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Pirataria cresce na esteira da alta do comércio global
Ataques de piratas aumentam 10% em um ano na navegação comercial; Brasil aparece entre as escalas mais arriscadas
Indonésia, Nigéria e Somália são pontos mais perigosos; prejuízo é expressivo, pois 80% do comércio mundial é transportado via marítima
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
À sombra da expansão do comércio internacional, cresce a
pirataria marítima, um mal que
atinge, em maior ou menor
grau, todos os continentes. Segundo o IMB (International
Maritime Bureau), foram registrados 263 ataques de piratas
em 2007, um crescimento de
10% em relação ao ano anterior. No mesmo período, o comércio global cresceu 7%.
O pico do número de ataques
foi observado em 2000 com o
recorde de 469 notificações.
Após o 11 de Setembro, houve
um recrudescimento das normas mundiais de segurança, o
que acarretou num decréscimo
do número de casos. A tendência atual, entretanto, é de alta.
Tanto na freqüência dos ataques quanto na violência dos
piratas. O instituto estima que
o número de casos de ações de
piratas no ano passado possa
ser o dobro, já que nem todos
foram relatados à instituição.
As águas da Indonésia, da Nigéria e da Somália foram, no
ano passado, os pontos mais
perigosos para a navegação comercial. O Brasil, com quatro
ocorrências, também figura na
lista de escalas potencialmente
arriscadas. Segundo o IMB, os
piratas que atacam no Brasil
têm uma predileção por fazer
reféns usando armas de fogo.
"Embora o número de ataques tenha diminuído no porto
de Santos, recomendamos que
as embarcações continuem
atentas", diz trecho do relatório
anual da instituição. Na América do Sul, o Peru também é citado como um país vulnerável.
A Somália é o ponto mais temido pelos navegadores pela
combinação de dois fatores:
grande número de quadrilhas
organizadas e ausência de Estado após o colapso do governo
central. Puntland, uma região
somáli semi-autônoma desde
1998, vive uma explosão de casos de pirataria. Só em 2007, foram 31 casos. Há 17 anos sem
um Estado organizado, fica impossível a coordenação para a
prevenção de novos ataques
entre as autoridades de segurança internacional e a Somália. As soluções possíveis são
meramente paliativas.
Mesmo antes do recente incidente envolvendo piratas na
Somália, que capturaram um
veleiro francês de luxo, a diplomacia francesa já recomendava
que as embarcações passassem
o mais longe possível da costa.
A mesma recomendação é
endossada por organismos internacionais de controle marítimo. A medida, porém, tem
dois inconvenientes: 1) o aumento do percurso encarece os
custos do frete; 2) os piratas estão mais ousados e se lançam
além de 200 milhas náuticas
(cerca de 400 quilômetros) para atacar as embarcações.
Prejuízos econômicos
"A pirataria não afeta apenas
a tripulação a bordo das embarcações, exportadores e governos. Ela afeta também o cidadão comum, que pode se ver
privado de mercadorias necessárias", diz o relatório do IMB.
O IMB divide os ataques em
duas categorias. Uma é a forma
de agressão mais comum, que
consiste em invadir a embarcação, dominar a tripulação, levar
objetos de valor. Nessa modalidade, também é usual o pedido
de resgate para a liberação da
tripulação com somas de até
US$ 2 milhões.
Uma segunda categoria, a
que mais preocupa, é o ataque
por quadrilhas fortemente armadas e com um esquema logístico minucioso. Geralmente,
elas atacam com lanchas modernas que se comunicam com
um "navio-mãe", que serve para transportar os artigos roubados. Os alvos são mercadorias
com grande valor agregado e facilmente distribuídas no mercado negro: produtos petrolíferos brutos, metais e peixes.
Com 80% do comércio mundial transportado pela via marítima, a questão da pirataria ganha uma amplitude econômica.
No meio das seguradoras e das
empresas, entretanto, há um
certo temor de calcular as perdas anuais provocadas pela pirataria nos mares. A maioria
dos armadores prefere não divulgar o valor das perdas para
não afugentar a clientela que
poderia perder a confiança.
A seguradora alemã Munich
Re Group, especializada em pirataria marítima, não arrisca
cifras, mas enfatiza que cada
caso isoladamente pode representar perdas de milhões de dólares. "As perdas diretas causadas por roubos e pagamentos
de resgate são agravadas por
perdas indiretas, como perda
de contratos, multas por atraso
de mercadorias, pagamento
adicional para tripulantes, seguros mais caros e custos para
combater a pirataria", avalia relatório da seguradora.
Para tentar se proteger do
aumento dos ataques contra
empresas de navegação, algumas seguradoras têm criado
apólices para essas companhias
que nivelam os riscos da operação de transporte de carga ao
risco de atuar em zonas de
guerra.
Na avaliação de Pottengal
Mukundan, diretor do IMB,
não é apenas a questão econômica que representa uma
ameaça, mas, sobretudo, a
questão ambiental.
Ele imagina um cenário catastrófico: "E se um petroleiro
seqüestrado afundar?"
Diante da pergunta, o governo da França anunciou que vai
apresentar uma série de propostas para combater a pirataria aos membros do Conselho
de Segurança das Nações Unidas. Internamente, especialistas do setor se dividem.
De um lado, um grupo que
defende que as embarcações
sejam reforçadas com a presença de militares.
Outros que dizem acreditar
na eficácia de equipamentos de
segurança mais sofisticados e
melhor coordenação entre os
Estados.
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