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BB dá perdão bilionário para usineiros
Repactuação de débitos feita pelo banco no governo Lula ocorre em um dos períodos mais lucrativos da história para o setor
Benefício atinge ao menos 20 produtores, que têm pago em torno de 5% do devido; instituição diz que acordos ajudam a recuperar créditos
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num dos períodos mais lucrativos para os usineiros de cana-de-açúcar no país, o Banco
do Brasil concedeu ao setor
perdão de dívidas superior a
R$ 1 bilhão, segundo documentos obtidos pela Folha.
O benefício foi garantido em
repactuações de débitos fechadas no governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo entre 2004 e 2006, referentes a empréstimos e financiamentos contraídos ou
renegociados na década de 90.
De 2003 para cá, o banco selou acordo com pelo menos 20
produtores, a maior parte do
Nordeste. Apenas em quatro
casos, a redução no valor alcança cerca de R$ 400 milhões.
Dois advogados ouvidos pela
Folha com vários clientes nessa situação, que pediram para
não ter seus nomes divulgados,
disseram que o perdão para os
20 usineiros ultrapassa facilmente R$ 1 bilhão. O grupo pernambucano União, por exemplo, pagou apenas 1,77% (R$ 3,7
milhões) dos R$ 208,63 milhões que devia originalmente.
Segundo o diretor de Reestruturação de Ativos Operacionais do BB, Ricardo Flores, a
partir de 2003 o banco tomou a
iniciativa de procurar os usineiros porque o setor entrara
numa boa fase com o aumento
do consumo de álcool por conta
do lançamento de carros bicombustíveis. "Com o "boom"
no setor, começaram a surgir as
oportunidades para o banco recuperar o crédito", disse.
O setor sucroalcooleiro aumentou seu faturamento de R$
2,02 bilhões em 2002, em números aproximados, para R$
7,9 bilhões no ano passado, de
acordo com dados levantados
pela Tendências Consultoria.
Segundo Flores, cada caso é
analisado individualmente. "O
objetivo é recuperar o maior
valor possível de crédito."
Nos acordos fechados até
agora, os usineiros têm pago
um pequeno percentual do total devido. Na média, os desembolsos feitos pelos produtores
para zerar suas obrigações com
o BB têm girado ao redor de 5%
do total cobrado pelo banco.
"Pode parecer um valor pequeno, mas é uma grande vitória para o banco", disse Flores.
Segundo ele, a grande diferença entre o que os usineiros
têm pago e o total devido decorre do uso, no passado, de indexadores para corrigir as dívidas
considerados irreais diante da
estabilidade econômica a partir
do Plano Real (1994).
Flores não nega nem confirma que os abatimentos ultrapassam R$ 1 bilhão. Apesar de
afirmar que nada tem a esconder sobre as negociações e que
todas as repactuações são públicas, ele não fala sobre o número global do perdão de dívidas alegando questões estratégicas e de sigilo bancário.
Exemplos
No caso do grupo União,
eram duas escrituras de confissão de dívida e duas cédulas rurais hipotecárias que somavam
R$ 208,63 milhões. Pelo acordo, pagou R$ 3,7 milhões ao BB,
mais o compromisso de repassar ao banco 25% de um crédito
que tenta receber do Incra.
O Ministério Público Federal, no entanto, contestou o direito dos controladores da
União ao suposto crédito devido pelo Incra, tendo obtido liminar suspendendo o processo
de execução. Se o BB quiser se
empenhar para receber esses
recursos (cujo valor não foi revelado), as custas processuais
ficam por conta do banco.
Os outros três grupos são as
destilarias Outeiro e Baía Formosa, do Rio Grande do Norte,
pertencentes a Eduardo José
de Farias, as usinas Cruangi,
Maravilhas e Iplanor, em Pernambuco, de José Guilherme
de Azevedo Queiroz, e a Companhia Açucareira do Vale do
Ceará Mirim, também no RN.
Os três grupos conseguiram
abatimento total, em números
aproximados, de R$ 189 milhões a R$ 255 milhões. De uma
dívida de cerca de R$ 265 milhões, em valores da época em
que os acordos foram fechados,
entre 2004 e 2006, pagaram
pouco mais de R$ 10 milhões.
No caso da Companhia Açucareira, a empresa não desembolsou nada. Cedeu o direito ao
BB, no valor de R$ 66 milhões,
de uma causa contra a União
que já teria transitado em julgado. O banco, no entanto, ainda não recebeu o dinheiro.
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