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Renda de negros cresce 222% em 8 anos
Consumidores negros e pardos devem fechar 2010 com receitas de R$ 546 bi, o que representa 40% do total das famílias
Dados incluem rendimento
de trabalhos avulsos e
temporários; salário do negro,
no entanto, ainda equivale
à metade do do branco
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os consumidores negros e
pardos devem fechar 2010 com
uma renda de R$ 546 bilhões
no bolso, o que equivale a 40%
do total previsto para todas as
famílias (negras e não negras)
do país, de R$ 1,38 trilhão.
Isso significa que, a cada R$
10 disponíveis para o consumo
neste ano no Brasil, R$ 4 estarão em poder de trabalhadores
negros e pardos (com ou sem
carteira assinada). No total da
população, eles representam
51%. Em 1998, eram 45%.
As projeções da renda disponível neste ano foram feitas pelo Data Popular, instituto de
pesquisas e consultoria, a partir
dos rendimentos das famílias
da Pnad de 2008, última disponível pelo IBGE.
Os valores foram atualizados
para 2010 e consideram a inflação medida pelo IPCA no período, os reajustes concedidos
ao salário mínimo nos últimos
dois anos e a previsão de crescimento do país de 5% neste ano.
Em 2002, a massa de renda
total de negros e pardos foi de
R$ 170 bilhões. Se confirmada a
previsão deste ano (R$ 546 bilhões), o crescimento será de
222% em relação àquele ano.
O resultado chama a atenção
porque o salário de um negro
ainda é cerca da metade do de
um branco. Mesmo assim, a
massa de renda dos negros já
representa 40% do total.
O que explica essa aparente
contradição é que no total de
rendimentos das famílias não
entram somente salários. No
cálculo estão todas as fontes de
receita -como trabalhos avulsos (bicos) e temporários.
A disparidade salarial obrigou as famílias negras a estimularem também o trabalho de
crianças e adolescentes para
complementar a renda.
"Em uma família branca,
que, em geral, é menos numerosa, é comum encontrar só o
pai como gerador de renda", diz
Renato Meirelles, sócio-diretor
do instituto. "Na família negra,
os filhos trabalham. Se não for
assim, não terão como pagar a
faculdade e melhorar de vida."
O aumento de emprego formal e o maior acesso à educação e ao crédito são as principais razões para explicar a alta
no poder de consumo dos negros. De 1998 a 2008, a proporção de negros e pardos com ensino superior completo no total
de adultos (25 anos ou mais)
passou de 2,2% para 4,7%.
"As políticas públicas que
vêm sendo desenvolvidas desde o final do governo FHC também contribuem para ajudar na
inserção do negro no mercado
de trabalho", diz Meirelles.
"Antes, havia mais negros na
informalidade, com renda ainda menor. Hoje não há como falar sobre a nova classe média
brasileira sem falar no negro."
A classe C negra deve ter disponível renda de R$ 187 bilhões
neste ano -ou 43,8% da renda
total prevista para a classe C
(com renda de 3 a 10 mínimos).
Mas as empresas ainda estão
longe de atender ao anseio desse consumidor. "Ter uma política de inclusão não significa
somente ter um sabonete específico ou colocar o negro como
garoto-propaganda. Isso é um
avanço, mas é preciso entender
os valores e a cultura negra."
Alcir Gomes Leite, diretor-executivo e sócio da DM9, diz
que empresas e marcas estão
"aprendendo" a olhar para a
classe C independentemente
de sua cor.
"Ainda existem erros absurdos de criar estereótipos para
essa classe, que tem hábitos e
um jeito próprio de ser. O Brasil é um país de classes C e D,
acho estranho considerar que
são nichos de mercado."
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