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Consolidação do setor leva BB às compras
Para Banco do Brasil, aquisição do Besc seria chance de desfazer mito de que não pode comprar outros bancos por ser público
Incorporações podem evitar que instituição perca espaço para concorrentes privados diretos; Nossa Caixa e Banrisul estão na mira
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De olho na movimentação
dos seus principais concorrentes, o Banco do Brasil vê na
compra do Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) a oportunidade de romper com o tabu
de que, como instituição pública, não pode adquirir outros
bancos. Com isso, espera abrir
caminho para operações maiores e evitar que a sua posição de
líder do mercado seja ameaçada pelos rivais privados, sobretudo Bradesco e Itaú.
Essa equação inicial em discussão na área econômica, porém, precisa ainda vencer questões jurídicas. No entanto, ela
já colocou também na mira para possíveis novas investidas
por parte do BB a Nossa Caixa,
em São Paulo, e o Banrisul, no
Rio Grande do Sul -ambas são
instituições estaduais.
Apesar de o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ter afirmado que o BB comprará o Besc, o
Tesouro Nacional, controlador
das duas instituições, e a PGFN
(Procuradoria Geral da Fazenda Nacional) ainda não encontraram uma solução. O Besc foi
inscrito no PND (Programa
Nacional de Desestatização),
em 2001, e a venda para o BB
não seria uma "desestatização".
A alternativa em estudo é fazer uma incorporação por parte do BB, já que os dois bancos
são do Tesouro. Mas aí também
há um problema porque a legislação do Proes (o programa de
socorro aos bancos estaduais)
diz que a União poderia "adquirir o controle da instituição financeira, exclusivamente para
privatizá-la ou extingui-la".
Conveniência política
Até agora, a negociação com
instituições públicas é tida como uma saída "ideal" para acelerar o crescimento do BB.
Isso porque a estratégia une
os argumentos técnicos da instituição com a conveniência
política do governo do presidente Lula, que precisa de
apoio no Congresso e agradará
aos governadores em dificuldade de caixa.
Ainda assim, segundo a Folha apurou, a governadora do
Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), já teria sinalizado
para equipe econômica que não
tem interesse na venda do Banrisul. Apesar de precisar dos recursos, a avaliação é que o desgaste político que a medida geraria seria muito grande.
A Nossa Caixa, por sua vez,
permanece em suspense. Oficialmente ninguém comenta o
assunto no BB, mas uma negociação com o governador José
Serra (PSDB) é apontada como
a forma de o BB crescer no
maior mercado consumidor do
país e onde ele está atrás do
Bradesco e do Itaú.
No caso do Besc, a solução
também poderá ser conveniente para todos os envolvidos. A
negociação deverá encerrar
uma pendenga do governo federal com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, um
ex-rebelde do PMDB que começa a se aproximar de Lula.
Há anos o Estado e a União
não chegam a um acordo para
garantir a manutenção do pagamento dos salários do funcionalismo local no Besc, o que
pode levar a um aumento no
valor da instituição.
Por conta disso, a venda em
leilão do banco foi adiada em
2002. O Estado alegou na Justiça que a operação desvalorizaria o banco. Em dezembro de
2006, o governador negociou a
folha de salário com o Bradesco, mas a operação foi suspensa
pela Justiça com base nos mesmos argumentos que inviabilizaram o leilão anos antes.
Depois disso, Estado e União
começaram a se entender e o
BB entrou na jogada. Apesar do
viés político, segundo fontes do
governo envolvidas nas negociações, o negócio também é interessante para o BB.
O banco federal tenta aumentar sua eficiência. Na semana passada, anunciou reestruturação para economizar R$
285 milhões a partir de 2008 e
espera "quebrar o paradigma"
para crescer mais rapidamente.
Além disso, o BB tem interesse na subsidiária integral de
crédito imobiliário do Besc, a
Bescri, porque é uma área em
que o BB começa a atuar. Se
concretizar a compra, aumentará sua posição num mercado
de renda elevada.
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