São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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iPhone vale mais que soma de iPod e telefone celular

Novo aparelho da Apple, que reúne mais recursos em menos espaço, pode redefinir conceito de telefonia móvel

iPhone faz a fusão, em um mesmo aparelho, de celular, iPod de tela larga e sistema sem fio de acesso à internet dotado de tela de toque

DAVID POGUE
DO "NEW YORK TIMES"

Vocês se lembram da fada madrinha, em "Cinderela"? Ela apontava com a varinha de condão e transformava um objeto caseiro, como uma abóbora ou um camundongo, em algo glamuroso e estonteante, como uma carruagem ou um cocheiro em uniforme de gala. É óbvio que ela mora em um quarto dos fundos na sede da Apple.
Sempre que Steve Jobs vê alguma máquina imperdoavelmente feia e complexa que está pedindo desesperadamente pelo toque da Apple -como computadores ou tocadores de música-, ele a coloca em ação.
Na semana passada, Jobs mostrou o mais recente produto dos esforços da fada. Atendeu aos pedidos de milhões de devotos seguidores da Apple, e de uma multidão de divulgadores de boatos, e transformou o celular comum no... iPhone.
No momento, o iPhone está em estágio avançado de protótipo, e fui autorizado a brincar com um deles por apenas uma hora. O produto em sua forma definitiva não estará disponível nos EUA antes de junho, e na Europa, até o quarto trimestre.
Por isso, considerem esta coluna como uma previsão, e não como uma resenha.
Uma coisa fica clara desde o começo: o nome iPhone talvez represente um desserviço para a Apple. Ele está tão repleto de possibilidades que as suas funções como celular talvez sejam sua parte menos interessante.
O iPhone representa a fusão de pelo menos três produtos em um mesmo aparelho: celular, iPod de tela larga e sistema sem fio de acesso à internet dotado de tela de toque. Isso ajuda a explicar o preço: US$ 499 ou US$ 599 (dependendo da capacidade de armazenamento).
Como se poderia esperar de um produto Apple, o iPhone é lindo. O revestimento frontal é de um preto brilhante, emoldurado por acabamentos em aço inoxidável polido. A traseira é de alumínio texturizado, interrompido apenas pela lente de uma câmera de dois megapixels e pelo logotipo da Apple. O modelo é um pouco maior e mais largo que um Palm Treo, mas muito mais fino.
Não haverá queixas sobre número excessivo de botões.
Na verdade, ele está muito perto de oferecer botão nenhum. A frente é dominada por uma tela de toque operada com o uso direto dos dedos. Os únicos botões são os de volume, ligar e desligar o alerta sonoro, dormir/acordar. Por sob a tela, há um botão que leva à home page.
A beleza do iPhone por si já bastaria para convencer certos membros do culto ao iPod a apanharem seus cartões de crédito. Mas o software baseado no Mac OS X faz do aparelho não exatamente um celular inteligente, mas sim algo que parece saído do filme "Minority Report -A Nova Lei".
Como no caso de qualquer iPod, procurar músicas e álbuns é divertido, mas não há scroll (barra de rolagem). Em seu lugar, basta mover seu dedo sobre a tela e a lista começa a se movimentar, de acordo com a velocidade do dedo. Quando ele se afasta, o movimento da lista perde lentamente a velocidade e pára, como que por inércia.
Os mesmos movimentos de dedo permitem que você procure fotos ou se movimente entre capas de disco como se elas estivessem em uma prateleira tridimensional.
Assistir a filmes é especialmente agradável. Isso se deve ao formato da tela e ao seu tamanho bem maior (8,9 centímetros) -bem como à maior definição (160 pixels por polegada), que supera a dos antigos modelos de iPod.
Também será possível conduzir conversas em programas de mensagens instantâneas. E, como qualquer celular inteligente, o iPhone pode ser programado para baixar e-mails de qualquer provedor.
Mas o iPhone não dará fim ao BlackBerry. A falta de um teclado físico o torna versátil, mas digitar é tedioso. No lugar de um teclado, há letras em teclas virtuais na tela. Elas são pequenas e não é possível posicionar os dedos pelo tato. Por isso, digitar é lento, especialmente para quem tiver dedos gorduchos.
Felizmente, ninguém precisa se preocupar muito em digitar corretamente. Mesmo que você acione a "tecla" errada por acidente, o software, altamente inteligente, considera as teclas adjacentes e corrige os erros de maneira automática.
A verdadeira mágica, porém, surge no momento de navegar pela web. Pode-se ver toda a página na tela do iPhone, ainda que as letras fiquem pequeninas. Para ampliá-las, basta um toque duplo sobre qualquer ponto de tela e "arrastar" a área ampliada na direção desejada.
Pode-se também usar um recurso novo que a Apple chamou de "multitoque". O usuário desliza o polegar e o indicador juntos (como um beliscão) ou separados pela tela e, ao fazê-lo, a página da web diante dele cresce e diminui em tempo real, como se estivesse impressa em uma folha de látex. O sistema também trabalha com fotos e é muito divertido.
Tudo isso vem regado com o tradicional molho secreto da Apple: simplicidade, inteligência e fantasia. São esses ingredientes, e não os recursos em si, que inspiram tamanha luxúria tecnológica em seus devotos.
Mesmo assim, o iPhone não será o celular inteligente preferido por todos. O preço pode afastar alguns. O fato de o iPhone não ser capaz de abrir documentos do Microsoft Office, ao contrário do Treo, decepcionará outros -ainda que a Apple diga que o aparelho abre arquivos PDF. E haverá quem tenha medo de acumular tamanho patrimônio digital em um só aparelho, que pode ser perdido, roubado ou derrubado.
Além disso, o software ainda não está pronto e muitas questões continuam sem solução.
Será que as canções armazenadas na máquina poderão ser usadas como ringtones? A câmera poderá gravar vídeos? Pode-se usar o serviço Skype, de telefonia via internet?
A essa altura, a Apple ainda não sabe as respostas ou prefere não revelá-las. Mas ela tem chance de redefinir o que é um celular. Quantos milhões de pessoas têm em seus bolsos e bolsas um celular e um iPod, neste momento?
Considerando que para muitas pessoas o celular é o mais pessoal dos aparelhos, quantas delas aproveitariam a chance de substituir os complicados modelos atuais pela aparência e a elegância de um iPod?
A Apple fez a sua parte: incluiu mais recursos em menos espaço, e com mais elegância, do que qualquer fabricante. O resto cabe à fada madrinha.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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