São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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Analistas vêem potencial "chinês"

DA ENVIADA ESPECIAL A HORIZONTE (CE)

Dizer que o Ceará é a China brasileira pode não ser exatamente um devaneio. Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que é possível traçar um pequeno paralelo entre o país, maior indústria manufatureira do mundo, e o Estado brasileiro, que começa a angariar clientes do mercado de luxo norte-americano e europeu.
"Nós temos coisas que eles [os chineses] não têm: qualidade e sensibilidade", diz o professor de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas) Evaldo Alves.
Alves explica que a entrada do Ceará na rota do luxo mundial foi gradativa. "Começou com o deslocamento da indústria têxtil do Sul para o Nordeste. E não foi um movimento automático, de forças de mercado. O governo local deu incentivos fiscais e preparou a mão-de-obra, sem falar nos ajustes tecnológicos", explica.
O economista aponta para o fenômeno da localização das indústrias com perfil exportador. No Ceará, na grande maioria das vezes, são escolhidas cidades na região metropolitana de Fortaleza para que se possa usar mão-de-obra de interior, mais barata, e a logística da capital -teoria que explica a preferência por cidades como Horizonte e Maracanaú.
"O governo do Ceará montou um pólo de produção longe da metrópole de Fortaleza, a uma distância razoável de 200 km, para não ocorrer o problema da metropolitanização da miséria. É uma forma de ter um desenvolvimento mais equilibrado", disse.
Professor de economia da PUC, Rubens Sawaya também cita a desvalorização cambial do final dos anos 1990 como um dos fatores que incluem o Nordeste hoje como exportador de luxo.
"As indústrias que serviam ao mercado interno passaram a ver boas perspectivas de importação. Poderiam até competir com produtos chineses, em alguns casos", diz Sawaya.
E o que aconteceu? "Marcas internacionais passaram a se interessar pela estratégia de se localizar no Nordeste, com uma infra-estrutura razoável, mão-de-obra barata e já com dez anos de experiência."
Sawaya, no entanto, acha "complicada" a comparação do Ceará com a China. Ele cita as "condições inigualáveis para a competitividade", a taxa de câmbio desvalorizada e a política de baixíssimos salários relativos. Mas ele enfatiza que o Brasil pode concorrer em qualidade. (IML)


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