São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Investimento no exterior recua 67% no ano

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com o agravamento da crise, empresas brasileiras já dão sinais de que não manterão o nível recorde de investimentos externos que se observou nos últimos anos. Segundo dados do Banco Central, de janeiro a fevereiro, o dinheiro aplicado por essas companhias no exterior caiu 67% em relação ao mesmo período de 2008.
O número se refere a investimentos diretos feitos por empresas brasileiras em outros países, o que inclui aquisição de outras companhias ou expansão da capacidade produtiva de plantas já instaladas no exterior. No primeiro bimestre deste ano, esse fluxo somou US$ 1,48 bilhão, contra US$ 4,54 bilhões observados nos primeiros dois meses de 2008.
Ao longo de 2008, os investimentos brasileiros no exterior chegaram a US$ 34,09 bilhões, valor mais alto já registrado pelas estatísticas do BC e que corresponde a uma média de US$ 2,84 bilhões por mês -quase o quádruplo da média apurada no primeiro bimestre de 2009.
Ainda assim, alguns especialistas avaliam que a queda nos investimentos externos é temporária e a situação deve se reverter depois de passada a fase mais aguda da crise.
"A tendência [de internacionalização] não muda. As empresas brasileiras já perceberam, há muito tempo, que elas só serão grandes se forem fortes também no mercado global", diz Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Para Lacerda, a situação atual do mercado pode até abrir oportunidade para que companhias brasileiras com boa situação financeira possam partir para aquisições de empresas estrangeiras com dificuldades em seus mercados locais.
O problema, nesse caso, seria superar a escassez de crédito para encontrar fontes de financiamento para a compra.
Para o professor Álvaro Cyrino, pesquisador da Fundação Dom Cabral, é de esperar que, com a crise, as empresas adiem seus novos projetos de investimento no exterior, mas mantenham as unidades que já estejam em operação. "Até porque não é tão simples para uma empresa, neste momento, se desfazer de seus ativos", diz.
Segundo o BC, nos primeiros dois meses deste ano, empresas brasileiras desfizeram investimentos -ou seja, venderam suas filiais no exterior- no valor de US$ 2,16 bilhões, muito próximo dos US$ 2,19 bilhões no mesmo período de 2008.
Para Cyrino, o impacto mais imediato para empresas brasileiras com negócios em outros países é sentido nas exportações. "Nesse caso, já se percebe que [as empresas] estão redirecionando suas atividades para mercados mais atrativos, ou mesmo ao mercado interno."
Por isso, afirma, é preciso que o governo brasileiro atue de forma agressiva nas negociações com outros países para evitar que medidas protecionistas intensifiquem o efeito que a crise tem tido sobre o setor produtivo brasileiro.


Texto Anterior: Foco: Exportador de carnes busca refúgio no mercado interno e derruba preços
Próximo Texto: Luiz Carlos Bresser-Pereira: A crise do supérfluo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.