São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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Argentinos correm para comprar dólar

População busca se proteger contra efeitos de crise com inflação alta e retomada de conflito entre governo e setor rural

Bancos ficam sem moeda norte-americana para vender, o que aumenta o nervosismo no mercado financeiro do país vizinho


ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

O clima de crise iminente na Argentina, devido ao conflito entre o governo e o setor agropecuário e à alta da inflação, provocou uma intensa procura a bancos e casas de câmbio, nos últimos dias, para a compra de dólares.
Segundo o jornal "Âmbito Financeiro", vários bancos ficaram sem a moeda na sexta-feira passada, o que aumentou a tensão no mercado.
A atual demanda fez com que o Banco Central tivesse de vender ao menos US$ 1 bilhão na semana passada.
Em alguns bancos, a demanda pela moeda triplicou, informou o jornal "Clarín".
Diante dos rumores e de correntes de e-mails alarmistas, a presidente do banco estatal La Nación, Mercedes del Pont, tentou passar alguma tranqüilidade ao mercado.
Ela disse ontem que "na Argentina não há nenhuma condição objetiva para que se possa desencadear um choque no mercado financeiro, fuga de capitais ou disparada do dólar".
As mensagens eletrônicas que se espalharam nos últimos dias alertam para a possibilidade de um novo "corralito", como o que ocorreu durante a crise política e econômica de 2001, quando o governo congelou os depósitos bancários dos argentinos.
Em entrevista a uma rádio, a presidente do banco La Nación atribuiu a corrida para comprar dólares a especuladores.
"Não podemos ser ingênuos. Entre aqueles que apostam em um dólar a 3,50 [pesos] ou mandam e-mails dizendo que vai haver "corralito", há interesses econômicos", afirmou Del Pont. "De nenhuma maneira o governo vai deixar que o dólar escape."
A líder da frente de oposição Coalizão Cívica, Elisa Carrió, também tentou acalmar os ânimos e afirmou que a situação atual "não é 2001" e que não se deve dar atenção para os e-mails "com opiniões desestabilizadoras".
Com a procura ao dólar, o peso vem se desvalorizando e fechou ontem a 3,21. O governo argentino mantém uma política de "câmbio competitivo", com o dólar valorizado em relação ao peso. Mas especialistas afirmam que o valor de 3,20, que deveria ser o teto, pode ser um novo piso para a conversão.

Crise interna
Os rumores de uma possível crise aumentaram após a declaração de um novo locaute do setor agropecuário na quinta-feira passada, depois de 37 dias de uma negociação frustrada com o governo.
Os ruralistas reclamam contra o aumento de impostos sobre a exportação de soja e girassol e interromperam a venda de grãos ao exterior. Outro problema do país é a crescente inflação, que, segundo especialistas, seria três vezes maior do que o índice oficial.


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