 83% da população, segundo instituto de pesquisa local. No entanto, levou o país para mais próximo de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), segundo a ministra das Finanças, Ana Lucia Aminjos.
Na quinta-feira à noite, o governo anunciou que ficam limitadas a US$ 160 as retiradas bancárias dos depósitos até aquele valor feitos em conta corrente até 5 deste mês, último dia de funcionamento dos bancos. Para a poupança, o limite de saque é de US$ 400.
As pessoas que tiverem depósitos acima desses valores poderão sacar apenas 50%. O restante será congelado por um ano.
Mahuad divulgou também que irá aumentar o preço dos combustíveis em 165% e elevar em 50% a alíquota do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), cobrado sobre bens e produtos, de 10% para 15%.
Mahuad
Para a ministra, o pacote é "doloroso, mas necessário". "A crise econômica tem de ser enfrentada se não o Equador irá direto para a hiperinflação, o que seria muito pior", justificou.
Para ela, o pacote foi bem recebido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). O Equador espera chegar a um acordo com o organismo para obter empréstimo de US$ 400 milhões.
O pacote pretende reduzir o déficit de US$ 1,2 bilhão nas finanças do governo e restabelecer a confiança no sucre, a moeda local, que sofreu desvalorização vertiginosa.
De acordo com Carlos Larreategui, presidente da associação dos banqueiros, as medidas levarão o país a uma severa recessão.
"O problema de congelar os depósitos é que provocará todos os tipos de reações entre os equatorianos."
Segundo a pesquisa realizada ontem, 84% da população está pessimista com os rumos da economia e 78% dizem acreditar que as medidas não solucionarão a crise.
De acordo com analistas, o empréstimo com o FMI é crucial para evitar a moratória de parte dos US$ 13 bilhões de dívida externa.
Segundo alguns economistas, o pacote parece adequado às exigências do FMI. No entanto, outros dizem que o governo precisa ir ainda além para sanear os problemas do sistema financeiro do país.
"Há muito para ser alcançado se eles quiseram um acordo com o FMI e acho que será difícil", afirmou Jerome Booth, chefe de pesquisa da Ashmore Investment Management, em Londres.
Os bancos devem reabrir somente na segunda-feira, depois de ficarem fechados por uma semana, cumprindo decisão do governo.
A determinação foi feita para evitar o pânico da população e a retirada de dinheiro.
A economia do Equador está sendo afetada pelos baixos preços do petróleo e pelo fenômeno El Niño, que em 1998 causou prejuízos de US$ 2,6 bilhões.
Nos últimos dois dias, sindicatos e partidos de oposição promoveram uma greve geral. Durante as manifestações, 235 pessoas foram presas.


Texto Anterior: OMC manda cortar subsídio à Embraer
Próximo Texto: Economia japonesa recua 2,8% em 98
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.