São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

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Setor financeiro pode precisar de novo socorro, diz Bernanke

Mercado não será estabilizado só com estímulo fiscal, avalia presidente do Fed

Economista retoma ainda proposta de o banco central dos EUA adquirir ativos "tóxicos" para elevar a confiança dos investidores

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Em alerta ao novo Congresso e ao próximo governo americanos, o presidente do Fed, Ben Bernanke, afirmou ontem que só pacotes de estímulo fiscal não serão suficientes para garantir uma recuperação de longo prazo da economia dos EUA e disse que novas injeções de fundos em instituições financeiras poderão ser necessárias para estabilizar os mercados.
O discurso de Bernanke na London School of Economics, em Londres, chega no momento em que a equipe do presidente eleito Barack Obama pressiona o Congresso para aprovar um pacote de estímulo de até US$ 800 bilhões, entre cortes de impostos e investimentos em infraestrutura.
No mais explícito apoio até agora aos planos de Obama, o presidente do Fed afirmou que o pacote, "se implementado, poderá proporcionar um estímulo significativo na atividade econômica". Mas ele acrescentou que "ações fiscais dificilmente promoverão uma recuperação duradoura, a não ser que sejam acompanhadas por medidas fortes para estabilizar e fortalecer ainda mais o sistema financeiro".
Segundo Bernanke, apesar de o Fed já ter estipulado uma taxa de juros próxima a 0%, ainda há diversas armas à disposição do órgão para agir na economia. Ele defendeu alternativas como comprar ativos "tóxicos" e oferecer garantias a títulos privados. Também sugeriu a criação dos chamados "bancos ruins", que poderiam coletar ativos "tóxicos" do mercado financeiro em troca de dinheiro ou mesmo ações.
A visão retorna às propostas originais de Bernanke e do secretário do Tesouro, Henry Paulson, para a recuperação econômica, explicitadas em setembro último. Em meados de outubro, porém, mudaram subitamente de direção e decidiram investir nos bancos.
Bernanke também defendeu o uso de dinheiro federal para reduzir o número de imóveis sendo retomados por bancos por inadimplência.

Encruzilhada
Boa parte dos analistas continua cética quanto à eficácia das injeções de dinheiro em instituições financeiras. No último ano, o governo investiu ou emprestou aproximadamente US$ 7,2 trilhões -cerca de metade do PIB dos EUA- para combater a crise financeira, mas a economia continua a se desacelerar. Já foi gasta a primeira metade do pacote de US$ 700 bilhões aprovado para resgatar Wall Street, e o presidente George W. Bush, instado por Obama, solicitou ao Congresso que libere a segunda metade.
Mas há variadas críticas também à abordagem generalista de Barack Obama. "Ele parece querer mexer em tudo", disse à rede CNBC o historiador financeiro Niall Ferguson, da Universidade Harvard. "Os cortes de impostos, por exemplo, dificilmente terão efeito significativo, pois o dinheiro será guardado, e não investido em consumo. Essa é uma crise de dívida em excesso, e não será sanada por políticas tradicionais."
Bernanke também discutiu a necessidade de maior supervisão das instituições financeiras, desde que "não limite iniciativas inovadoras". O alvo principal da regulação, para o presidente do Fed, deve ser as empresas consideradas "grandes demais para falir", como as imobiliárias Fannie Mae e Freddie Mac ou a superseguradora AIG -que receberam bilhões do governo para evitar a bancarrota. Para ele, elas devem permitir supervisão mais profunda sobre o nível de risco assumido.


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