|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OMC deixa Brasil barrar pneu reformado
Órgão acata argumentos do Itamaraty contra União Européia, mas medida só vale se proibição também atingir pneu usado
Produtos são comprados por empresas brasileiras que conseguem, na
Justiça, liminares que permitem a importação
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A OMC (Organização Mundial do Comércio) acatou os argumentos do Itamaraty e decidiu que o governo brasileiro pode proibir a importação de
pneus reformados da União
Européia. Mas a medida só poderá ser adotada sob a condição
de tornar a proibição efetiva, ao
abranger a importação de
pneus usados. Hoje, liminares
permitem a compra do produto
por empresas brasileiras.
Pneus reformados são aqueles que já estão prontos para rodar. Os usados precisam de recuperação.
Ao divulgar ontem a decisão
da OMC e a interpretação do
Itamaraty, o governo informou
que espera, agora, uma decisão
do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre uma ADPF (Argüição de Descumprimento de
Preceito Fundamental), apresentada pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no ano passado, questionando a concessão das liminares.
"Há que comemorar, sim, essa decisão. A importação de
pneus usados e reformados está proibida pela legislação desde 1991. Esperamos agora que o
Supremo atue de forma definitiva e resolva esse problema",
afirmou o secretário-executivo
do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.
Somente em 2006, chegaram
ao Brasil 7,6 milhões de pneus
reformados vindos de países da
UE. O número é bem inferior
aos 10,5 milhões de 2005. Segundo Capobianco, a queda já
reflete atuação do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e da AGU (Advocacia
Geral da União) no Judiciário.
Os pneus usados são comprados por empresas brasileiras
que conseguem, na Justiça, liminares permitindo a importação. Entre os argumentos utilizados por elas, está o fato de o
Uruguai vender pneus reformados ao Brasil.
Nesse caso, porém, o Itamaraty explica que perdeu a questão, sem possibilidade de recurso, no âmbito do Mercosul. Isso
significa que Argentina, Uruguai e Paraguai podem vender
pneus reformados ao Brasil. Isso dá margem até para que empresas européias utilizem os
três países como plataforma de
exportação ao Brasil.
"O painel reconheceu que há
uma discriminação justificada.
A abertura para o Mercosul não
foi condenada pela OMC", afirmou Flávio Marega, coordenador-geral de Contenciosos do
Itamaraty. No ano passado, foram importados 164 mil pneus
reformados do país vizinho.
Para Francisco Simeão, presidente da BS Colway Pneus,
importadora de pneus usados,
o Brasil perdeu o painel da
OMC e agora o governo utilizaria o revés como cortina de fumaça para uma nova lei. "Estão
querendo criar um ambiente
favorável para proibir em lei a
importação do pneu usado."
De fato, a OMC afirmou que a
permissão de importar pneus
usados dos parceiros do Mercosul pode comprometer a meta
do governo brasileiro de reduzir resíduos de pneus no país.
Por isso, a OMC diz no relatório
que portarias do Ministério do
Desenvolvimento e uma resolução do Conama (Conselho
Nacional de Meio Ambiente)
são inconsistentes com normas
do Gatt (Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio).
Para atender à condição imposta pela OMC, o governo precisa agora estabelecer linhas de
ação para o caso de o STF decidir de forma contrária e validar
as liminares ou se o tribunal
preferir não se manifestar.
Segundo o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Roberto Carvalho de Azevedo, "não há nenhum curso de
ação excluído neste momento",
nem mesmo a edição de uma
medida provisória eliminando
eventuais falhas da legislação.
De acordo com o Itamaraty, a
ministra Carmen Lúcia, do
STF, receberia o relatório da
OMC. A própria ministra teria
solicitado a documentação para auxiliar na sua decisão.
Procurada pela Folha ontem, a União Européia não quis
comentar a decisão da OMC.
Texto Anterior: Inflação: Alimentos levam preços a subir 0,40% em São Paulo, diz Fipe Próximo Texto: Frases Índice
|