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LUÍS NASSIF
Mesmos erros,
explicações iguais
Em dezembro do ano passado, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles,
declarou pela enésima vez que
a taxa de juros do país só cairia
com a queda do risco Brasil. E
pela enésima vez assegurou que
o risco Brasil cairia com a melhora dos fundamentos da economia.
O risco Brasil é definido, entre
outros fatores, principalmente
pelas cotações do C-Bond -o
título com maior negociação da
dívida brasileira. As cotações
desse papel dependem não apenas da situação do país em si,
mas das alternativas que os investidores dispõem para seus
investimentos.
Criou-se a seguinte lógica:
1) a retomada da atividade
econômica do país depende de
uma queda substancial dos juros, que
2) depende da queda do risco
Brasil, que
3) depende da melhoria do
valor do C-Bond, que
4) depende da disposição dos
investidores internacionais, que
5) pode ser alterada por qualquer evento relevante internacional, sem nenhuma relação
direta com o país.
Aí o Fed norte-americano
acena com a possibilidade de
aumento das taxas de juros internas. Parte dos investimentos
em papéis mais especulativos
retornará para os EUA. Como
não há idéia do volume que será atraído pelos juros norte-americanos, criam-se o chamado efeito manada -os investidores fogem de papéis de maior
risco para não serem atropelados pelos investidores que se anteciparem- e um maremoto
internacional com essa realocação de portfólio. E o Brasil
amarrado a essa irracionalidade.
Agora se é obrigado a ouvir os
mesmos cabeças de planilha de
sempre, do mercado, da imprensa e do BC, explicando que
a crise tem razões externas, portanto nada a ver com os fundamentos da economia brasileira.
Mas dói do mesmo jeito.
E que o risco Brasil é alto pelo
temor de que sobrevenham
controles administrativos -temores que são fruto exclusivo
das distorções da liberalização
cambial à brasileira.
Amadorismo
Na reportagem sobre Lula, o
correspondente do "New York
Times" cometeu o que comumente se chama de "esquentamento de matéria". Pegou um
boato, o hábito de beber de Lula. Associou-o a duas características de Lula que nada têm a
ver com o álcool: as gafes nas
declarações de improviso e o
desânimo atual. Juntou declarações de três fontes não apropriadas, um cronista cultural
que interpreta um personagem, um colunista político especializado em "potins" de
Brasília e um adversário político. Não apresentou nenhum
fato ou aparição pública que
mostrasse Lula embriagado.
Limitou-se a mencionar fotos
com faces vermelhas.
Nestes tempos em que a grande mídia norte-americana está
fragilizada perante seus leitores com acusações de "esquentamento" e de ficção nas reportagens, que se sabe que o correspondente era do grupo do
ex-diretor de Redação do jornal, que se demitiu após os escândalos com reportagens falsas, seria facílimo desqualificar
a obra e o criador. Bastaria
uma carta bem fundamentada
ao jornal, escrita em tom sóbrio e superior, demonstrando
tecnicamente o "esquentamento" ocorrido.
Em vez disso, transformaram
um jornalista de "esquentamento" em mártir da liberdade de imprensa.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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