São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Governo muda política cambial; mercado reage com ceticismo

da Redação

O governo cedeu ontem às intensas pressões do mercado e deu uma guinada na política cambial, permitindo uma desvalorização imediata de 8,26% do real.
Mantida a política anterior -que era o principal pilar de sustentação do Plano Real-, essa desvalorização só seria atingida em mais de um ano.
A principal mudança, anunciada pelo futuro presidente do Banco Central, Francisco Lopes, que substitui o demissionário Gustavo Franco, foi o alargamento da faixa de flutuação do câmbio e a eliminação das chamadas minibandas.
O piso subiu de R$ 1,12 para R$ 1,20 e o teto, de R$ 1,22 para R$ 1,32 (com valorização de 9% da dólar). O governo atuou no mercado, por meio de leilões, empurrando a cotação para o maior patamar.
A primeira reação do mercado foi de pânico, refletido no comportamento da Bolsa de Valores de São Paulo, que caiu mais de 10% em poucos minutos, logo após o pronunciamento de Lopes.
A Bovespa acabou fechando em baixa de 5,04%, depois que o nervosismo inicial dissipou-se em ceticismo generalizado.
A grande dúvida é se a medida será suficiente para contornar a crise ou se o governo será levado a permitir nova desvalorização.
A resposta será dada pela evasão de divisas nos próximos dias. Se for controlada, as chances de sucesso crescem. Ontem, saíram cerca de US$ 1 bilhão até as 20h00 (o mercado funciona até 21h30).
A intranquilidade no Brasil provocou quedas nas principais Bolsas de Valores. Em Nova York, a baixa foi de 1,32%. Na Espanha, a Bolsa de Madri, sensível aos recentes investimentos no Brasil, desvalorizou 6,9%.
O mercado que mais sentiu a mudança no Brasil foi a de Buenos Aires, onde a Bolsa declinou mais de 10%. A desvalorização do real prejudica as exportações argentinas para o Brasil.
A reação dos empresários também foi marcada pelo ceticismo. Acredita-se que a mexida no câmbio poderá ter impacto inflacionário ao pressionar os preços dos produtos importados.
O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse sobre a mudança no Real: "Espero que os problemas sejam resolvidos de maneira satisfatória. Não só para os brasileiros mas para toda a América."



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