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Empresa inovadora dribla real valorizado
Pesquisa do Ipea mostra que alta produtividade e investimentos em inovação atenuam o efeito cambial desfavorável
Estudo será levado a Miguel Jorge e dá munição aos que são contra protecionismo ou medidas artificiais para ajudar setores exportadores
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O câmbio já não é um fator
determinante para um grupo
de empresas exportadoras que
investiram em inovação tecnológica e apresentam elevados
índices de produtividade,
aponta pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas), ligado ao Ministério do Planejamento.
Um grupo de 2.434 empresas
classificadas como fortemente
exportadoras tem um índice de
produtividade bem superior às
demais e, por isso, não dependem só de preço para competir
no mercado externo, diz o estudo "As Empresas Brasileiras e o
Comércio Internacional", que
será lançado em livro.
Enquanto uma empresa voltada ao mercado interno tem
índice de produtividade médio
de R$ 14,98 mil por trabalhador, a fortemente exportadora
atinge marca quatro vezes
maior -R$ 76,12 mil.
Esse tipo de empresa ainda
tem uma produtividade 2,3 vezes superior às que também exportam, mas sem bom grau de
inovação tecnológica que permite desenvolver produtos diferenciados para disputar o
mercado externo com preços
de venda mais elevados.
"É claro que um câmbio baixo afeta, mas a pesquisa mostra
que não é o fator predominante
para a empresa que decidiu
adotar uma política voltada para o mercado externo", diz o diretor do Ipea João Alberto de
Negri, que organizou o trabalho
em conjunto com o pesquisador Bruno César Araújo.
Entre as empresas fortemente exportadoras, Araújo destaca um grupo de 1.200 com alto
investimento em inovação tecnológica, que desenvolveu produtos diferenciados e acabou
puxando, segundo a pesquisa, o
crescimento das exportações
no setor industrial no período
de 2000 a 2006.
Segundo o pesquisador, excluindo as vendas de commodities e bens primários (como soja, açúcar e minério de ferro),
essas 1.200 empresas respondem por cerca de 70% a 80%
das exportações brasileiras e
não dependem só de preço para
competir. Exemplo dessa lista é
a fabricante de aviões Embraer.
De Negri acrescenta que foi
daí que veio boa parte da surpresa quando as exportações
subiram mesmo com um dólar
mais barato, num momento em
que muitos apostavam em queda das vendas externas.
Um dólar hoje está perto de
R$ 2. Em agosto de 2004, bateu
em R$ 3. Encerrou o ano passado custando R$ 2,14. Apesar
dessa oscilação do câmbio, as
exportações saltaram de US$
60,3 bi em 2002 para US$ 137,4
bilhões ao final do primeiro
mandato do presidente Lula.
Contribuiu também o aquecimento da economia global.
O livro será apresentado ao
novo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, na próxima semana. Deve servir de munição àqueles que são contra
medidas protecionistas ou artificiais para compensar setores
prejudicados com o real forte.
O diretor do Ipea lembra que
até nos setores que estão sofrendo com o câmbio, como
calçadista e têxtil, há empresas
que estão ganhando porque decidiram investir em produtos
diferenciados. Dá como exemplo a fábrica de calçados Democrata. Segundo ele, a pesquisa
detectou que a empresa conseguiu manter vendas após desenvolver calçados mais sofisticados, com solados com amortecimento -patenteados pela
empresa. É um exemplo da inovação estudada pelo Ipea.
Já outras empresas do setor,
com baixo investimento em
inovação, perdem mercado e
demitem por causa do real forte, que encarece seus produtos
no exterior.
O estudo aponta que os exportadores brasileiros deixaram de ver o mercado internacional como um substituto
temporário para o mercado interno e descobriram que manter vendas externas representa
crescimento de faturamento.
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