São Paulo, terça-feira, 13 de outubro de 2009

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Mulher leva Nobel de Economia
pela 1ª vez

Americana Elinor Ostrom é laureada por trabalho sobre gestão comunitária de recursos e divide prêmio com conterrâneo

"Nobel da crise" prestigia pesquisas menos abstratas, sobre como pessoas podem cooperar umas com as outras

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O Prêmio Nobel de Economia, criado em 1969, foi concedido pela primeira vez a uma mulher. Elinor Ostrom, 76, professora da Universidade de Indiana (EUA), é doutora em ciência política e pesquisa a gestão de recursos por comunidades. Ela dividiu o prêmio com Oliver Williamson, 77, professor da Universidade da Califórnia e doutor em economia. Ele estuda tomadas de decisão em empresas.
O Nobel deste ano registrou um número recorde de prêmios entregues a mulheres. No total, foram cinco pesquisadoras laureadas em áreas como química, medicina, literatura e economia.
No ano da crise, o comitê deixou de lado trabalhos focados em macroeconomia e em modelos abstratos. Os vencedores desenvolveram pesquisas de campo que procuram compreender como as pessoas cooperam entre si fora dos mercados convencionais. Um dos fatores em comum entre os trabalhos é a questão da regulação.
Para o comitê do prêmio, embora a teoria econômica tenha iluminado de forma abrangente as virtudes e as limitações dos mercados, tradicionalmente prestou menos atenção a outros arranjos institucionais.
O trabalho de Ostrom tem implicações em políticas ambientais e questões relacionadas ao aquecimento global. Seu trabalho derruba a tese de que, quando comunidades administram recursos ou bens finitos, acabarão por destruí-los, e que o melhor seria uma regulação centralizada ou privatização.
Com base em exemplos de gestão de áreas de floresta, suprimento de água e pasto, Ostrom comprovou que a gestão comunitária pode ter resultados melhores do que o previsto.
A pesquisadora se mostrou surpresa com o prêmio: "Que maneira de começar uma segunda de manhã!".

Burocratas
Em entrevistas, comentou seu trabalho: "Desde que nós descobrimos que algumas vezes os burocratas não têm as informações corretas, enquanto cidadãos e usuários dos recursos têm, nós esperamos que isso ajude a encorajar um senso de capacidade e de poder".
Na prática, o trabalho de Ostrom indica que políticas públicas, principalmente ambientais, têm mais resultados quando são baseadas na colaboração entre as partes, e não na simples imposição de regras. Em um trabalho de 2006, afirma que, quando os usuários estão engajados nas decisões referentes a regras que afetam a maneira como usam os recursos, a probabilidade de seguirem o que foi definido e monitorarem os outros é bem maior do que quando uma autoridade simplesmente impõe normas.
Já o trabalho de Williamson procura explicar o processo de tomada de decisão das empresas e como elas se estruturam.
As diversas hipóteses estudadas explicariam, por exemplo, por que uma empresa dependente de uma matéria-prima decide comprar o produto, no mercado livre, do fornecedor que oferecer o menor custo, ou se vai definir um contrato de longo prazo com um único fornecedor ou ainda se vai promover uma fusão para contar com o produto na própria empresa.
Segundo a pesquisa, o fator que define essas escolhas é o custo de transação. Na prática, em mercados de maior competição faz mais sentido negociar com parceiros externos. Em mercados menos eficientes, com menos competição, pode ser melhor à empresa desenvolver toda a cadeia, da matéria-prima ao produto final.
"Williamson mostrou que muito do que pensávamos como comportamento anticompetitivo pode ser uma resposta aos custos de transação", disse o economista Alex Tabarrok, da George Mason University.


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