|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Aperto maior não deve evitar alta dos juros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um aperto fiscal mais
forte é viável e ajudaria no
controle da inflação, mas,
na opinião de especialistas
ouvidos pela Folha, não
seria suficiente para impedir que o Banco Central
continue com a trajetória
de alta dos juros iniciada
no mês passado.
O governo estuda um
aumento na meta para a
economia feita pelo setor
público para pagar juros
de suas dívidas. Atualmente, o objetivo é conseguir, neste ano, um superávit primário equivalente
a 3,8% do PIB (Produto
Interno Bruto). Como informou ontem a Folha, o
governo avalia a possibilidade de elevar essa meta
para 4,5% ou 5% do PIB.
Para Gilberto Braga,
professor de finanças do
Ibmec-RJ, a proposta é
boa, pois, em tese, um
maior superávit primário
ajudaria a equilibrar o ritmo de crescimento da
economia. Isso aconteceria porque esse tipo de
ajuste poderia ser feito de
duas maneiras: aumento
de arrecadação ou cortes
nos gastos públicos.
Em ambos os casos, o
efeito seria um impulso
menor para o nível de atividade, justamente a
ameaça mais forte ao controle da inflação, segundo
o BC. O receio é que as
empresas não estejam
preparadas para atender a
expansão do consumo,
abrindo espaço para pressões inflacionárias.
Braga, porém, duvida da
capacidade do governo de
realmente conter suas
despesas. "Não cortou
com o fim da CPMF [em
janeiro], quando, para
compensar a perda de arrecadação, foram elevados
tributos sobre operações
financeiras. Por que vai
cortar agora o que não
cortou três meses atrás?"
Já Luciano Costa, coordenador da área de pesquisa do Unibanco Asset
Management, ressalta que
elevar a meta de superávit
primário para 4,5% do PIB
não exigiria muito esforço
do governo, já que, impulsionado pelo aumento da
arrecadação, o resultado
acumulado nos 12 meses
encerrados em março já
está em 4,46%. "Bastaria
manter mais ou menos o
que já está sendo feito."
Assim como Braga, porém, Costa afirma que a
medida não iria interferir
nas decisões das próximas
reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). "Teria um efeito mais de longo prazo. O
BC não vai deixar de elevar os juros no curto prazo
por causa disso."
O economista Francisco
Lopreato, da Unicamp,
ressalta ainda que uma
mudança no nível do superávit primário levaria
alguns meses para fazer
efeito sobre a economia e
que, portanto, não evitaria
uma alta dos juros no mês
que vem. "Você acha que o
BC vai esperar isso [ser
decidido] antes de subir a
taxa de juros? Nunca."
Ainda assim, Lopreato
defende que a elevação da
meta fiscal seja discutida
dentro de um planejamento de longo prazo, em
que seja discutida a adoção de uma política anticíclica -ou seja, superávit
maior em épocas em que a
economia cresce e aperto
menor quando o cenário
econômico seja mais desfavorável.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Mesmo menor, é forte o ritmo de avanço do emprego industrial Índice
|