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Argentinos correm para comprar dólar
População busca se proteger contra efeitos de crise com inflação alta e retomada de conflito entre governo e setor rural
Bancos ficam sem moeda norte-americana para vender, o que aumenta o nervosismo no mercado financeiro do país vizinho
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O clima de crise iminente na
Argentina, devido ao conflito
entre o governo e o setor agropecuário e à alta da inflação,
provocou uma intensa procura
a bancos e casas de câmbio, nos
últimos dias, para a compra de
dólares.
Segundo o jornal "Âmbito Financeiro", vários bancos ficaram sem a moeda na sexta-feira
passada, o que aumentou a tensão no mercado.
A atual demanda fez com que
o Banco Central tivesse de vender ao menos US$ 1 bilhão na
semana passada.
Em alguns bancos, a demanda pela moeda triplicou, informou o jornal "Clarín".
Diante dos rumores e de correntes de e-mails alarmistas, a
presidente do banco estatal La
Nación, Mercedes del Pont,
tentou passar alguma tranqüilidade ao mercado.
Ela disse ontem que "na Argentina não há nenhuma condição objetiva para que se possa
desencadear um choque no
mercado financeiro, fuga de capitais ou disparada do dólar".
As mensagens eletrônicas
que se espalharam nos últimos
dias alertam para a possibilidade de um novo "corralito", como o que ocorreu durante a crise política e econômica de
2001, quando o governo congelou os depósitos bancários dos
argentinos.
Em entrevista a uma rádio, a
presidente do banco La Nación
atribuiu a corrida para comprar
dólares a especuladores.
"Não podemos ser ingênuos.
Entre aqueles que apostam em
um dólar a 3,50 [pesos] ou
mandam e-mails dizendo que
vai haver "corralito", há interesses econômicos", afirmou Del
Pont. "De nenhuma maneira o
governo vai deixar que o dólar
escape."
A líder da frente de oposição
Coalizão Cívica, Elisa Carrió,
também tentou acalmar os ânimos e afirmou que a situação
atual "não é 2001" e que não se
deve dar atenção para os e-mails "com opiniões desestabilizadoras".
Com a procura ao dólar, o peso vem se desvalorizando e fechou ontem a 3,21. O governo
argentino mantém uma política de "câmbio competitivo",
com o dólar valorizado em relação ao peso. Mas especialistas
afirmam que o valor de 3,20,
que deveria ser o teto, pode ser
um novo piso para a conversão.
Crise interna
Os rumores de uma possível
crise aumentaram após a declaração de um novo locaute do setor agropecuário na quinta-feira passada, depois de 37 dias de
uma negociação frustrada com
o governo.
Os ruralistas reclamam contra o aumento de impostos sobre a exportação de soja e girassol e interromperam a venda de
grãos ao exterior. Outro problema do país é a crescente inflação, que, segundo especialistas, seria três vezes maior do
que o índice oficial.
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