São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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Mercado Aberto

MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@grupofolha.com.br

Rumo a Copenhague

A Folha ouviu signatários de documento enviado ao governo que cobra posição arrojada do Brasil na conferência mundial COP-15 sobre mudanças climáticas

"Interesse é econômico e ambiental"

De olho na COP-15, que ocorrerá em dezembro, empresários querem papel de liderança para o Brasil e se comprometem a publicar inventário de emissões dos gases de efeito estufa e a promover ações para reduzi-las.
Os 22 executivos de grandes empresas, muitas exportadoras, que assinaram o documento entregue ao governo sabem que mudanças climáticas embutem riscos, mas oportunidades de negócios também. O país tem ativos florestais, matriz energética favorável e contribui com só 5% das emissões globais, sendo que mais de 60% decorrem do desmatamento.
Ao assumir metas, o Brasil pode receber recursos externos, além dos fluxos do mercado de carbono. Leia trechos das entrevistas.

 

DECISÃO
Luiz Claudio Castro, diretor de meio ambiente e desenvolvimento da Vale, afirma que no início de novembro, o governo brasileiro deve fechar sua posição para a COP-15.

 

ECONÔMICO
O fundamento é econômico, mais do que propriamente ambiental. Fizemos uma análise econômica de custos de adaptação. Há riscos financeiros bem grandes por situações climáticas extremas, secas intensas e inundações - além de oportunidades. Quem não olha esses riscos e oportunidades pode perder dinheiro. Há oportunidades tanto no MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), quanto a partir de reduções de emissão que o país venha a fazer.

 

OCASIÃO
O Brasil pode chegar à COP-15, com [meta de] 3% das emissões globais e em condição de cobrar que os desenvolvidos aumentem seus esforços.

METAS
As empresas recomendam que o governo defina metas. O governo diz que só assume metas se outro país assumir. Mas as empresas brasileiras, que atuam no exterior, vão perder competitividade ou até sofrer sanções comerciais se o país em Copenhague não adotar posição séria de líder mundial nessa questão. Esse tema da Conferência de Copenhague é extremamente relevante, mas o mundo hoje não soluciona esse problema sem uma atuação protagonista do Brasil.

 

DIPLOMACIA
Gostaríamos que a diplomacia brasileira migrasse de uma posição que ela adotou quando o Protocolo de Kyoto foi constituído. Não adianta repetir que esse é um problema histórico das sociedades desenvolvidas e que elas têm que pagar um preço. Isso pode ser verdade, mas se continuarmos nesse raciocínio, seremos os mais afetados. Quando o clima muda, as sociedades mais pobres são as mais afetadas. Acho que o governo caminhará para efetivamente assumir uma meta de desmatamento bastante agressiva. O país tem condição de fazer isso.

 

NEGÓCIOS
Os negócios brasileiros podem ser beneficiados. A Fibria, por exemplo, nasce com 1,3 milhão de hectares de florestas, dos quais 460 mil hectares são nativas. O Brasil tem muito a ganhar em termos de sequestro de carbono e ganhos competitivos para a sua economia. O setor de celulose e papel brasileiro é o que primeiro se adequou. Alguns acham que o papel é ambientalmente agressivo, que ele gera um mal para a natureza. Mas se você fizer uma atividade ambientalmente bem planejada, a produção de papel gera desenvolvimento econômico e social.

"Carbono zero não vai existir nunca"

LIDERANÇA
O importante é o Brasil jogar no ataque para negociar. O país não pode ficar só assistindo. O Brasil tem todas as condições para liderar os países em desenvolvimento com tranquilidade. A bola está quicando na área. O país tem tudo para ser uma potência ambiental. Mas não pode ter uma posição firme se não assumir compromissos.
O importante é ter um número, sair desse número e passar para outro. Precisa reduzir a emissão, mas precisa sequestrar também. Carbono zero não existirá nunca. Esse é um ponto em que o Brasil ficou para trás e precisa recuperar o tempo perdido agora.

 

COMERCIAL
Quando os clientes lá fora virem uma celulose ou um papel "made in Brazil" e "by Suzano", vão falar: "eu prefiro esse". No Brasil, todo mundo tem certificação. Mas tem muita produção no mundo, na China, por exemplo, que não tem certificação nenhuma. O interesse pelo "made in Brazil" por ser ambientalmente correto, pode criar uma demanda boa para os nossos produtos.

 

CARBONO
Nós não podemos ficar fora do Kyoto, porque a floresta tem esse conceito de temporaneidade. Nós temos que gerar crédito de carbono e cobrar pelo que nós geramos aqui como um negócio. Uma espécie de "business" para quem está emitindo muito nos países desenvolvidos. Vender crédito de carbono não é um grande negócio hoje porque a floresta plantada e a nativa não valem nada pelo Protocolo de Kyoto. Como é que você vai fazer a preservação das florestas nativas na Amazônia, por exemplo, sem gerar renda? Aí é que entra essa questão do Redd [Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal]. Eu nunca vi uma movimentação de empresários como essa.

"Temos que reformar comportamentos"

DESMATAMENTO
A Amazônia queima e cria um problema enorme ao mundo. No [combate ao] desmatamento é importante termos recursos. Se você arrumar uma usina e ela puder produzir mais energia, sem dano ambiental adicional, e se você puder ter um crédito em relação a esse tipo de ação, isso viabiliza outras ações. Conseguimos ter um aumento de produção reconhecido pelo mecanismo de desenvolvimento limpo MDL. Geramos esse crédito-carbono e o vendemos. Esse negócio muda tremendamente a vida da empresa? Não. Até porque o crédito não é grande o suficiente para que se altere a estrutura do negócio. Mas você pode reforçar os negócios em torno de causas que sejam boas.

 

COMPROMISSO
Grandes grupos nacionais podem assumir compromissos, isto é potencializar vantagens.
Grandes empresários apoiam o país numa posição mais ousada. A nossa matriz, que já é limpa, ficará mais limpa ainda. A casa é de todos e está exigindo comportamento mais adequado. Mas não se pode expulsar os inadequados. A matriz energética brasileira é muito boa. Não é emissora de carbono. Mais da metade da contribuição brasileira ao efeito estufa está relacionada ao desmatamento. Temos que criar emergência, reformar comportamentos. As grandes contribuições para o efeito estufa estão em outros lugares, não aqui. Se o país, com seu exemplo, liderar a agenda e assumir compromissos de metas, isso será relevante. O Brasil tem a vantagem de que se colocássemos, por exemplo, um selo de energia limpa, seríamos aquele que detém a melhor qualificação para esse tipo de título.

 

MARINA SILVA
Marina Silva coloca o tema do meio ambiente na agenda do futuro presidente.



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