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POLÍTICA ECONÔMICA
Conselho, que determina a meta de inflação, voltaria a ter representantes de empresas e sindicatos
Lula quer ampliar a composição do CMN
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva quer ampliar a composição
do CMN (Conselho Monetário
Nacional), colocando assim mais
uma pedra no sapato do ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Sua idéia é manter a maioria
de membros do governo, mas incluir, como já ocorreu no passado, representantes do empresariado e de sindicatos.
A Folha apurou que Lula tem
dito em conversas reservadas que
deseja ampliar o CMN, hoje composto apenas por três membros:
os ministros Palocci e Guido
Mantega (Planejamento), além
do presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles.
Na prática, seria uma recriação
do CMN, órgão que nasceu em
1964 para ser a instância máxima
da política monetária e do sistema
financeiro. Em 1994, na edição do
Plano Real, o conselho se transformou num apêndice da equipe
econômica.
No dia 2 passado, Lula repetiu
sua intenção em conversa com
Paulo Skaf, o presidente eleito da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo). Skaf é
defensor da ampliação do CMN.
Palocci resiste por ter, na prática, o controle do CMN hoje. Meirelles, que obteve status de ministro por articulação de Palocci, é
afinado com o ministro da Fazenda. Já Mantega, que chegou a ensaiar em 2003 contestações internas a Palocci, recolheu-se e faz
sem hesitar o que Lula determina.
A ampliação do CMN poderia
diluir o poder de Palocci no órgão
que, por exemplo, fixa a meta de
inflação, utilizando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) como parâmetro. Essa meta é
perseguida pelo Banco Central,
mas não fixada por ele.
Outro exemplo de poder do
CMN: interferir nas fórmulas de
cálculo de taxas de juros especiais,
como a TJLP (Taxa de Juro de
Longo Prazo). Ou seja, é muito
poderoso, capaz de, no mínimo,
restringir a margem de manobra
do ministro da Fazenda para conduzir a política econômica.
Por que Lula demonstra disposição de discutir para valer uma
modificação do CMN na hora em
que a política de Palocci apresenta
uma série de sinais positivos?
Primeiro porque é um compromisso de campanha que ele adiou
enquanto avaliou que precisava
atravessar um período duro de
ajuste fiscal e monetário. Agora,
que julga ter entrado numa espécie de fase dois da economia, acha
que pode oxigenar algumas discussões e atender a uma reivindicação de empresários e sindicalistas simpáticos ao governo.
"Nós queremos envolver mais
gente da sociedade, inclusive gente da produção, para a gente discutir melhor os destinos da política econômica brasileira", disse o
então candidato do PT a presidente, em sabatina feita pela Folha em agosto de 2002. O temor
atual de Palocci é que aconteça
exatamente o que preconizou o
candidato Lula.
A discussão sobre o CMN ocorre num contexto no qual membros do governo e aliados de Lula
desejam interferir na política econômica. Vide a última proposta
do presidente da CUT (Central
Única dos Trabalhadores), Luiz
Marinho: pacto social. Palocci
bombardeou a idéia.
Criado com o BC em 1964, o
CMN obteve o atual formato a
partir de 1º de julho de 1994, na
medida provisória de implantação do real, editada pelo ex-presidente Itamar Franco. Antes, era
composto por 20 membros.
Desses 20, 13 eram ministros,
presidentes de bancos oficiais e o
presidente da Comissão de Valores Mobiliários. Seis representantes eram escolhidos pelo presidente entre "brasileiros de ilibada
reputação e notória capacidade
em assuntos econômicos financeiros". Geralmente, eram oriundos de entidades empresariais.
Um representante dos trabalhadores era indicado pelo presidente "ouvidas as centrais sindicais".
A intenção de Lula é manter
uma composição algo parecida.
Por exemplo, o ministro Roberto
Rodrigues, da Agricultura, teria
assento. Rodrigues, aliás, foi
membro do CMN como representante de entidades da agricultura. Carlos Lessa, presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e que tem divergências com
Palocci, teria assento também.
Na época em que foi membro
da equipe econômica do governo
Fernando Henrique Cardoso, o
economista Gustavo Franco, que
chegou a presidir o BC, disse que a
mudança an composição se justificava porque havia entre os
membros do CMN pessoas diretamente interessadas nas decisões
dos órgãos. Para Franco, havia
conflito de interesses.
Tal argumento sensibiliza a
equipe econômica de Palocci, segundo a Folha apurou. Se for inevitável a alteração, o ministro da
Fazenda procurará manter uma
formato que não seja tão amplo
como no passado, tentando atender ao desejo de Lula e fazendo alguma concessão a empresários e
sindicalistas aliados ao governo.
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