São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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LUÍS NASSIF

Submarino submerge

O adiamento do lançamento de ações da Submarino (o site de compras mais bem-sucedido da internet brasileira) não ocorreu simplesmente por conta do vazamento de informações, mas pela natureza das informações vazadas. Em belo serviço prestado ao mercado, o repórter Ricardo César, do "Valor", constatou que o P/L (relação preço/lucro) do lançamento estava em 138. Ou seja, mantidos o faturamento e o lucro atuais, o investidor levaria 138 anos para recuperar seu investimento. É evidente que o preço da ação estava turbinado, podendo levar milhares de investidores ao prejuízo. O mercado estimava um máximo de 30 a 50 vezes.
Em dezembro de 2003, o P/L da Amazon estava em 657,8. Em dezembro de 2005, em 47,6. Na terça passada, em 31,9. No ano passado, pela primeira vez o Submarino registrou lucro, de R$ 18 milhões. O mercado estima para este ano um crescimento de 40% nos ganhos.
Como se sabe, uma empresa nova apresenta uma curva de crescimento que, a cada ano que passa, decresce, até se estabilizar em patamares normais de crescimento.
Vamos a algumas hipóteses superotimistas de desempenho, com o crescimento dos lucros registrando 40% em 2006 e caindo 5% ao ano até se estabilizar em 5%. Nessa hipótese superotimista, supondo que o P/L permaneça nesses inacreditáveis 136 anos, ocorreria o seguinte:
Quem aplicasse nos papéis por cinco anos teria uma taxa interna de retorno de 26% ao ano; por dez anos, em 19% ao ano; por 15 anos, de 14% ao ano.
Agora suponha o seguinte quadro, bastante mais factível:
1) No segundo ano, o P/L da Submarino cai para 30 (ainda expressivo).
2) A partir do oitavo ano, a empresa já estabilizada, o P/L cai para 8.
3) O crescimento dos lucros mantém o padrão superotimista já adotado.
Quem aplicasse por cinco anos amargaria um prejuízo de 5,82% ao ano; por dez anos, um prejuízo de 5,35% ao ano; e, por 15 anos, um prejuízo de 0,53% ao ano. Não se está levando em conta o custo de oportunidade: ou seja, quanto ele deixaria de ganhar se aplicasse em renda fixa.
Vamos, agora, a uma hipótese mais realista. Mantém-se a estimativa de queda do P/L da Submarino e acelera-se a queda do crescimento em 8% ao ano, até se estabilizar em 5% ao ano. Nesse caso, quem aplicar por cinco anos levará na cabeça um prejuízo de 8,45% ao ano; por dez anos, um prejuízo de 8,98% ao ano, e, por 15 anos, um prejuízo de 3,32%.
Lançamentos sérios já confirmaram o potencial do mercado de capitais como financiador do desenvolvimento. O investidor está suficientemente maduro até para conviver com oscilações de cotações após o IPO (lançamento de ações) da companhia.
Mas é evidente que, caso o IPO da Submarino, do incontrolável GP Investimentos, tivesse se concretizado, causaria um enorme desserviço à causa do mercado de capitais e à modernização dos investimentos no país.

Caso Suzane
A coluna de terça-feira rendeu mais de 160 e-mails de leitores, surpreendentemente (para mim) a maioria a favor, uma parte relevante contra. Estou compilando todos eles em um arquivo PDF para colocar à disposição de cientistas sociais, psicólogos sociais ou estudiosos do jornalismo, que pretendam se aprofundar em um estudo de caso bastante interessante.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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