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AgroFolha
Custos elevados mantêm preços dos alimentos em alta
Conforme a região, produtores poderão gastar até 50% a mais neste ano com sementes, adubos e produtos químicos
Produtor venderá safra com base na cotação do dólar, que está fraco diante do real, mas custos seguem o real, que segue valorizado
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A preocupação dos bancos
centrais com a pressão inflacionária vivida neste momento,
devido à alta dos alimentos, deve continuar. Se a pressão atual
vem do desequilíbrio entre aumento do consumo e pouca
oferta, virá, também, a partir de
agora, dos elevados custos de
produção enfrentados pelos
produtores em todo o mundo.
Os bons preços internacionais das commodities agrícolas
devem incentivar os produtores a plantar mais e a buscar
maior produtividade. A produção pode ser maior, mas a um
custo mais elevado do que o da
safra anterior. Essa pressão de
custo se espalha pelo planeta.
O Brasil, um dos principais
fornecedores mundiais de alimentos, não fica imune a essa
alta. Ao contrário, tem gastos
superiores aos de outros países,
principalmente devido às deficiências em infra-estrutura. No
país, os custos dos produtores
neste ano devem superar em
até 50% os do ano anterior, dependendo da região.
Essa alta se deve à forte aceleração no preço dos insumos
-sementes, adubos, produtos
químicos etc. O líder de aumento são os adubos e fertilizantes.
Algumas regiões do país, principalmente as fronteiras agrícolas, estão pagando o dobro do
que pagavam no ano passado.
Conforme negócios realizados na BN - Bolsa de Negócios,
Insumos e Sementes, especializada em negociações de produtos agrícolas, algumas fórmulas
de adubos e fertilizantes tiveram aumento de 120% entre
março do ano passado e abril
deste ano.
"A indústria de insumos tem
perfeito controle sobre os custos, elevando ou baixando seus
preços de forma a controlar a
rentabilidade do produtor." A
afirmação é de José Pitoli, da
Coopermibra (Cooperativa
Mista Agropecuária do Brasil).
Ele lembra que, quando os preços das commodities estão em
fase de baixa, as indústrias reduzem os custos. Na fase de alta, no entanto, repõem margens, elevando os preços.
O custo atual dos insumos
não preocupa o produtor Roberto Pozzi, de Maringá (PR),
mas também não o deixa tranqüilo. "Enquanto os preços das
commodities permanecerem
nos patamares atuais, temos
condições de pagar. Mas quem
garante que eles [os preços] vão
permanecer bons?"
Pozzi alerta para o seguinte
cenário: custos elevados dos insumos agora, queda nos valores
das commodities lá na frente e
dólar caindo para R$ 1,50 após
o Brasil conquistar a posição de
país seguro para investimento.
Segurar custos
Anderson Galvão, da Céleres,
diz que a safra 2008/9 vai ser
rentável para o produtor, mas
que essa lucratividade passa
por uma série de fatores. O produtor vai vender sua safra com
base na cotação do dólar, que
está fraco diante do real, mas
continua pagando parte dos
custos internos na moeda brasileira: óleo diesel -que acaba
de subir- e salário mínimo.
Diante desse cenário, Pitoli
diz que "o produtor não deve
abrir a guarda". Ele recomenda
bom controle sobre os investimentos, controle de gastos e
busca da maior produtividade
na lavoura.
No ano passado, o plantio foi
feito com custos menores e
perspectivas de preços maiores. Neste ano, no entanto, os
custos estão elevados e muita
coisa, inclusive uma recessão
na economia norte-americana,
pode derrubar os preços no início do próximo ano. "Se o produtor não travar custo, pode
perder renda", afirma Pitoli.
É o que os produtores de Mato Grosso estão fazendo, onde
grande parte deles já "comprou
pacotes de adubos e de insumos
químicos", segundo Juscelino
Jankoski, da Rural Consultoria,
de Nova Mutum (MT).
Com esses pacotes, os produtores travam os custos de adubos e fertilizantes, de sementes, de fungicidas, inseticidas e
herbicidas. Em média, o produtor está gastando por volta de
42 sacas de soja, negociadas a
cerca de US$ 20 cada uma.
Apesar dos custos elevados,
Jankoski diz que o produtor vai
ter boa renda neste ano. "Melhor do que a da safra 2007/8 [a
que se encerrou]", diz ele.
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