São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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ROGER AGNELLI

Metas já


Ou pagamos agora a conta para reverter o aquecimento global, ou pagaremos mais tarde; temos de fazer isso já

EM DEZEMBRO , o mundo se voltará para Copenhague, onde se realizará a 15ª Conferência da Partes (COP15) da Convenção da ONU para as Mudanças Climáticas.
Discutir formas de redução de gases responsáveis pelo efeito estufa é o objetivo da reunião. Espera-se que se estabeleçam compromissos e que se definam metas para combater o aquecimento global. O debate será também geopolítico: do fórum devem sair decisões que podem redefinir o planeta que conhecemos.
Assistimos a transformações profundas no mundo, nas posições de vários países quanto aos aspectos ambientais. As novas gerações estudam o tema nas escolas, a sociedade está organizada, convencida da importância da sustentabilidade.
Os consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes de produtos e serviços ambientalmente corretos -as prateleiras dos supermercados refletem a mudança de atitude. O empresário que não se preparar para novos critérios de consumo, padrões de comportamento e de mentalidade, que não aderir a práticas e a princípios de uma economia de baixo carbono, que não tiver preocupação ambiental e não privilegiar fontes limpas de energia, não vai vender. Entendo que a COP15 não será um fórum restrito a problemas ambientais; no encontro, estarão em jogo questões comerciais e de mercado.
Trabalhar no desenvolvimento de novas tecnologias para reduzir os impactos sobre o ambiente tornou-se um imperativo para as empresas. Já há empresas globais que tratam o assunto com transparência e adotam o modelo do Global Reporting Initiative (GRI). Auditadas por institutos independentes, são obrigadas a medir e a divulgar seus balanços de emissões.
O novo governo japonês acaba de propor cortar até 25% de suas emissões. Se isso acontecer, várias cadeias produtivas deixarão de ser economicamente viáveis lá. É uma oportunidade para o Brasil. Contudo, para recebermos novas empresas, precisaremos reduzir a zero o desmatamento e assim ter crédito positivo no nosso balanço de emissões. Lixo e saneamento, questões graves no Brasil, devem constar da agenda de Copenhague. Não investir em estações de tratamento nem na reciclagem do lixo é uma grande agressão ao ambiente -o metano que exala dos lixões é um dos maiores vilões do efeito estufa.
Com uma matriz de geração de energia elétrica predominantemente hídrica (quase 87%), com incomparável biodiversidade e produção adiantada de biocombustíveis, o Brasil reúne todas as condições para liderar os debates na COP15, mas terá de se comportar de forma transparente e clara. Precisará apresentar metas, pois, como os países desenvolvidos já têm um grande passivo a ser amortizado, suas metas deverão ser maiores. Bom para o Brasil, se reduzirmos a zero, como tem de ser, o desmatamento ilegal.
O lançamento da Carta Aberta sobre Mudanças Climáticas, em São Paulo, no mês passado, demonstra o preparo da iniciativa privada para assumir metas e fazer o seu papel nesse processo, como já estamos fazendo. Reunimos entidades e 22 grupos empresariais -um fato raro- que sabem que não há alternativa: ou pagamos agora a conta para reverter o aquecimento global, ou pagaremos mais tarde. Temos de fazer isso já.


ROGER AGNELLI, 50, economista e diretor-presidente da Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.


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