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Cai o poder de compra do dólar no Brasil
Em dezembro de 1979, US$ 1.000 compravam 100 cestas básicas; hoje, a mesma quantidade da moeda adquire 33,2 cestas
Poder de compra é menor até
do que em 1996, no auge do
Plano Real, quando o câmbio
era fixo; para especialistas,
moeda deverá cair mais
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Nunca o dólar teve um poder
de compra tão baixo no Brasil
como hoje, revela estudo da
Economática obtido com exclusividade pela Folha. Considerando a inflação acumulada
desde 1980 pelo IPCA, US$
1.000 hoje compram 33,2 cestas básicas. Pelo mesmo valor,
em dezembro de 1979 eram adquiridas 100 cestas.
Nem no auge do Plano Real,
quando o câmbio era fixo, o dólar registrou um poder de compra tão baixo. Em dezembro de
1996, dava para levar para casa
37,6 cestas básicas.
Após o repique de 2002,
quando bateu em 85,3 cestas
básicas, o dólar só perdeu valor,
com pequenos períodos de recuperação.
Naquela época, a crise detonada pelo receio da eleição do
então candidato do PT Luiz
Inácio Lula da Silva provocou
uma fuga de investimentos e o
fechamento de linhas externas
de financiamento, o que fez o
dólar disparar e encostar em
R$ 4, causando pressão inflacionária e alta dos juros.
No auge da crise de 2002, a
moeda norte-americana bateu
na máxima histórica de R$
3,99. Desde então, o dólar derreteu e está agora na casa de R$
1,80, patamar que tende a permanecer por um bom tempo,
segundo especialistas.
No curto prazo, é difícil a recuperação da cotação do dólar,
que tende a se depreciar ainda
mais com o aumento dos investimentos externos no país.
O ingresso de capitais deve
se intensificar ainda mais com
o "grau de investimento" que o
Brasil deve conquistar no próximo ano, avalia Sidnei Nehme,
da corretora NGO.
"O "grau de investimento"
trará mais investimentos de
qualidade para o Brasil. Com a
expectativa da entrada de mais
dólares, a tendência é a cotação
se manter em baixa", diz.
Para Fernando Exel, presidente da Economática, "há no
Brasil uma abundância de dólares por causa do grande saldo
da balança comercial". Uma
reação da moeda, diz, depende
da deterioração do superávit,
que só ocorrerá se a demanda
por commodities, especialmente da China e da Índia, cair.
"Começa a pairar um cenário
de incerteza sobre a inflação na
China, que pode fazer os juros
subirem e conter o consumo.
Se isso acontecer, pode haver
impacto nas exportações brasileiras e, conseqüentemente, no
câmbio", afirma Exel.
Já Nehme diz que a queda do
saldo comercial não impedirá o
recuo do dólar. Vai apenas
amenizar uma deterioração
maior da moeda norte-americana, segundo ele.
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