São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

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Cai o poder de compra do dólar no Brasil

Em dezembro de 1979, US$ 1.000 compravam 100 cestas básicas; hoje, a mesma quantidade da moeda adquire 33,2 cestas

Poder de compra é menor até do que em 1996, no auge do Plano Real, quando o câmbio era fixo; para especialistas, moeda deverá cair mais

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Nunca o dólar teve um poder de compra tão baixo no Brasil como hoje, revela estudo da Economática obtido com exclusividade pela Folha. Considerando a inflação acumulada desde 1980 pelo IPCA, US$ 1.000 hoje compram 33,2 cestas básicas. Pelo mesmo valor, em dezembro de 1979 eram adquiridas 100 cestas.
Nem no auge do Plano Real, quando o câmbio era fixo, o dólar registrou um poder de compra tão baixo. Em dezembro de 1996, dava para levar para casa 37,6 cestas básicas.
Após o repique de 2002, quando bateu em 85,3 cestas básicas, o dólar só perdeu valor, com pequenos períodos de recuperação.
Naquela época, a crise detonada pelo receio da eleição do então candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva provocou uma fuga de investimentos e o fechamento de linhas externas de financiamento, o que fez o dólar disparar e encostar em R$ 4, causando pressão inflacionária e alta dos juros.
No auge da crise de 2002, a moeda norte-americana bateu na máxima histórica de R$ 3,99. Desde então, o dólar derreteu e está agora na casa de R$ 1,80, patamar que tende a permanecer por um bom tempo, segundo especialistas.
No curto prazo, é difícil a recuperação da cotação do dólar, que tende a se depreciar ainda mais com o aumento dos investimentos externos no país.
O ingresso de capitais deve se intensificar ainda mais com o "grau de investimento" que o Brasil deve conquistar no próximo ano, avalia Sidnei Nehme, da corretora NGO.
"O "grau de investimento" trará mais investimentos de qualidade para o Brasil. Com a expectativa da entrada de mais dólares, a tendência é a cotação se manter em baixa", diz.
Para Fernando Exel, presidente da Economática, "há no Brasil uma abundância de dólares por causa do grande saldo da balança comercial". Uma reação da moeda, diz, depende da deterioração do superávit, que só ocorrerá se a demanda por commodities, especialmente da China e da Índia, cair.
"Começa a pairar um cenário de incerteza sobre a inflação na China, que pode fazer os juros subirem e conter o consumo. Se isso acontecer, pode haver impacto nas exportações brasileiras e, conseqüentemente, no câmbio", afirma Exel.
Já Nehme diz que a queda do saldo comercial não impedirá o recuo do dólar. Vai apenas amenizar uma deterioração maior da moeda norte-americana, segundo ele.


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