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iPhone vale mais que soma de iPod e telefone celular
Novo aparelho da Apple, que reúne mais recursos em menos espaço, pode redefinir conceito de telefonia móvel
iPhone faz a fusão, em um mesmo aparelho, de celular, iPod de tela larga e sistema sem fio de acesso à internet dotado de tela de toque
DAVID POGUE
DO "NEW YORK TIMES"
Vocês se lembram da fada
madrinha, em "Cinderela"? Ela
apontava com a varinha de condão e transformava um objeto
caseiro, como uma abóbora ou
um camundongo, em algo glamuroso e estonteante, como
uma carruagem ou um cocheiro em uniforme de gala. É óbvio
que ela mora em um quarto dos
fundos na sede da Apple.
Sempre que Steve Jobs vê alguma máquina imperdoavelmente feia e complexa que está pedindo desesperadamente pelo toque da Apple -como computadores ou tocadores de música-, ele a coloca em ação.
Na semana passada, Jobs
mostrou o mais recente produto dos esforços da fada. Atendeu aos pedidos de milhões de devotos seguidores da Apple, e
de uma multidão de divulgadores de boatos, e transformou o
celular comum no... iPhone.
No momento, o iPhone está
em estágio avançado de protótipo, e fui autorizado a brincar
com um deles por apenas uma
hora. O produto em sua forma
definitiva não estará disponível
nos EUA antes de junho, e na
Europa, até o quarto trimestre.
Por isso, considerem esta coluna como uma previsão, e não
como uma resenha.
Uma coisa fica clara desde o
começo: o nome iPhone talvez
represente um desserviço para
a Apple. Ele está tão repleto de
possibilidades que as suas funções como celular talvez sejam
sua parte menos interessante.
O iPhone representa a fusão
de pelo menos três produtos
em um mesmo aparelho: celular, iPod de tela larga e sistema
sem fio de acesso à internet dotado de tela de toque. Isso ajuda
a explicar o preço: US$ 499 ou
US$ 599 (dependendo da capacidade de armazenamento).
Como se poderia esperar de
um produto Apple, o iPhone é
lindo. O revestimento frontal é
de um preto brilhante, emoldurado por acabamentos em aço
inoxidável polido. A traseira é
de alumínio texturizado, interrompido apenas pela lente de
uma câmera de dois megapixels
e pelo logotipo da Apple. O modelo é um pouco maior e mais
largo que um Palm Treo, mas
muito mais fino.
Não haverá queixas sobre
número excessivo de botões.
Na verdade, ele está muito perto de oferecer botão nenhum. A
frente é dominada por uma tela
de toque operada com o uso direto dos dedos. Os únicos botões são os de volume, ligar e
desligar o alerta sonoro, dormir/acordar. Por sob a tela, há
um botão que leva à home page.
A beleza do iPhone por si já
bastaria para convencer certos
membros do culto ao iPod a
apanharem seus cartões de crédito. Mas o software baseado
no Mac OS X faz do aparelho
não exatamente um celular inteligente, mas sim algo que parece saído do filme "Minority
Report -A Nova Lei".
Como no caso de qualquer
iPod, procurar músicas e álbuns é divertido, mas não há
scroll (barra de rolagem). Em
seu lugar, basta mover seu dedo
sobre a tela e a lista começa a se
movimentar, de acordo com a
velocidade do dedo. Quando ele
se afasta, o movimento da lista
perde lentamente a velocidade
e pára, como que por inércia.
Os mesmos movimentos de
dedo permitem que você procure fotos ou se movimente entre capas de disco como se elas estivessem em uma prateleira
tridimensional.
Assistir a filmes é especialmente agradável. Isso se deve
ao formato da tela e ao seu tamanho bem maior (8,9 centímetros) -bem como à maior definição (160 pixels por polegada), que supera a dos antigos
modelos de iPod.
Também será possível conduzir conversas em programas
de mensagens instantâneas. E,
como qualquer celular inteligente, o iPhone pode ser programado para baixar e-mails de qualquer provedor.
Mas o iPhone não dará fim ao
BlackBerry. A falta de um teclado físico o torna versátil, mas
digitar é tedioso. No lugar de
um teclado, há letras em teclas
virtuais na tela. Elas são pequenas e não é possível posicionar
os dedos pelo tato. Por isso, digitar é lento, especialmente para quem tiver dedos gorduchos.
Felizmente, ninguém precisa
se preocupar muito em digitar
corretamente. Mesmo que você acione a "tecla" errada por
acidente, o software, altamente
inteligente, considera as teclas
adjacentes e corrige os erros de
maneira automática.
A verdadeira mágica, porém,
surge no momento de navegar
pela web. Pode-se ver toda a página na tela do iPhone, ainda
que as letras fiquem pequeninas. Para ampliá-las, basta um
toque duplo sobre qualquer
ponto de tela e "arrastar" a área
ampliada na direção desejada.
Pode-se também usar um recurso novo que a Apple chamou
de "multitoque". O usuário desliza o polegar e o indicador juntos (como um beliscão) ou separados pela tela e, ao fazê-lo, a
página da web diante dele cresce e diminui em tempo real, como se estivesse impressa em
uma folha de látex. O sistema
também trabalha com fotos e é
muito divertido.
Tudo isso vem regado com o
tradicional molho secreto da
Apple: simplicidade, inteligência e fantasia. São esses ingredientes, e não os recursos em si,
que inspiram tamanha luxúria
tecnológica em seus devotos.
Mesmo assim, o iPhone não
será o celular inteligente preferido por todos. O preço pode
afastar alguns. O fato de o iPhone não ser capaz de abrir documentos do Microsoft Office, ao
contrário do Treo, decepcionará outros -ainda que a Apple
diga que o aparelho abre arquivos PDF. E haverá quem tenha
medo de acumular tamanho
patrimônio digital em um só
aparelho, que pode ser perdido,
roubado ou derrubado.
Além disso, o software ainda
não está pronto e muitas questões continuam sem solução.
Será que as canções armazenadas na máquina poderão ser
usadas como ringtones? A câmera poderá gravar vídeos? Pode-se usar o serviço Skype, de
telefonia via internet?
A essa altura, a Apple ainda
não sabe as respostas ou prefere não revelá-las. Mas ela tem
chance de redefinir o que é um
celular. Quantos milhões de
pessoas têm em seus bolsos e
bolsas um celular e um iPod,
neste momento?
Considerando que para muitas pessoas o celular é o mais
pessoal dos aparelhos, quantas
delas aproveitariam a chance
de substituir os complicados
modelos atuais pela aparência e
a elegância de um iPod?
A Apple fez a sua parte: incluiu mais recursos em menos
espaço, e com mais elegância,
do que qualquer fabricante. O
resto cabe à fada madrinha.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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