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Cadeia do plástico prevê falta de insumo
Relatório da associação do setor químico mostra que indústria brasileira enfrentará falta de matérias-primas a partir do final da década
Crise é provocada pela escassez de recursos como gás natural e nafta; situação pode expor o setor aos concorrentes mundiais
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Parte da indústria de base, a
petroquímica nacional -setor
que fatura US$ 55 bilhões por
ano- prevê uma crise de abastecimento de matérias-primas
e insumos nos próximos anos.
Relatório com balanço de oferta e demanda dos principais insumos da cadeia do plástico
mostra que o déficit começa em
2010 e deve se agravar nos anos
subseqüentes. Em dois anos,
revela o relatório, a produção
de eteno (principal insumo do
setor, obtido do gás natural ou
da nafta, um derivado do petróleo) já será menor do que a demanda para mercado interno e
exportação.
Pelo relatório elaborado pela
Comissão de Economia da Abiquim (Associação Brasileira da
Indústria Química), a produção
de eteno nas quatro centrais
petroquímicas do país já será
200 mil toneladas menor do
que a demanda, estimada em
3,91 milhões de toneladas. Até
2020, prazo considerado no estudo da Abiquim, a demanda já
terá superado em 1,9 milhão de
toneladas a produção.
Do eteno, indústrias como
Braskem, Dow e Triunfo produzem o polietileno, resina que
é transformada em embalagens
e utensílios domésticos, entre
outros produtos.
A situação é idêntica para o
propeno, outro importante insumo da cadeia dos polímeros.
O polipropileno obtido com essa molécula é uma das principais matérias-primas para produção de embalagens e peças
para automóveis ou eletrodomésticos. Segundo estudo da
Abiquim, a partir de 2011 a produção de propeno também começa a ser inferior à demanda.
Em 2020, horizonte do estudo,
o Brasil importará 1,5 milhão
de toneladas de propeno.
As importações, que no setor
não são fenômeno cambial, começam a tomar parte do mercado. Com US$ 3,04 bilhões, as
compras externas de resinas e
elastômeros (plástico e borracha sintética, produtos da cadeia do petróleo e do gás natural) em 2007 passaram em US$
745 milhões as exportações.
A situação do conjunto da indústria química, que, além desse setor, inclui produtos farmacêuticos, fertilizantes, defensivos e cosméticos, evidencia a
dependência brasileira.
Em 2007, segundo a Abiquim, a importação do conjunto da indústria química cresceu
37,8% e atingiu US$ 23,9 bilhões. O déficit da balança do
setor químico brasileiro foi de
US$ 13,2 bilhões, evolução de
57% de 2006 para 2007. "À medida que a demanda cresce e
não há resposta da produção, a
situação de déficit vai ficando
mais grave. Uma parte da solução disso está na mudança do
modelo aplicado hoje ao setor",
diz José de Freitas Mascarenhas, vice-presidente do conselho diretor da Abiquim.
Para José Ricardo Roriz, presidente da Vitopel, empresa de
transformação de plásticos, a
indústria do setor tem graves
vulnerabilidades. "O modelo
brasileiro aponta para uma baixa competitividade. Temos empresas grandes, mas extremamente frágeis na segunda geração [de resinas]. As de terceira
geração [de transformação]
provavelmente deixarão de ser
indústrias e devem se tornar
importadoras", diz.
A demanda interna expandiu
nos últimos anos, mas a capacidade do setor petroquímico segue num ritmo lento de crescimento, não por desinteresse
ante o aumento da demanda interna. Falta a matéria-prima
básica, a nafta (um derivado do
petróleo) e o gás natural. Hoje,
um terço da nafta é importado.
A solução passa pelo aumento
do refino pela Petrobras.
A segunda opção, o gás natural, tem ainda menos disponibilidade. "O Brasil decidiu usar
gás para gerar energia, e não para a indústria petroquímica",
diz Mascarenhas. A indústria
consome 25,4 milhões de metros cúbicos de gás por dia.
Apenas 4,5 milhões são usados
como matéria-prima. Além de
servir para a produção de eteno
e propeno, o gás natural também é insumo para a indústria
de fertilizantes. E apesar de o
Brasil ter uma das maiores
agriculturas do planeta, a dependência da importação é elevadíssima, 70% da demanda.
Pelos cálculos da Abiquim,
nem o gigantesco Comperj
(Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro), empreendimento que custará US$ 8,3 bilhões, deverá aliviar a escassez.
Pré-sal
Uma parte da indústria petroquímica acha que o balanço
da Abiquim será superado
quando a Petrobras anunciar
oficialmente os potenciais de
produção dos campos de Tupi e
Júpiter, encontrados no pré-sal, na bacia de Santos. As reservas de Tupi podem chegar a
8 bilhões de barris de petróleo.
Não há estimativas para Júpiter. A esperança do setor é a de
que o gás e o petróleo leve descobertos a 6.000 metros de
profundidade possam transformar escassez em abundância a
partir da próxima década.
"A descoberta de Tupi e Júpiter representará uma etapa nova que permitirá à petroquímica ser competitiva no plano global. É disso que se trata. O Brasil pode passar de uma situação
de restrição de matéria-prima,
como é o caso hoje, para uma situação que vai colocar o país
como um produtor importante
não só no mercado interno,
mas transformará o Brasil numa plataforma para investimentos globais", diz José Carlos Grubisich, presidente da
Braskem, a maior produtora de
resinas da América Latina.
Até o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) espera que os
campos do pré-sal alcancem o
setor. "É possível que, durante
algum tempo, a indústria petroquímica sofra por falta de
matéria-prima, mas os novos
campos deverão resolver o problema", diz Cintia Moreira,
chefe do Departamento de Indústria Química do banco.
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