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Setor financeiro pode precisar de novo socorro, diz Bernanke
Mercado não será estabilizado só com estímulo fiscal, avalia presidente do Fed
Economista retoma ainda proposta de o banco central dos EUA adquirir ativos "tóxicos" para elevar a confiança dos investidores
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Em alerta ao novo Congresso
e ao próximo governo americanos, o presidente do Fed, Ben
Bernanke, afirmou ontem que
só pacotes de estímulo fiscal
não serão suficientes para garantir uma recuperação de longo prazo da economia dos EUA
e disse que novas injeções de
fundos em instituições financeiras poderão ser necessárias
para estabilizar os mercados.
O discurso de Bernanke na
London School of Economics,
em Londres, chega no momento em que a equipe do presidente eleito Barack Obama pressiona o Congresso para aprovar
um pacote de estímulo de até
US$ 800 bilhões, entre cortes
de impostos e investimentos
em infraestrutura.
No mais explícito apoio até
agora aos planos de Obama, o
presidente do Fed afirmou que
o pacote, "se implementado,
poderá proporcionar um estímulo significativo na atividade
econômica". Mas ele acrescentou que "ações fiscais dificilmente promoverão uma recuperação duradoura, a não ser
que sejam acompanhadas por
medidas fortes para estabilizar
e fortalecer ainda mais o sistema financeiro".
Segundo Bernanke, apesar
de o Fed já ter estipulado uma
taxa de juros próxima a 0%,
ainda há diversas armas à disposição do órgão para agir na
economia. Ele defendeu alternativas como comprar ativos
"tóxicos" e oferecer garantias a
títulos privados. Também sugeriu a criação dos chamados
"bancos ruins", que poderiam
coletar ativos "tóxicos" do mercado financeiro em troca de dinheiro ou mesmo ações.
A visão retorna às propostas
originais de Bernanke e do secretário do Tesouro, Henry
Paulson, para a recuperação
econômica, explicitadas em setembro último. Em meados de
outubro, porém, mudaram subitamente de direção e decidiram investir nos bancos.
Bernanke também defendeu
o uso de dinheiro federal para
reduzir o número de imóveis
sendo retomados por bancos
por inadimplência.
Encruzilhada
Boa parte dos analistas continua cética quanto à eficácia das
injeções de dinheiro em instituições financeiras. No último
ano, o governo investiu ou emprestou aproximadamente
US$ 7,2 trilhões -cerca de metade do PIB dos EUA- para
combater a crise financeira,
mas a economia continua a se
desacelerar. Já foi gasta a primeira metade do pacote de US$
700 bilhões aprovado para resgatar Wall Street, e o presidente George W. Bush, instado por
Obama, solicitou ao Congresso
que libere a segunda metade.
Mas há variadas críticas também à abordagem generalista
de Barack Obama. "Ele parece
querer mexer em tudo", disse à
rede CNBC o historiador financeiro Niall Ferguson, da Universidade Harvard. "Os cortes
de impostos, por exemplo, dificilmente terão efeito significativo, pois o dinheiro será guardado, e não investido em consumo. Essa é uma crise de dívida em excesso, e não será sanada por políticas tradicionais."
Bernanke também discutiu a
necessidade de maior supervisão das instituições financeiras, desde que "não limite iniciativas inovadoras". O alvo
principal da regulação, para o
presidente do Fed, deve ser as
empresas consideradas "grandes demais para falir", como as
imobiliárias Fannie Mae e
Freddie Mac ou a superseguradora AIG -que receberam bilhões do governo para evitar a
bancarrota. Para ele, elas devem permitir supervisão mais
profunda sobre o nível de risco
assumido.
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