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Anatel abre caminho para acordo BrT-Oi
Sob pressão do governo, agência reguladora aprova proposta de mudança na legislação que permite fusão entre teles
Diretores mudam de
posição depois de o
Planalto cogitar indicar
conselheiro substituto
para acabar com impasse
VALDO CRUZ
LUCIANA OTONI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após pressões do governo, a
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) superou
ontem o impasse entre seus
conselheiros e aprovou proposta de mudança no PGO (Plano
Geral de Outorgas), que será
submetida a consulta pública e
é o primeiro passo para a aprovação oficial da fusão entre a
Brasil Telecom e a Oi.
A decisão foi tomada ontem,
por unanimidade, em reunião
com os quatro conselheiros da
agência, que estavam divididos
sobre o tema. O texto aprovado
passará por consulta pública
para receber sugestões, a partir
das quais a Anatel irá redigir a
proposta final que será encaminhada ao presidente Lula.
Embora todos os diretores
fossem favoráveis às mudanças
no PGO, que vão permitir que
uma telefônica compre outra
fora de sua região, acabando
com a proibição legal para a fusão das duas empresas, dois deles impunham restrições.
Pedro Jaime Ziller e Plínio
Aguiar Júnior, ex-sindicalistas,
defendiam que a proposta de
mudança do PGO fixasse que as
empresas do setor deveriam se
dividir em duas: uma de telefonia fixa e outra de banda larga.
Com essa medida, acreditavam
que evitariam corte de empregos no setor.
Segundo a Folha apurou, os
dois foram convencidos a deixar essa discussão para outra
etapa, provavelmente na definição do PGA-T (Plano Geral
para Atualização da Regulamentação das Telecomunicações). Ziller, ao final da reunião, admitiu que esse tema fica para o "futuro". Aguiar Júnior fez questão de destacar
que ontem a agência tomou decisão apenas sobre as concessões das companhias telefônicas e que o setor de banda larga
será discutido separadamente.
A mudança de posição dos
diretores ocorreu após o Planalto cogitar indicar um conselheiro substituto para acabar
com o impasse na Anatel.
O governo começou a discutir essa solução, prevista na legislação, após a ex-diretora da
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) Denise Abreu ter
acusado a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) de fazer
pressões para aprovar a venda
da Varig para a VarigLog, em
junho de 2006.
O governo evitou o caminho
da pressão explícita para não
ser acusado de repetir o estilo
adotado na Anac. E a estratégia
escolhida foi ameaçar lançar
mão de manobra regimental
com a indicação de um conselheiro substituto, cuja nomeação não precisa de aprovação
do Senado.
Ziller e Aguiar Júnior avaliaram que, com a indicação desse
conselheiro, perderiam importância na agência e ficariam em
desvantagem na hora de fazer
negociações futuras nas mudanças das regras do setor.
Ziller tem ainda um interesse particular -renovar seu
mandato na agência, que acaba
em novembro. Ele nega estar
fazendo essa negociação, mas
assessores de Lula afirmaram
que, se ele mantivesse sua posição contrária, perderia a chance de permanecer na Anatel.
A agência fez questão de destacar que a proposta fechada
ontem vale para todas as empresas do setor e não é direcionada só à Brasil Telecom e à Oi.
Com isso, a Telefônica estará
liberada para, no futuro, adquirir a nova tele nacional, cuja
operação foi concluída em abril
por R$ 5,863 bilhões.
Mas, nas negociações para a
formação da nova empresa,
que será financiada pelo
BNDES, o governo Lula estabeleceu uma condição: que o banco terá o direito de vetar a venda da companhia.
A medida visa evitar que a Oi,
depois de comprar a BrT, negocie a nova tele com a espanhola
Telefônica ou a mexicana Telmex. Desde o início, o governo
justificou sua decisão de apoiar
a operação sob a alegação de
que o país precisa ter uma empresa nacional forte no setor.
Ao final da reunião de ontem, o presidente da Anatel,
Ronaldo Sardenberg, insistiu
na importância de o Planalto
indicar o conselheiro definitivo
para a vaga que está aberta desde novembro. Ele teme que a
ausência do quinto conselheiro
provoque novos impasses nas
etapas seguintes do processo
de modificação do PGO.
Além dessas mudanças propostas pela Anatel, a partir de
sugestão do Ministério das Comunicações, o Congresso também discute alterações na Lei
do Cabo, que trata da transmissão de conteúdo audiovisual.
As operadoras de telefonia
querem usar sua rede de infra-estrutura (fios instalados) para
ofertar TV por assinatura. Hoje, as teles só podem oferecer
TV paga por satélite (DTH) ou
microondas (MMDS).
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