São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008

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Pirataria cresce na esteira da alta do comércio global

Ataques de piratas aumentam 10% em um ano na navegação comercial; Brasil aparece entre as escalas mais arriscadas

Indonésia, Nigéria e Somália são pontos mais perigosos; prejuízo é expressivo, pois 80% do comércio mundial é transportado via marítima

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

À sombra da expansão do comércio internacional, cresce a pirataria marítima, um mal que atinge, em maior ou menor grau, todos os continentes. Segundo o IMB (International Maritime Bureau), foram registrados 263 ataques de piratas em 2007, um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. No mesmo período, o comércio global cresceu 7%.
O pico do número de ataques foi observado em 2000 com o recorde de 469 notificações. Após o 11 de Setembro, houve um recrudescimento das normas mundiais de segurança, o que acarretou num decréscimo do número de casos. A tendência atual, entretanto, é de alta. Tanto na freqüência dos ataques quanto na violência dos piratas. O instituto estima que o número de casos de ações de piratas no ano passado possa ser o dobro, já que nem todos foram relatados à instituição.
As águas da Indonésia, da Nigéria e da Somália foram, no ano passado, os pontos mais perigosos para a navegação comercial. O Brasil, com quatro ocorrências, também figura na lista de escalas potencialmente arriscadas. Segundo o IMB, os piratas que atacam no Brasil têm uma predileção por fazer reféns usando armas de fogo.
"Embora o número de ataques tenha diminuído no porto de Santos, recomendamos que as embarcações continuem atentas", diz trecho do relatório anual da instituição. Na América do Sul, o Peru também é citado como um país vulnerável.
A Somália é o ponto mais temido pelos navegadores pela combinação de dois fatores: grande número de quadrilhas organizadas e ausência de Estado após o colapso do governo central. Puntland, uma região somáli semi-autônoma desde 1998, vive uma explosão de casos de pirataria. Só em 2007, foram 31 casos. Há 17 anos sem um Estado organizado, fica impossível a coordenação para a prevenção de novos ataques entre as autoridades de segurança internacional e a Somália. As soluções possíveis são meramente paliativas.
Mesmo antes do recente incidente envolvendo piratas na Somália, que capturaram um veleiro francês de luxo, a diplomacia francesa já recomendava que as embarcações passassem o mais longe possível da costa.
A mesma recomendação é endossada por organismos internacionais de controle marítimo. A medida, porém, tem dois inconvenientes: 1) o aumento do percurso encarece os custos do frete; 2) os piratas estão mais ousados e se lançam além de 200 milhas náuticas (cerca de 400 quilômetros) para atacar as embarcações.

Prejuízos econômicos
"A pirataria não afeta apenas a tripulação a bordo das embarcações, exportadores e governos. Ela afeta também o cidadão comum, que pode se ver privado de mercadorias necessárias", diz o relatório do IMB.
O IMB divide os ataques em duas categorias. Uma é a forma de agressão mais comum, que consiste em invadir a embarcação, dominar a tripulação, levar objetos de valor. Nessa modalidade, também é usual o pedido de resgate para a liberação da tripulação com somas de até US$ 2 milhões.
Uma segunda categoria, a que mais preocupa, é o ataque por quadrilhas fortemente armadas e com um esquema logístico minucioso. Geralmente, elas atacam com lanchas modernas que se comunicam com um "navio-mãe", que serve para transportar os artigos roubados. Os alvos são mercadorias com grande valor agregado e facilmente distribuídas no mercado negro: produtos petrolíferos brutos, metais e peixes.
Com 80% do comércio mundial transportado pela via marítima, a questão da pirataria ganha uma amplitude econômica. No meio das seguradoras e das empresas, entretanto, há um certo temor de calcular as perdas anuais provocadas pela pirataria nos mares. A maioria dos armadores prefere não divulgar o valor das perdas para não afugentar a clientela que poderia perder a confiança.
A seguradora alemã Munich Re Group, especializada em pirataria marítima, não arrisca cifras, mas enfatiza que cada caso isoladamente pode representar perdas de milhões de dólares. "As perdas diretas causadas por roubos e pagamentos de resgate são agravadas por perdas indiretas, como perda de contratos, multas por atraso de mercadorias, pagamento adicional para tripulantes, seguros mais caros e custos para combater a pirataria", avalia relatório da seguradora.
Para tentar se proteger do aumento dos ataques contra empresas de navegação, algumas seguradoras têm criado apólices para essas companhias que nivelam os riscos da operação de transporte de carga ao risco de atuar em zonas de guerra.
Na avaliação de Pottengal Mukundan, diretor do IMB, não é apenas a questão econômica que representa uma ameaça, mas, sobretudo, a questão ambiental.
Ele imagina um cenário catastrófico: "E se um petroleiro seqüestrado afundar?"
Diante da pergunta, o governo da França anunciou que vai apresentar uma série de propostas para combater a pirataria aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Internamente, especialistas do setor se dividem.
De um lado, um grupo que defende que as embarcações sejam reforçadas com a presença de militares.
Outros que dizem acreditar na eficácia de equipamentos de segurança mais sofisticados e melhor coordenação entre os Estados.


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