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LUÍS NASSIF
A Embratel e o interesse nacional
A guerra da Embratel contra o modelo de comunicações brasileiro já está chegando a um limite quase irreversível de esgarçamento. Independentemente do controle, a Embratel foi formada dentro de uma cultura nacional, como uma das empresas símbolo da modernização brasileira.
A história da moderna telefonia brasileira remonta a 1963,
com a criação do Código Brasileiro de Telecomunicações. Depois,
com a criação do Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações). Em 1965 foi criada a Embratel, que teve para as comunicações brasileiras -guardadas
as devidas proporções- importância similar à do marechal
Cândido Rondon.
Em 1967, o governo federal criou o Serviço Nacional de Telecomunicações, a Telebrás, e deu início ao processo de montagem
de uma rede nacional de operadoras fixas, adquirindo teles estaduais e municipais. A jóia da coroa nunca foram as teles, em geral submetidas a indicações políticas locais e nacionais e apenas
preocupadas com a telefonia fixa.
De 1972 a 1979, coube à Embratel consolidar a rede básica, implantar o DDD nacional, o sistema de microondas, integrar a
Amazônia, trazer a Copa do
Mundo, possibilitar a criação das
redes de emissoras de televisão,
ser a primeira empresa brasileira
a entrar na área de telecomunicações, na tecnologia de ponta,
nos satélites.
Nesse período, ela soube se colocar a salvo das demandas políticas e consolidar uma estrutura
profissionalizada, em grande
parte devido ao fato de ter ficado
sob a guarda de militares, preocupados com o conceito de segurança nacional, com o desenvolvimento da tecnologia nacional.
Na época da privatização, o
próprio ministro das Comunicações, Sérgio Motta, ficou em dúvida sobre privatizar a empresa.
Depois, se pensou na criação de
uma "golden share" (ação especial com direito a veto). Acabou
não se fazendo nada.
O quadro que se tem hoje é o
das Forças Armadas nas mãos da
Embratel, assim como todo o sistema de comunicação por televisão e a comunicação de dados do
governo. E o que se tem na outra
ponta? Vários problemas envolvendo a Embratel, todos eles ligados ao seu estilo de governança.
A agressividade de sua controladora, a WorldCom, se manifestou na maneira de se relacionar
com a herança pública que recebeu dos tempos de estatal. Ameaçou cortar sinal de TVs educativas e até o do Exército, um ano
atrás, por falta de pagamento,
não cuidou de criar vínculos com
a comunidade nacional.
Mais que isso, a expansão mundial da WorldCom se deu explorando as brechas legais dos novos
sistemas de telecomunicações que
eram montados nos diversos países. Tornou-se especialista em
apelar para expedientes legais e
financiamento maciço, em vez de
se especializar em visões estratégicas e mercadológicas dos novos
setores.
De orgulho nacional, hoje a
Embratel é vista como empresa
multinacional desagregadora,
inclusive investindo contra o
maior avanço do período para o
setor, a criação de uma agência
de regulação independente e que
necessita ficar a salvo de ingerências políticas, e o próprio modelo
de privatização das telecomunicações.
Sua controladora está prestes a
ruir. Independentemente do que
ocorra, de quem sejam os próximos controladores, a Embratel
tem que reconstruir sua personalidade corporativa, integrar-se de
novo ao país, recuperar parte da
sua imagem e de sua história.
Voltar a ser brasileira, enfim.
OMC e soja
Na ultima reunião da Camex,
ficou decidido e público que o
contencioso da soja estava tecnicamente concluído. Ficou faltando só a decisão política de formalizar o painel de arbitragem na
OMC. Ate agora nada. A exemplo do episódio da intervenção no
Espírito Santo, o governo e o Ministério das Relações Exteriores
precisam se definir: ou entram
com a queixa na OMC ou explicam por que não entram.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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