|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Redução de imposto beneficia importados
Corte de IPI de carros para estimular setor beneficiará também produção em outros países, principalmente Argentina
Após erro, governo prepara uma edição extra do "Diário Oficial" para permitir venda de veículos com desconto
já neste final de semana
LEANDRA PERES
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do discurso oficial de
auxílio à manutenção de empregos, a redução de IPI sobre
veículos vai beneficiar carros
fabricados fora do Brasil e o estoque de veículos já prontos
que ocupam espaço em concessionárias e distribuidoras de
automóveis no país.
Ontem, o Ministério da Fazenda preparava uma edição
extra do "Diário Oficial" da
União para permitir a venda
com desconto do imposto neste
final de semana.
Ao contrário do que prometeram os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miguel Jorge
(Desenvolvimento), o decreto
de redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)
publicado ontem estabeleceu o
dia 15 de dezembro como data
de início para a cobrança das tarifas reduzidas.
Sem a correção da medida, as
concessionárias não poderiam
aplicar as novas alíquotas aos
carros vendidos neste fim de
semana. O governo chegou a
discutir com o setor uma saída
intermediária. Os veículos negociados nesses três dias só teriam as notas fiscais emitidas
na segunda-feira, com a nova
tabela em vigor. Mas a avaliação foi a de que era melhor reeditar o decreto presidencial.
Já a inclusão de carros importados na lista de redução
dos impostos não beneficiará a
indústria nacional e nem a manutenção de empregos no Brasil, e sim as montadoras, porque os automóveis fabricados
na Argentina também chegarão
às lojas com preço menor do
que o praticado atualmente.
Apenas de carros até mil cilindradas, cujo IPI foi zerado
no pacote de anteontem, foram
importados US$ 541,7 milhões
de janeiro a outubro deste ano,
sendo US$ 509,7 milhões da
Argentina. Em segundo lugar, a
Coréia vendeu US$ 15,9 milhões no mesmo período. Em
seguida vêm EUA (US$ 4,6 milhões), Japão (US$ 3,7 milhões)
e China (US$ 3,2 milhões), segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento.
O benefício fiscal concedido
pelo governo brasileiro coincide com a decisão do Senado
americano de sepultar um plano bilionário de socorro às
montadoras do país por críticas
à gestão das empresas.
Segundo a Folha apurou, os
veículos importados representam cerca de 13% do mercado
brasileiro. Apesar da redução
do IPI, os carros importados
continuarão pagando 35% de
TEC (Tarifa Externa Comum
do Mercosul).
"Não é que o contribuinte
brasileiro vá sustentar a produção lá fora. Mas o mundo é assim. Ninguém vai aceitar se o
Brasil só quiser vender [exportar carros], e não comprar [importar] nada", disse Sérgio Reze, presidente da Fenabrave.
Procurados pela Folha, a
Anfavea (Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos
Automotores) e o Ministério
do Desenvolvimento não se
pronunciaram.
Nova fatura
A extensão do benefício aos
carros que já estão nas concessionárias e, portanto, já pagaram o IPI nas alíquotas mais altas é justificada pelo estoque
elevado também fora do pátio
das montadoras.
De acordo com dados da Anfavea, as empresas tinham
186.370 carros parados no final
de novembro, número suficiente para atender à demanda
por 31 dias.
Para viabilizar a redução do
imposto, o governo vai autorizar as montadoras a faturar novamente esses veículos para as
concessionárias. É como se as
notas fiscais anteriores fossem
canceladas e fossem emitidas
novas com o recolhimento menor do IPI.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Foco: Clientes adiam compras à espera de redução de preço em concessionárias Índice
|