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OPINIÃO ECONÔMICA
Os riscos do crescimento econômico
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O ano de 2004 tem sido marcado por um otimismo conjuntural e um pessimismo estrutural em relação à economia
mundial. O crescimento está espalhado pelo mundo, atingindo
até a esclerosada Velha Europa e
o moribundo Japão. A causa
principal desse boom econômico é
o aumento muito forte do comércio internacional, a partir, principalmente, do vigoroso crescimento chinês.
São inúmeros os países que vêm
apresentando, como o Brasil, um
crescimento de mais de 30% em
suas exportações. Estimulado por
esse fortalecimento da atividade
voltada para os mercados externos, um grande número de economias nacionais já vêm apresentando sinais evidentes de crescimento no consumo interno. Esse cenário produz uma boa e uma
má notícia para países como o
Brasil.
A boa notícia é que sabemos
que essa combinação de vigor na
atividade voltada para a exportação com o consumo interno em
expansão produz uma conjuntura internacional de crescimento
acima da média. São ciclos que
ocorrem de tempos em tempos e
que correspondem a uma melhora estrutural no bem-estar dos cidadãos nas nações envolvidas
nessa dinâmica.
A má noticia é que esses ciclos
de expansão acabam criando
condições estruturais que vão levar ao seu esgotamento e ao início de uma fase de queda do crescimento. Essa regra é tão válida
como a que regula o vaivém dos
mares! A principal diferença entre os ciclos econômicos e as marés é que os primeiros estão sujeitos a fatores de difícil compreensão, enquanto estas podem ser
acompanhadas, com segurança,
pelos jornais e pela internet.
Para avaliar os riscos associados a esse ciclo de crescimento que
estamos vivendo no mundo -e
que está provocando um sentimento de euforia no Brasil-, é
necessário entender a dinâmica
da economia mundial, neste início de século. Os dois pólos dinâmicos do crescimento atual são os
Estados Unidos e a China. Embora ainda haja uma grande diferença de tamanho entre essas
duas economias, quando se olha
o crescimento das principais variáveis econômicas, essa diferença
praticamente desaparece.
Tomemos o exemplo do aumento do consumo de cobre gerado no
ventre desse ciclo de expansão: os
chineses já são responsáveis por
mais de um terço desse crescimento. O mesmo ocorre com outras
commodities, principalmente o
petróleo. Outro exemplo impressionante da importância da China, no mundo de hoje, é o crescimento de sua participação nas reservas internacionais que ocorreu
entre fevereiro de 2002 e abril de
2004. Nesse período, as nações do
mundo aumentaram suas reservas externas em US$ 2 trilhões, e a
China foi responsável por 20% do
total.
A integração entre a economia
americana e a chinesa é a chave
da fase de expansão que estamos
vivendo. Um repeteco ampliado
do que aconteceu com o Japão, 30
anos atrás. Os Estados Unidos são
os grandes clientes do comércio
externo chinês, ao importar um
volume crescente de mercadorias
para o consumo. Já a China, com
o superávit em dólares criado
com suas vendas para a terra do
Tio Sam, usa esses recursos para
comprar máquinas e equipamentos -de seus parceiros na Ásia,
na Alemanha e em outros países
europeus- e commodities -de
países do mundo emergente.
Tudo funciona como se a China
fosse uma bomba de sucção que
aspira a demanda e os dólares do
Tio Sam e recicla esse dinamismo
para seus parceiros comerciais.
Esse é hoje o motor do crescimento mundial e do qual o Brasil é
um dos grandes beneficiários. Esse arranjo, entretanto, não é estável no longo prazo por várias razões.
A primeira é de natureza financeira. O déficit comercial americano, da ordem de 5% de seu PIB,
acaba inundando o mundo com
moeda americana. São mais de
US$ 500 bilhões, por ano, que chegam aos cofres dos exportadores
de todo o mundo. Esse imenso volume de moeda precisa ser trocado por moedas locais, como o
yuan chinês e o iene japonês, nos
mercados de câmbio. Se o mercado comandasse esse processo, haveria uma intensa desvalorização
do dólar e um aumento do valor
das moedas dos países que exportam para os Estados Unidos, principalmente o da moeda chinesa.
Caso isso ocorresse, o sistema de
aceleração da atividade econômica, que hoje existe, entraria em
colapso, em razão da perda de
competitividade dos exportadores chineses, e o mundo mergulharia em um ciclo de contração
da atividade econômica.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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