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Pacote não atinge a baixa renda nem reduz déficit habitacional
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O pacote para compra da casa
própria, anunciado ontem pelo
governo, terá pouco efeito na
redução do déficit habitacional
do país, de 7,9 milhões de moradias. "Só com subsídio à população de baixa renda é possível eliminar esse déficit. E isso
o pacote não contém", diz João
Cláudio Robusti, presidente do
Sinduscon São Paulo (Sindicato da Construção Civil).
O Sinduscon estima que os
governos (federal, estadual e
municipal) teriam de investir
R$ 5 bilhões por ano a fundo
perdido, além das linhas de financiamento e de recursos da
poupança do trabalhador
(FGTS), para zerar o déficit habitacional em 20 anos. "No entanto, os subsídios embutidos
nos diversos programas de financiamento à habitação popular somam apenas R$ 1,8 bilhão neste ano", diz Robusti.
O déficit habitacional foi calculado pela FGV Projetos com
base no número de unidades
necessárias para substituir os
3,7 milhões de moradias inadequadas (favelas, cortiços, casas
de taipa e outras) e os 4,2 milhões de residências onde vive
mais de uma família (coabitação familiar). A FGV baseou-se
em dados do IBGE, de 2004.
O estudo mostra que 92% das
famílias que vivem nas moradias inadequadas ganham até
cinco salários mínimos. "Nessa
faixa de renda, o acesso à casa
própria depende de subsídio direto", diz Ana Maria Castelo,
consultora da FGV Projetos.
Não há dados sobre a renda dos
que vivem em coabitação.
Em São Paulo, o financiamento de um imóvel para famílias com renda de até cinco salários está limitado a R$ 40 mil
no PAR (Programa de Arrendamento Residencial), programa
do governo federal para a baixa
renda. O comprador paga um
aluguel de 0,7% do valor do
imóvel, durante 15 anos, e ao final torna-se seu proprietário.
Nessa prestação está incluído
um subsídio de 20%.
Mercado
Na opinião de Castelo, da
FGV Projetos, as medidas
anunciadas representam um
estímulo ao setor da construção civil, mas não resolvem o
problema do déficit habitacional. "A medida que mais se
aproxima das necessidades das
famílias com renda mensal de
cinco salários mínimos é a redução de impostos sobre materiais de construção", diz ela.
Robusti, do Sinduscon, também considera que as medidas
melhoram as condições de financiamento para a "habitação
de mercado", ou seja, de quem
pode pagar. A desoneração fiscal, segundo ele, é o principal
benefício à baixa renda. Mas faz
um alerta: "Ao baratear o custo
da construção, o governo acabará estimulando o setor informal e a expansão de favelas e de
moradias irregulares". Para
evitar isso, o pacote deveria
conter medidas para reduzir a
burocracia na legalização das
pequenas obras, segundo ele.
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