São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

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Condenados, Edemar e filho são presos

Ex-controlador do Banco Santos recebe pena de prisão de 21 anos, mas vai recorrer; advogado diz que prisão é ilegal

Mulher e executivos também são condenados; juiz justifica prisão dizendo que ex-banqueiro não parou de praticar crimes


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, 63, que controlava o Banco Santos, foi condenado a 21 anos de prisão sob acusação de ter praticado os crimes de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha e desvio de recursos públicos -no caso, verbas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
É a pena mais longa a que um banqueiro foi condenado no Brasil. Até então, o recorde era de 12 anos e quatro meses de prisão, pena a que foi condenado Tasso Assunção Costa, do Banco Hércules, de Minas.
O filho de Edemar, Rodrigo Rodrigues Cid Ferreira, 36, foi condenado a 16 anos de reclusão. A mulher do banqueiro, Márcia Cid Ferreira, pegou cinco anos e quatro meses de prisão. Ela foi condenada só por lavagem de dinheiro -Edemar colocava em nome dela empresas brasileiras e "offshores" usadas para desviar recursos do banco, segundo a sentença. "Offshore" é um tipo de empresa aberta em paraísos fiscais com o objetivo de facilitar transações no exterior e de esconder os verdadeiros proprietários do negócio.
Em ato simultâneo às condenações, o juiz Fausto Martins de Sanctis decretou a prisão preventiva de Edemar, Rodrigo, de um sobrinho do ex-banqueiro (Ricardo Ferreira de Souza e Silva) e de dois executivos do Banco Santos -Mário Archângelo Martinelli (ex-superintendente) e Álvaro Zucheli Cabral (ex-diretor administrativo). O juiz justifica a prisão com o argumento de que Edemar não interrompeu a prática de crimes.
Martinelli foi condenado a 18 anos e oito meses de prisão; o outro executivo e o sobrinho do ex-banqueiro, a 16 anos. Um outro executivo do banco, André Pizelli Ramos (ex-diretor de planejamento), condenado a 16 anos, não teve a prisão preventiva decretada. Eles são acusados de integrar um comitê informal do banco que articulava os desvios.
Edemar e Rodrigo foram presos pela Polícia Federal em suas respectivas casas por volta das 6h de ontem. A TV Globo acompanhou a prisão. Na imagem da TV, o paletó de Edemar cobre as algemas.
Eles fizeram exame de corpo de delito (para atestar que não foram agredidos) e foram encaminhados ao Centro de Detenção Provisória em Guarulhos, na Grande São Paulo.
O Santos sofreu intervenção do Banco Central em novembro de 2004 e em setembro do ano seguinte teve a sua falência decretada pela Justiça por causa de um rombo de R$ 2,1 bilhões. Os clientes ainda não recuperaram nada do dinheiro que tinham no banco.
Arnaldo Malheiros Filho, advogado de Edemar, entrou ontem com pedido de habeas corpus no TRF 3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). Segundo ele, a prisão é ilegal.
A sentença do juiz para o ex-controlador do Santos foi proporcional à pena: tem 665 páginas. Só o sumário tem mais de 217 páginas. Ele justifica o porte do texto pela complexidade dos supostos crimes e pelo tamanho do processo -412 volumes com 100 mil páginas. O processo foi um dos mais rápidos na história dos crimes financeiros no Brasil: durou 18 meses, prazo em que foram ouvidas mais de cem testemunhas.
Não é a primeira vez que Edemar é preso neste ano. Ele passou 89 dias na prisão, acusado de esconder obras de arte no exterior e de tentar obstruir a ação da Justiça.


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