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Analistas vêem potencial "chinês"
DA ENVIADA ESPECIAL A HORIZONTE (CE)
Dizer que o Ceará é a China brasileira pode não ser exatamente
um devaneio. Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que é
possível traçar um pequeno paralelo entre o país, maior indústria
manufatureira do mundo, e o Estado brasileiro, que começa a angariar clientes do mercado de luxo norte-americano e europeu.
"Nós temos coisas que eles [os
chineses] não têm: qualidade e
sensibilidade", diz o professor de
economia da FGV (Fundação Getulio Vargas) Evaldo Alves.
Alves explica que a entrada do
Ceará na rota do luxo mundial foi
gradativa. "Começou com o deslocamento da indústria têxtil do
Sul para o Nordeste. E não foi um
movimento automático, de forças
de mercado. O governo local deu
incentivos fiscais e preparou a
mão-de-obra, sem falar nos ajustes tecnológicos", explica.
O economista aponta para o fenômeno da localização das indústrias com perfil exportador. No
Ceará, na grande maioria das vezes, são escolhidas cidades na região metropolitana de Fortaleza
para que se possa usar mão-de-obra de interior, mais barata, e a
logística da capital -teoria que
explica a preferência por cidades
como Horizonte e Maracanaú.
"O governo do Ceará montou
um pólo de produção longe da
metrópole de Fortaleza, a uma
distância razoável de 200 km, para não ocorrer o problema da metropolitanização da miséria. É
uma forma de ter um desenvolvimento mais equilibrado", disse.
Professor de economia da PUC,
Rubens Sawaya também cita a
desvalorização cambial do final
dos anos 1990 como um dos fatores que incluem o Nordeste hoje
como exportador de luxo.
"As indústrias que serviam ao
mercado interno passaram a ver
boas perspectivas de importação.
Poderiam até competir com produtos chineses, em alguns casos",
diz Sawaya.
E o que aconteceu? "Marcas internacionais passaram a se interessar pela estratégia de se localizar no Nordeste, com uma infra-estrutura razoável, mão-de-obra
barata e já com dez anos de experiência."
Sawaya, no entanto, acha "complicada" a comparação do Ceará
com a China. Ele cita as "condições inigualáveis para a competitividade", a taxa de câmbio desvalorizada e a política de baixíssimos salários relativos. Mas ele enfatiza que o Brasil pode concorrer
em qualidade.
(IML)
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