São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Aperto maior não deve evitar alta dos juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um aperto fiscal mais forte é viável e ajudaria no controle da inflação, mas, na opinião de especialistas ouvidos pela Folha, não seria suficiente para impedir que o Banco Central continue com a trajetória de alta dos juros iniciada no mês passado.
O governo estuda um aumento na meta para a economia feita pelo setor público para pagar juros de suas dívidas. Atualmente, o objetivo é conseguir, neste ano, um superávit primário equivalente a 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto). Como informou ontem a Folha, o governo avalia a possibilidade de elevar essa meta para 4,5% ou 5% do PIB.
Para Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec-RJ, a proposta é boa, pois, em tese, um maior superávit primário ajudaria a equilibrar o ritmo de crescimento da economia. Isso aconteceria porque esse tipo de ajuste poderia ser feito de duas maneiras: aumento de arrecadação ou cortes nos gastos públicos.
Em ambos os casos, o efeito seria um impulso menor para o nível de atividade, justamente a ameaça mais forte ao controle da inflação, segundo o BC. O receio é que as empresas não estejam preparadas para atender a expansão do consumo, abrindo espaço para pressões inflacionárias.
Braga, porém, duvida da capacidade do governo de realmente conter suas despesas. "Não cortou com o fim da CPMF [em janeiro], quando, para compensar a perda de arrecadação, foram elevados tributos sobre operações financeiras. Por que vai cortar agora o que não cortou três meses atrás?"
Já Luciano Costa, coordenador da área de pesquisa do Unibanco Asset Management, ressalta que elevar a meta de superávit primário para 4,5% do PIB não exigiria muito esforço do governo, já que, impulsionado pelo aumento da arrecadação, o resultado acumulado nos 12 meses encerrados em março já está em 4,46%. "Bastaria manter mais ou menos o que já está sendo feito."
Assim como Braga, porém, Costa afirma que a medida não iria interferir nas decisões das próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). "Teria um efeito mais de longo prazo. O BC não vai deixar de elevar os juros no curto prazo por causa disso."
O economista Francisco Lopreato, da Unicamp, ressalta ainda que uma mudança no nível do superávit primário levaria alguns meses para fazer efeito sobre a economia e que, portanto, não evitaria uma alta dos juros no mês que vem. "Você acha que o BC vai esperar isso [ser decidido] antes de subir a taxa de juros? Nunca."
Ainda assim, Lopreato defende que a elevação da meta fiscal seja discutida dentro de um planejamento de longo prazo, em que seja discutida a adoção de uma política anticíclica -ou seja, superávit maior em épocas em que a economia cresce e aperto menor quando o cenário econômico seja mais desfavorável.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Mesmo menor, é forte o ritmo de avanço do emprego industrial
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.