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LUÍS NASSIF
Submarino submerge
O adiamento do lançamento de ações da Submarino (o site de compras mais
bem-sucedido da internet brasileira) não ocorreu simplesmente
por conta do vazamento de informações, mas pela natureza das
informações vazadas. Em belo
serviço prestado ao mercado, o
repórter Ricardo César, do "Valor", constatou que o P/L (relação
preço/lucro) do lançamento estava em 138. Ou seja, mantidos o
faturamento e o lucro atuais, o
investidor levaria 138 anos para
recuperar seu investimento. É
evidente que o preço da ação estava turbinado, podendo levar
milhares de investidores ao prejuízo. O mercado estimava um
máximo de 30 a 50 vezes.
Em dezembro de 2003, o P/L da
Amazon estava em 657,8. Em dezembro de 2005, em 47,6. Na terça passada, em 31,9. No ano passado, pela primeira vez o Submarino registrou lucro, de R$ 18 milhões. O mercado estima para este ano um crescimento de 40%
nos ganhos.
Como se sabe, uma empresa
nova apresenta uma curva de
crescimento que, a cada ano que
passa, decresce, até se estabilizar
em patamares normais de crescimento.
Vamos a algumas hipóteses superotimistas de desempenho,
com o crescimento dos lucros registrando 40% em 2006 e caindo
5% ao ano até se estabilizar em
5%. Nessa hipótese superotimista, supondo que o P/L permaneça
nesses inacreditáveis 136 anos,
ocorreria o seguinte:
Quem aplicasse nos papéis por
cinco anos teria uma taxa interna de retorno de 26% ao ano; por
dez anos, em 19% ao ano; por 15
anos, de 14% ao ano.
Agora suponha o seguinte quadro, bastante mais factível:
1) No segundo ano, o P/L da
Submarino cai para 30 (ainda
expressivo).
2) A partir do oitavo ano, a empresa já estabilizada, o P/L cai
para 8.
3) O crescimento dos lucros
mantém o padrão superotimista
já adotado.
Quem aplicasse por cinco anos
amargaria um prejuízo de 5,82%
ao ano; por dez anos, um prejuízo de 5,35% ao ano; e, por 15
anos, um prejuízo de 0,53% ao
ano. Não se está levando em conta o custo de oportunidade: ou seja, quanto ele deixaria de ganhar
se aplicasse em renda fixa.
Vamos, agora, a uma hipótese
mais realista. Mantém-se a estimativa de queda do P/L da Submarino e acelera-se a queda do
crescimento em 8% ao ano, até se
estabilizar em 5% ao ano. Nesse
caso, quem aplicar por cinco
anos levará na cabeça um prejuízo de 8,45% ao ano; por dez anos,
um prejuízo de 8,98% ao ano, e,
por 15 anos, um prejuízo de
3,32%.
Lançamentos sérios já confirmaram o potencial do mercado
de capitais como financiador do
desenvolvimento. O investidor
está suficientemente maduro até
para conviver com oscilações de
cotações após o IPO (lançamento
de ações) da companhia.
Mas é evidente que, caso o IPO
da Submarino, do incontrolável
GP Investimentos, tivesse se concretizado, causaria um enorme
desserviço à causa do mercado de
capitais e à modernização dos investimentos no país.
Caso Suzane
A coluna de terça-feira rendeu
mais de 160 e-mails de leitores,
surpreendentemente (para
mim) a maioria a favor, uma
parte relevante contra. Estou
compilando todos eles em um
arquivo PDF para colocar à disposição de cientistas sociais, psicólogos sociais ou estudiosos do
jornalismo, que pretendam se
aprofundar em um estudo de caso bastante interessante.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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