São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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País recorre a financiamento externo

Com queda do saldo comercial, economia precisa de recursos do exterior para fechar suas contas, o que não ocorria desde 2001

No PIB do 3º trimestre, setor externo teve contribuição negativa; para IBGE, efeitos ainda não representam problemas no curto prazo

DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Desde o primeiro trimestre do ano passado, as importações sobem num ritmo mais acelerado do que as exportações, mas a tendência se acentuou no terceiro trimestre deste ano. As compras externas de bens e serviços cresceram 20,4%, enquanto o volume exportado aumentou apenas 1,8%.
Desse modo, a contribuição negativa do setor externo ficou em dois pontos percentuais no PIB do terceiro trimestre -5,7% na comparação com igual período de 2006.
Com o aumento das importações, o Brasil registrou necessidade de financiamento externo no terceiro trimestre de R$ 255 milhões, pela primeira vez desde 2001. Ou seja, o país precisou captar recursos no exterior para fechar suas contas.
Segundo o IBGE, o Brasil necessitou de recursos do exterior em razão da redução do saldo comercial de bens e serviços -de R$ 22,8 bilhões no terceiro trimestre de 2006 para R$ 10 bilhões em igual período deste ano. Rebeca Palis, gerente das Contas Nacionais do IBGE, atribuiu ao câmbio valorizado e ao aquecimento do consumo doméstico o aumento das importações e a conseqüente diminuição do saldo comercial.
Para ela, o fato de o país precisar novamente de recursos do exterior para fechar suas contas não é um problema no curto prazo, dado o alto volume de reservas internacionais -US$ 178 bilhões. Ressalva, porém, que a situação depende de quanto tempo e de qual a intensidade da necessidade de financiamento externo do país. "Hoje, há um colchão muito grande, que são as reservas."
Tomás Goulart, economista do banco Modal, também não vê entraves. Diz que há um fluxo positivo de capitais no mundo e que o Brasil não terá dificuldades para capitar recursos.
O economista Francisco Pessoa, da LCA, afirma que, no curto prazo, a necessidade de buscar recursos no exterior "não é preocupante", pois não se espera um déficit comercial no próximo ano. O Ipea estima um superávit da balança de US$ 31,6 bilhões em 2008, abaixo dos cerca de US$ 40 bilhões que devem ser alcançados neste ano.
Além disso, diz Pessoa, a dívida externa está caindo em proporção ao PIB, e o Brasil deve ter mais facilidade de captar recursos a custo menor com o grau de investimento, esperado para 2008. "Não se imagina o país numa situação de insolvência. Haverá um déficit, mas será financiado." O Ipea projeta déficit em conta corrente de 2,5% do PIB para 2008.
Para José Ronaldo Souza Jr., economista do Ipea, o crescimento das importações não é algo necessariamente ruim. "O consumo interno e os investimentos estão crescendo, e essa demanda adicional está sendo complementada pelas importações. Sem a oferta dos importados, poderia haver inflação porque a capacidade de produção está perto do limite."
Segundo ele, nos últimos anos do Plano Real, período de câmbio fixo e saldo comercial negativo, a maior parte das importações era de bens de consumo. Agora, diz, o destaque são as compras de máquinas e equipamentos no exterior, o que impulsiona investimentos.
"As empresas buscam melhorar, com isso, sua produtividade", disse Pessoa, da LCA.


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