São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Consolidação do setor leva BB às compras

Para Banco do Brasil, aquisição do Besc seria chance de desfazer mito de que não pode comprar outros bancos por ser público

Incorporações podem evitar que instituição perca espaço para concorrentes privados diretos; Nossa Caixa e Banrisul estão na mira

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De olho na movimentação dos seus principais concorrentes, o Banco do Brasil vê na compra do Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) a oportunidade de romper com o tabu de que, como instituição pública, não pode adquirir outros bancos. Com isso, espera abrir caminho para operações maiores e evitar que a sua posição de líder do mercado seja ameaçada pelos rivais privados, sobretudo Bradesco e Itaú.
Essa equação inicial em discussão na área econômica, porém, precisa ainda vencer questões jurídicas. No entanto, ela já colocou também na mira para possíveis novas investidas por parte do BB a Nossa Caixa, em São Paulo, e o Banrisul, no Rio Grande do Sul -ambas são instituições estaduais.
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter afirmado que o BB comprará o Besc, o Tesouro Nacional, controlador das duas instituições, e a PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional) ainda não encontraram uma solução. O Besc foi inscrito no PND (Programa Nacional de Desestatização), em 2001, e a venda para o BB não seria uma "desestatização".
A alternativa em estudo é fazer uma incorporação por parte do BB, já que os dois bancos são do Tesouro. Mas aí também há um problema porque a legislação do Proes (o programa de socorro aos bancos estaduais) diz que a União poderia "adquirir o controle da instituição financeira, exclusivamente para privatizá-la ou extingui-la".

Conveniência política
Até agora, a negociação com instituições públicas é tida como uma saída "ideal" para acelerar o crescimento do BB.
Isso porque a estratégia une os argumentos técnicos da instituição com a conveniência política do governo do presidente Lula, que precisa de apoio no Congresso e agradará aos governadores em dificuldade de caixa.
Ainda assim, segundo a Folha apurou, a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), já teria sinalizado para equipe econômica que não tem interesse na venda do Banrisul. Apesar de precisar dos recursos, a avaliação é que o desgaste político que a medida geraria seria muito grande.
A Nossa Caixa, por sua vez, permanece em suspense. Oficialmente ninguém comenta o assunto no BB, mas uma negociação com o governador José Serra (PSDB) é apontada como a forma de o BB crescer no maior mercado consumidor do país e onde ele está atrás do Bradesco e do Itaú.
No caso do Besc, a solução também poderá ser conveniente para todos os envolvidos. A negociação deverá encerrar uma pendenga do governo federal com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, um ex-rebelde do PMDB que começa a se aproximar de Lula.
Há anos o Estado e a União não chegam a um acordo para garantir a manutenção do pagamento dos salários do funcionalismo local no Besc, o que pode levar a um aumento no valor da instituição.
Por conta disso, a venda em leilão do banco foi adiada em 2002. O Estado alegou na Justiça que a operação desvalorizaria o banco. Em dezembro de 2006, o governador negociou a folha de salário com o Bradesco, mas a operação foi suspensa pela Justiça com base nos mesmos argumentos que inviabilizaram o leilão anos antes.
Depois disso, Estado e União começaram a se entender e o BB entrou na jogada. Apesar do viés político, segundo fontes do governo envolvidas nas negociações, o negócio também é interessante para o BB.
O banco federal tenta aumentar sua eficiência. Na semana passada, anunciou reestruturação para economizar R$ 285 milhões a partir de 2008 e espera "quebrar o paradigma" para crescer mais rapidamente.
Além disso, o BB tem interesse na subsidiária integral de crédito imobiliário do Besc, a Bescri, porque é uma área em que o BB começa a atuar. Se concretizar a compra, aumentará sua posição num mercado de renda elevada.


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